Comportamento dos stakeholders e dimensão do capital social no projeto de Responsabilidade Social Empresarial “Vidraceiro Amigo do Meio Ambiente”

Comportamento dos stakeholders e dimensão do capital social no projeto de Responsabilidade Social Empresarial “Vidraceiro Amigo do Meio Ambiente”

Autoria: Liana Marinho e Regina Farias

Resumo

Entre os grandes temas atuais que influenciam no comportamento das organizações se destacam a ética empresarial e a responsabilidade social e ambiental. A compreensão sobre os principais aspectos econômicos, sociais e ambientais que induzem as organizações a incorporarem discursos e atitudes socialmente responsáveis tem sido um desafio a estudantes e administradores e uma necessidade para a sobrevivência das empresas - seja pela seleção natural feita pelos clientes, seja pela escassez das matérias-prima, ou desafio para redução dos custos. Dimensionar e avaliar atitudes éticas torna-se difícil pela intangibilidade do objeto de estudo, mas alguns indicadores já foram sugeridos . Este trabalho procura analisar, nos moldes dos Indicadores Ethos, o Projeto da Marglass em execução em Fortaleza-CE, ”Vidraceiro Amigo do Meio Ambiente” pela percepção de alguns dos stakeholders , bem como utilizar os indicadores para avaliação de programas de Responsabilidade Social Empresarial sugeridos por Macke e Carrion . Foi efetuada uma pesquisa qualitativa e quantitativa através de um estudo de caso em um projeto de recolhimento de resíduos de vidro plano e será investigado o comportamento e envolvimento dos participantes e dimensionado através dos indicadores supra citados.

Among the great current subjects that influence in the behavior of the organizations if they detach the enterprise ethics and the social and ambient responsibility. The understanding on the main economic, social and ambient aspects that induce the organizations to incorporate socially responsible speeches and attitudes has been a challenge the students and administrators and a necessity for the survival of the companies - either for the natural election made by the customers, either by the scarcity of the raw material, or challenge for reduction of the costs. To measure and to evaluate ethical attitudes becomes difficult for the intangible of the study object, but some pointers already had been suggested. This work looks for to analyze, in the molds of the Pointers Ethos, the Project of the Marglass in execution in Fortaleza-CE, "Glassworker Friend of the Environment" for the perception of some of stakeholders, as well as using the pointers for evaluation of programs of Enterprise Social Responsibility suggested by Macke and Carrion. A qualitative and quantitative research through a study of case in a project of collect of plain glass residues was effected and will be investigated the behavior and envolvement of the participants and measuring ethrough the pointers supplies cited.

1.INTRODUÇÃO

Explicar o comportamento das organizações no novo ambiente que elas estão inseridas, onde se discute a gestão baseada em valores não somente econômicos, mas também sociais e ambientais, é um desafio. Esse comportamento envolve temas atuais como a Ética Empresarial e a Responsabilidade Social Empresarial.

Dimensionar, avaliar e analisar programas e projetos resultantes de gestões de RSE torna-se uma tarefa complicada pela intangibilidade do objeto de estudo. No entanto, alguns indicadores já foram sugeridos por institutos especializados e outros autores . Serão utilizados neste estudo do projeto da Marglass, “Vidraceiro Amigo do Meio Ambiente”, os modelos sugeridos por Macke e Carrion no artigo “Indicadores e Metodologia para a Avaliação de Programas de Responsabilidade Social Empresarial: Foco no Desenvolvimento Local” e os indicadores de RSE utilizados pelo Instituto Ethos.

Tem-se como objetivo:

• Apresentar algumas alternativas existentes para a gestão empresarial no destino dado aos resíduos sólidos do tipo vidro plano;

• Testar se os indicadores sugeridos por Macke e Carrion se adaptam ao Projeto ;

• Mostrar como alguns dos stakeholders (clientes, administradores e empregados) visualizam esse Projeto;

• Sensibilizar e motivar os leitores (agentes de mudança) a valorizarem o comportamento e projetos de organizações que adotam a Responsabilidade Social Empresarial .

