AFINAL, EM QUAIS SITUAÇÕES SE JUSTIFICA O USO DO VERBO ROUBAR?
Vivemos num país de dimensões continentais; cheio de contrastes, de culturas diversas, costumes, expressões artísticas, etc. Somos um povo que alimenta fortemente o conceito de esperança, fé, confiança num futuro melhor. “O brasileiro nunca desiste”, enuncia um ditado popular. Mas o brasileiro, em sua maioria, é um povo explorado e sofrido, que tem mil motivos para chorar e mesmo assim sempre encontra razões para sorrir e para festejar. Dentro desse modelo social globalizado, alguns termos que usamos na linguagem do dia a dia, vão sofrendo metamorfoses, alterações sutis, que são absorvidas culturalmente e que vão contribuindo para construir os vocabulários a serem adotados futuramente pelas próximas gerações. Sobre a palavra “ROUBAR”, por exemplo, no Dicionário HOUAISS, constam, entre outras, as seguintes definições: enganar quanto a (qualidade ou quantidade); /adulterar, falsificar assenhorear-se fraudulentamente de (algo);/subtrair apropriar-se de (bem alheio), mediante violência ou ameaça;
O termo “ROUBAR”, portanto, merece um reestudo do seu aspecto semântico e da sua utilização, principalmente por parte dos profissionais que fazem parte do mundo midiático, os quais relutam em aplicar este verbo quando pessoas que transitam no vértice da pirâmide social estão envolvidas em escândalos de ROUBO, por maiores que sejam as evidências e o acervo de provas, substituindo-o, então, por diversas formas de eufemismo.
O verbo ROUBAR acaba usado somente em casos específicos, como se pode ver nos exemplos a seguir: Foi desbaratada pela polícia uma quadrilha de ROUBO de cargas. Um batedor de carteira foi preso e confessou o ROUBO. Um desempregado foi preso e autuado pela autoridade competente porque ROUBOU de um supermercado uma lata de manteiga e uma de leite, que, segundo o próprio, pretendia levar para os filhos famintos. Um ladrão de bicicletas foi flagrado, preso e teve que devolver o produto do ROUBO. Nesses casos o verbo é claramente veiculado, às vezes em letras garrafais. Via de regra só a linguagem popular usa e abusa desse termo, como expressão do sentimento de indignação, seja qual for a classe social ou o poder do autor da “façanha”.
Em outra situação, também corriqueira, mas diferente no uso do verbo pela mídia, as empresas de telecomunicações, que são campeãs de reclamações na sua prestação de serviços, “metem a mão” no bolso do povo sem dó nem piedade e das mais variadas formas: Venda de cartões telefônicos caríssimos e que não funcionam corretamente; telefones públicos defeituosos e sem a devida manutenção; venda de aparelhos celulares que nunca atendem às expectativa do consumidor e que darão retorno de milhões de reais por mês para a empresa; contas com valores irreais e absurdos na cobrança do telefone convencional, serviços de Internet cobrados fora dos valores contratados, etc. Mas quando esse fatos são noticiados na mídia, nenhum meio de comunicação se atreve a escrever ou falar que a empresa ROUBOU, embora centenas de carretas carregadas com as latas do leite, ou da manteiga, ROUBADAS pelo desempregado, não correspondam ao total dos valores subtraídos ilegalmente da população, que acabam se somando aos lucros da empresa, os quais, por si só já são imorais. Tais ROUBOS costumam cinicamente serem justificados pelos representantes das empresas por meio de frases prontas, ou meros chavões: “aumento dos custos de produção e transporte, ocasionado por fatores X e Y, o que acabou sendo repassado para o consumidor” “Variação momentânea dos pulsos nas contas de telefone fixo, ocasionada por falha nos computadores. Já estamos providenciando a correção do sistema”. Tal variação acontece sempre em prejuízo do consumidor e nesse caso, nenhum centavo, jamais, nunca, sob nenhuma hipótese será devolvido.
