Mundos ficcionais

“ O princípio da confiança é tão importante quanto o princípio da verdade " Umberto Eco

Ontem, em companhia de uma amiga, fui ao cinema. Do filme nada sabíamos, coisa nada comum, digamos termos sido hipnotizadas pela fila indiana que formava um caracol diante da bilheteria.

Após trinta minutos de filme, a impressão que tive era de que toda minha vida havia sido revirada. Pequenos recortes, flash, reencontro da alma, corpo e sentimentos. A razão veio-me após o filme, quando perguntei a amiga quanto tempo ter durado a fita, dada a impressão de completude e insaciabilidade instauradas.

Algo que nos fez passar boas horas a comentar sobre o fazer da sétima arte, ampliando a temática para a literatura, focalizando determinados contos, romances, que de certa forma, também nos levam a um esvaziamento do ser, permitindo flutuar entre os distintos universos da ficção e realidade.

Universos esses que nos remete à escrita, ao fato das palavras adquirirem máscaras, possuindo sentido duplo, tornando-se tantas vezes esfinge, sendo necessário desconstruir valores, regras, estilos pré-concebidos, para que se possa decifrar, alcançar seu verdadeiro sentido.

Na verdade, desde cedo somos “introduzidos” no mundo da leitura e, certo é que, bem poucos livros, textos ficaram registrados em nossas mentes, tatuados na alma. E se realizada uma pesquisa, veremos serem responsáveis por grande parte das transformações, obras em que a linguagem não nos era tão fácil, em que a leitura exigia , além do nosso conhecimentos prévio, fazendo-nos perceber serem as coisas pertencentes ao mundo ficcional tão traiçoeiras quanto as do mundo real.

Do filme, não me recordo mais de muitas cenas, mas dos sentimentos suscitados, tal como ocorrido após algumas leituras realizadas no decorrer da vida à dentro, esses, em diversos momentos foram reconstruídos e descontruídos, pela possibilidade de trilhar no imenso universo da imaginação e realidade.

Cinema, Literatura, expressões que nos levam a refletir no fazer poético e literário de diretores cinematográficos e escritores clássicos, modernos, contemporâneos, que tão bem trabalharam, trabalham as palavras, as imagens, fazendo-nos refletir nos diferentes usos da linguagem, nas possibilidades do ilógico ante ao senso comum, na quebra da racionalidade, nas palavras tecidas, mostrando tantas vezes ser necessário transgredir, fugir, para alcançar o pleno.