O problema a ser estudado é qual a visão dos stakeholders- clientes, empregados e administradores - quanto a participação e ou criação do “Projeto Vidraceiro Amigo do Meio Ambiente”, bem como, se os indicadores sugeridos por Macke e Carrion podem ser utilizados para avaliação deste projeto.

Tem-se como hipótese que, para a maioria dos stakeholders, as empresas adotam a Responsabilidade Social Empresarial desde que haja um retorno financeiro ou redução de despesas e custos além do retorno social e não fazem avaliação dos projetos pela dificuldade de mensuração ou ausência de informações para cálculo dos indicadores.

A metodologia empregada será um estudo de caso feito no projeto executado pela MARGLASS – Vidraçaria Marinho, aqui denominada empresa piloto. Participam desse projeto, além da matriz e filiais no Ceará da empresa piloto, outras dez vidraçarias denominadas de satélites e cerca de 50 vidraçarias menores denominadas cometas. O universo desta pesquisa envolve a empresa piloto e as vidraçarias satélites. A amostra é do tipo probabilística, escolhida aleatoriamente e atingiu 42,85% do universo. Optou-se por uma pesquisa documental e bibliográfica, sendo utilizado também a observação através de entrevista estruturada.

Utilizou-se como ferramenta os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial para a realização de diagnóstico dos processos de incorporação de políticas e práticas de RSE no projeto usando como variáveis os temas: Valores, Público Interno, Meio Ambiente, Consumidores e Clientes.

Os dados quantitativos foram utilizados para o cálculo dos indicadores sugeridos no artigo “Indicadores e Metodologia para a Avaliação de Programas de Responsabilidade Social Empresarial: Foco no Desenvolvimento Local” de autoria de Janaina Macke e Rosinha Machado Carrion, apresentado no Enampad 2006. Elas fazem uma proposta para dimensão e avaliação do capital social de forma relacional, estrutural e cognitivo, sugerindo alguns indicadores, como medir e a possibilidade de comparação.

2. REFERENCIAL TEÓRICO.

O novo ambiente em que as organizações estão inseridas exige, seja por pressão dos clientes, seja por escassez de recursos financeiros e/ou naturais, que as empresas tomem uma postura ética diante da sociedade. Essa postura se dá através da adoção de uma gestão chamada Responsabilidade Social Empresarial e uma forma de dimensioná-la e avaliá-la.

Muitas das ações praticadas pelas empresas que adotam a RSE devem-se ao aproveitamento dos recursos que de forma isolada parecem irrelevante, mas juntando-se o irrelevante de cada organização obtêm-se algo representativo de economia para as empresas, para a sociedade e para o meio-ambiente.

Refere-se esse estudo a um projeto de aproveitamento de resíduos sólidos que de uma forma simples e solidária permite, com a união de algumas empresas de porte diferentes mas do mesmo ramo, uma grande economia de recursos . A trama teórica baseia-se em um comportamento ético na gestão de um setor adotando a Responsabilidade Social Empresarial em uma questão ambiental.

2.1 Responsabilidade Social Empresarial e Ética Empresarial

A RSE pode ser conceituada como uma maneira de gerir as empresas olhando para os problemas que aflingem a sociedade e o meio que a cerca.

Costa e Carvalho (2005) disseram haver “ fortes indicativos de que a construção discursiva da RSE vem se configurando como fundamental para o processo de legitimação do papel social do empresário”.

No entanto a Responsabilidade Social Empresarial é um valor organizacional ainda em evolução que enfrenta paradigmas de que as empresas visam lucro e não a caridade e que se fazem o Balanço Social é por puro marketing.

O diretor-executivo do Instituto Ethos ao se referir ao papel das micro e pequenas empresas em ações sociais disse:

Em primeiro lugar, é preciso ter bem claro que RSE é uma maneira de gerir o negócio. A ética é um elemento fundamental. As empresas geridas de forma socialmente responsável têm uma gestão ética na concorrência, em seus contratos de prestação de serviços, uma relação baseada em valores com clientes, fornecedores, funcionários etc. Sob esse ponto de vista, as micro e pequenas empresas podem contribuir da mesma forma que qualquer outra empresa. Outro aspecto é que a empresa pode investir em projetos sociais e ser agente de projetos que beneficiem a comunidade em parceria com grandes companhias e mesmo com organizações não-governamentais. (ITACARAMBI,2006)

Ética Empresarial é um comportamento, uma postura que serve de lavanca para o sucesso das empresas. Ponchirolli e Lima(2002) ressaltaram a importância dela no processo de sobrevivência e expansão dos negócios desde a “contemporaneidade” até o “novo ambiente” e explanaram como ela pode ser considerada um fator de produção.