Vem a público que outra grande empresa lesa a população alterando para menos o peso de um produto, em relação ao especificado na embalagem, e mesmo depois de comprovada a irregularidade não se usa a palavra ROUBO na divulgação da noticia, mas divulgam-se as explicações da empresa, que sempre se justifica: “Houve, de fato, uma variação do peso, ocasionada por um mau funcionamento do processo automático de embalagem, mas já estamos efetuando o ajuste”. Fica por isso mesmo e não existe devolução ou ressarcimento dos lucros auferidos ilegalmente, seja qual for o tempo que a “variação” tenha durado. Os órgãos de defesa do consumidor ainda concedem um prazo para que a empresa possa ajustar o peso ou o volume correto do produto e, caso não o façam, só então estarão passiveis de punição com multa.
Note-se que não foi concedida nenhuma oportunidade, nem qualquer prazo para o desempregado LADRÃO da lata de leite arranjar um emprego. (É claro que nem o desemprego nem a pobreza justificam o ROUBO).
O Prefeito que desvia o dinheiro da Bolsa Família, para esposa e filhos; os sinistros líderes religiosos, (principalmente pastores evangélicos), que amiúde utilizam os dízimos e outras contribuições dos incautos fiéis de sua igreja para enriquecimento próprio e ilícito; os políticos que desviam recursos da área social, destinando-os para as campanhas políticas, ou, em certos casos, para somarem aos seus próprios patrimônios; os impiedosos banqueiros, que a cada ano comemoram lucros estratosféricos, obtidos através da prática de usura, de juros sobre juros, invenção de taxas “fantasmas” para extorquir o dinheiro dos clientes e inúmeros outros expedientes desonestos e tenebrosos; os empresários dos transportes urbanos, que apresentam planilhas de custos forjadas, para satisfazerem a ganância e o velho costume de explorarem a população. Todas essas situações deveriam, sem ferir as normas gramaticais nem o bem senso, serem traduzidas simplesmente pela palavra ROUBO. E por que não?
Ravatsky.
Vivemos num país de dimensões continentais; cheio de contrastes, de culturas diversas, costumes, expressões artísticas, etc. Somos um povo que alimenta fortemente o conceito de esperança, fé, confiança num futuro melhor. “O brasileiro nunca desiste”, enuncia um ditado popular. Mas o brasileiro, em sua maioria, é um povo explorado e sofrido, que tem mil motivos para chorar e mesmo assim sempre encontra razões para sorrir e para festejar. Dentro desse modelo social globalizado, alguns termos que usamos na linguagem do dia a dia, vão sofrendo metamorfoses, alterações sutis, que são absorvidas culturalmente e que vão contribuindo para construir os vocabulários a serem adotados futuramente pelas próximas gerações. Sobre a palavra “ROUBAR”, por exemplo, no Dicionário HOUAISS, constam, entre outras, as seguintes definições: enganar quanto a (qualidade ou quantidade); /adulterar, falsificar assenhorear-se fraudulentamente de (algo);/subtrair apropriar-se de (bem alheio), mediante violência ou ameaça;
O termo “ROUBAR”, portanto, merece um reestudo do seu aspecto semântico e da sua utilização, principalmente por parte dos profissionais que fazem parte do mundo midiático, os quais relutam em aplicar este verbo quando pessoas que transitam no vértice da pirâmide social estão envolvidas em escândalos de ROUBO, por maiores que sejam as evidências e o acervo de provas, substituindo-o, então, por diversas formas de eufemismo.
O verbo ROUBAR acaba usado somente em casos específicos, como se pode ver nos exemplos a seguir: Foi desbaratada pela polícia uma quadrilha de ROUBO de cargas. Um batedor de carteira foi preso e confessou o ROUBO. Um desempregado foi preso e autuado pela autoridade competente porque ROUBOU de um supermercado uma lata de manteiga e uma de leite, que, segundo o próprio, pretendia levar para os filhos famintos. Um ladrão de bicicletas foi flagrado, preso e teve que devolver o produto do ROUBO. Nesses casos o verbo é claramente veiculado, às vezes em letras garrafais. Via de regra só a linguagem popular usa e abusa desse termo, como expressão do sentimento de indignação, seja qual for a classe social ou o poder do autor da “façanha”.
