BIENAL DO LIVRO – NUNCA MAIS

(Artigo de Pedro Galuchi)

Vamos deixar claro: sou visceralmente contrário a expor qualquer convidado ao pagamento de taxas, couverts, bebidas, etc.

Jurei, há umas três bienais que não voltaria mais devido ao excesso de pessoas. Este ano estão prevendo 800 mil.

80 mil por dia. Meio Maracanã.

Porque cobrar ingresso?

R$ 10,00 por cabeça (per capita, para evitar cacofonia) são R$ 8 milhões de reais.

Bela grana. “Gud larjante”.

Argumentarão: a cada R$ 10,00 de consumo você recebe R$ 1,00 de desconto.

Gastando R$ 100,00 o ingresso estará pago.

Ora, esse valor já está embutido. Tudo é bancado pela publicidade, pelas editoras e pela consignação (que chega a 70%) da venda dos livros.

O livro que já é muito caro, tem seu custo aumentado.

Qual a diferença do big feirão do Anhembi de uma barraquinha de rua com livros usados ou da Feira do Livro de Porto Alegre (15 dias à céu aberto)?

Mas como o castigo vem a cavalo, o peixe morre pela boca, boca fechada não entra mosquito.

Dito e feito.

Lancei dois livros e a editora ofereceu-me espaço em seu stand na Bienal do Livro para “autografar”.

Aliás, estou tentando instalar minha mesa ao lado da mesa do Ziraldo, que também estará autografando e convidei o Paulinho para ajudar na divulgação. Só não sei se convidei o Paulinho certo.

Conferi a lista de horários e constatei que meu nome não consta da lista de autores.

Mas não será tão difícil me achar...

Procurem onde não houver fila. Sou avesso a elas. Traduzindo aos patrícios lusitanos, não procurem em rabo de bichas.

Aumentando minha insatisfação.

Consultei a organização sobre convites, credenciais, essas coisas para mim e familiares.

Só o autor terá acesso livre e deverá se identificar à entrada. Os demais pagam.

Mais fila...

Uma grande falta de gentileza, para não dizer ganância.

Embora sem renome, estarei levando algumas pessoas ao evento e expondo-os a um consumo injusto, pois poderiam comprar o meu livro diretamente.

Já defini que irei só. Nem minha mulher irá.

Para começar a encerrar: O mercantilismo realmente atrapalha a cultura.

Lembro-me de Farenheit 451, onde se fazia a transmissão oral para se preservar a literatura e o conhecimento do povo e comparo.

Tenho de me referir e aplaudir Agnaldo Timóteo e Lobão que vendem seus discos no mercado informal, em bancas de jornal, parando carros na rua.

Lembro do “maldito” e genial Plínio Marcos vendendo seus livros à porta de teatros da Bela Vista (Bixiga).

E a tantos outros que vendem solitariamente o produto de sua inteligência.

Reforça-me a idéia de sair vendendo espetinhos de camarão pela praia e a cada dez espetinhos dar um livro.

Matarei a fome física e a intelectual da população.

Alerta final: quem iria a Bienal exclusivamente para me incentivar, pode deixar para o lançamento pessoal.

Não pagará ingresso, não receberá pisões nos pés e se chegar cedo terá lugar para sentar. E ainda poderá declamar suas poesias.

Não vou jurar para não pagar a boca, mas acho que Bienal do Livro, definitivamente, será a última.

Plagiando Chico Buarque mais uma vez: Salvem o escritor popular!

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Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 09/08/2008
Reeditado em 09/08/2008
Código do texto: T1120198
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