Quanto a ética empresarial dispuseram Lipovetski e Srour(1994,2000 apud Ponchirolli ; Lima, 2002) “é um excelente negócio, é fundamental delimitar as noções de ética empresarial a partir de questões práticas; de atos e não simplesmente de discursos bem intencionados dos líderes”.

A delimitação não se restringe às noções de ética empresarial dentro de uma única empresa, ela pode se extender a um setor em desenvolvimento.

Para Ficher(2002 apud Macke; Carrion, 2006) o desenvolvimento poderá ter uma orientação: para competição; e, para a cooperação e solidariedade.

Yogele, Novick e Marin (2001 apud Macke;Carrion, 2006) ressaltam que os agentes não agem de forma isolada e que juntos há uma possibilidade dos agentes construirem e transformarem a estrutura do mercado em que operam através de suas condutas e estratégias .

Já Lustosa (2002 apud Macke;Carrion, 2006) indica como característica para o aproveitamento racional e sustentável dos recursos de uma comunidade :o empreendedorismo; o apoio às formas de organização e de fortalecimento da sociedade civil; e, melhor articulação das políticas públicas com os eixos e potenciais de desenvolvimento identificados.

É importante identificar em uma ação conjunta qual a dimensão do resultado. Essa dimensão a priori é a do grupo, do projeto, da ação conjunta, no entanto sabe-se que cada membro pode visualizar uma dimensão diferente devido a seus próprios valores. Ressalta-se o novo paradigma de desenvolvimento humano que apóiam resultados em quatro dimensões:

(i)dimensão econômica – resultante de ações tais como: capacidade de articular fatores produtivos endógenos, para gerar oportunidade de trabalho e renda, fortalecimento das cadeias produtivas locais e integração de redes de pequenas empresas; (ii) dimensão sócio-cultural Nesta visão, o desenvolvimento local pressupõe um novo paradigma de desenvolvimento – busca de maior equidade social, através da maior participação do cidadão nas estruturas de poder; (iii) dimensão político-instituicional – construção de políticas negociadas entre governo, mercado e sociedade civil, favorecendo as

transformações da economia e o resgate da cidadania; e finalmente (iv) dimensão ambiental – onde o meio ambiente é visto como um ativo do desenvolvimento, partindo do princípio da sustentabilbilidade ambiental (SILVEIRA; BOCAYUVA; ZAPATA ,2001 apud MACKE;CARRION, 2006).

O autor do livro “’Etica no trabalho:Tomando Decisões Difíceis no Mundo Competitivo dos Negócios”, apontado pelo USA TODAY como uma boa notícia para aqueles que se perguntam se a ética e a moralidade desapareceram das corporações por sugerir maneiras de criar uma consciência ética organizacional, reforça que:

Em relação a ética a intenção leva a suposição de que, para serem éticos, os gerentes simplesmente devem ser talhados a querer assim.A intenção, contudo, é somente um gatilho para a ação. A implementação da ação requer um outro ingrediente-capacidade-ou seja, a habilidade de levar a cabo uma intenção.(TOFFLER,1993,XXIV).

O mesmo autor explica também em relação a responsabilidade causal que:

A noção básica de responsabilidade causal é simples:se alguém causou um dano ou problema, tem a responsabilidade(ética) de corrigir ou tentar corrigir a situação.[...] Apesar de parecer de fácil compreensão, as experiências de pessoas que trabalham em todos os tipos de organizações escondem esta realidade. A causalidade muitas vezes não é clara.(TOFFLER,1993,p.23).