Em outra situação, também corriqueira, mas diferente no uso do verbo pela mídia, as empresas de telecomunicações, que são campeãs de reclamações na sua prestação de serviços, “metem a mão” no bolso do povo sem dó nem piedade e das mais variadas formas: Venda de cartões telefônicos caríssimos e que não funcionam corretamente; telefones públicos defeituosos e sem a devida manutenção; venda de aparelhos celulares que nunca atendem às expectativa do consumidor e que darão retorno de milhões de reais por mês para a empresa; contas com valores irreais e absurdos na cobrança do telefone convencional, serviços de Internet cobrados fora dos valores contratados, etc. Mas quando esse fatos são noticiados na mídia, nenhum meio de comunicação se atreve a escrever ou falar que a empresa ROUBOU, embora centenas de carretas carregadas com as latas do leite, ou da manteiga, ROUBADAS pelo desempregado, não correspondam ao total dos valores subtraídos ilegalmente da população, que acabam se somando aos lucros da empresa, os quais, por si só já são imorais. Tais ROUBOS costumam cinicamente serem justificados pelos representantes das empresas por meio de frases prontas, ou meros chavões: “aumento dos custos de produção e transporte, ocasionado por fatores X e Y, o que acabou sendo repassado para o consumidor” “Variação momentânea dos pulsos nas contas de telefone fixo, ocasionada por falha nos computadores. Já estamos providenciando a correção do sistema”. Tal variação acontece sempre em prejuízo do consumidor e nesse caso, nenhum centavo, jamais, nunca, sob nenhuma hipótese será devolvido.
Vem a público que outra grande empresa lesa a população alterando para menos o peso de um produto, em relação ao especificado na embalagem, e mesmo depois de comprovada a irregularidade não se usa a palavra ROUBO na divulgação da noticia, mas divulgam-se as explicações da empresa, que sempre se justifica: “Houve, de fato, uma variação do peso, ocasionada por um mau funcionamento do processo automático de embalagem, mas já estamos efetuando o ajuste”. Fica por isso mesmo e não existe devolução ou ressarcimento dos lucros auferidos ilegalmente, seja qual for o tempo que a “variação” tenha durado. Os órgãos de defesa do consumidor ainda concedem um prazo para que a empresa possa ajustar o peso ou o volume correto do produto e, caso não o façam, só então estarão passiveis de punição com multa.
Note-se que não foi concedida nenhuma oportunidade, nem qualquer prazo para o desempregado LADRÃO da lata de leite arranjar um emprego. (É claro que nem o desemprego nem a pobreza justificam o ROUBO).
O Prefeito que desvia o dinheiro da Bolsa Família, para esposa e filhos; os sinistros líderes religiosos, (principalmente pastores evangélicos), que amiúde utilizam os dízimos e outras contribuições dos incautos fiéis de sua igreja para enriquecimento próprio e ilícito; os políticos que desviam recursos da área social, destinando-os para as campanhas políticas, ou, em certos casos, para somarem aos seus próprios patrimônios; os impiedosos banqueiros, que a cada ano comemoram lucros estratosféricos, obtidos através da prática de usura, de juros sobre juros, invenção de taxas “fantasmas” para extorquir o dinheiro dos clientes e inúmeros outros expedientes desonestos e tenebrosos; os empresários dos transportes urbanos, que apresentam planilhas de custos forjadas, para satisfazerem a ganância e o velho costume de explorarem a população. Todas essas situações deveriam, sem ferir as normas gramaticais nem o bem senso, serem traduzidas simplesmente pela palavra ROUBO. E por que não?
Ravatsky.