Independente da causa que leve à uma ação, uma vez executada ela deverá ser acompanhada e avaliada. Para tanto, é importante que sejam escolhidos indicadores, e se possível, na fase de planejamento de um projeto. Os indicadores quantitativos são mais usados.

Mackie e Carrion estudaram indicadores e metodologia para dimensionar o capital social em programas de RSE que proporcionam desenvolvimento local. Elas basearam-se no estudo de Nahapiet e Ghoshal (1998) que classifica o capital social nas dimensões:estrutural, relacional e cognitivo.

A dimensão estrutural mostra a estrutura da rede; a dimensão relacional, o comportamento e laços de confiança; e a dimensão cognitiva, mostra a visão compartilhada.

Os indicadores quantitativos sugeridos por Macke e Carrion para dimensão do capital social estão resumidos no seguinte quadro:

Diante do exposto pelos autores acima, tenta-se identificar qual a dimensão visualizada por alguns stakeholders da MARGLASS- seus clientes, empregados e administradores- pela gestão no projeto supra citado que reflete a Responsabilidade Social Empresarial. Esta empresa, a priori, além da intenção e capacidade, teve também a iniciativa devido a uma relação causal por fornecer vidros às vidraçarias locais, mostrando um desenvolvimento no setor vidreiro voltado a cooperação e a solidariedade.

2.2 Gestão dos Resíduos

Como o projeto estudado é destinado a gestão de resíduos , preocupou-se em apresentar a terminologia adotada por orgãos ambientais.

A resolução n.º 307, de 05 de julho de 2002, da CONAMMA- Conselho Nacional do Meio Ambiente adota as seguintes definições:

GERADORES: são pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas responsáveis por atividades ou empreendimentos que gerem os resíduos sólidos;

TRANSPORTADORES: são as pessoas físicas ou jurídicas, encarregadas da coleta e do transporte dos resíduos entre as fontes geradoras e as áreas de destinação;

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS: é o sistema de gestão que visa reduzir, reutilizar, reciclar resíduos, incluindo planejamento, responsabilidades, práticas, procedimentos e recursos para desenvolver e implementar as ações necessárias ao cumprimento das etapas previstas em programas e planos;

REUTILIZAR: é o processo de reaplicação de um resíduo, sem transformação do mesmo.

RECICLAGEM: é o processo de reaproveitamento de um resíduo, após ter sido submetido à transformação;

BENEFICIAMENTO: é o ato de submeter um resíduo à operações e/ou processos que tenham por objetivo dotá-los de condições que permitam que sejam utilizados como matéria-prima ou produto;

ÁREAS DE DESTINAÇÃO DE RESÍDUOS: São áreas destinadas ao beneficiamento ou à disposição final de resíduos;

Os resíduos podem ser classificados em:

I - CLASSE A: são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como:

a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de infra-estrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem;

b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes cerâmicos, tijolos, blocos, telhas, placas de revestimentos etc; argamassa de concreto;

c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos, meios-fios etc) produzidos nos canteiros de obras;

II – CLASSE B- são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como: plástico, papel/papelão; metais, vidros, madeiras e outros;

III- CLASSSE C – são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem ou recuperação, tais como os produtos oriundos do gesso.

Em relação a utilização do vidro nas vidraçarias foi observado que pode-se considerar três estágios:

• Primeiro estágio: chapa, que poderá ser comercializada inteira ou cortada para confecção de fachadas, tampos, box e outros produtos;

• Segundo estágio: sub-produto das chapas, que são utilizados para peças menores, geralmente artesanatos;

• Terceiro estágio: sucata, que são pequenos pedaços ou estilhaços não úteis as vidraçarias.

A ABIVIDRO, instituição que incentiva à coleta seletiva de vidros no sul do Brasil, é autora de vários programas como por exemplo “Minha cidade é 100%”, “Seja um parceiro 100%”,e aponta como benefícios desses projetos: para o meio ambiente, gerar menos lixo nos aterros sanitários das cidades e diminuir a extração de matéria prima da natureza; para a população, por gerar empregos às famílias carentes na coleta e catação do vidro e no artesanato; para os municípios, na diminuição do custos da coleta com destinação de lixo para reciclagem e economia ao aumentar a vida útil dos aterros sanitários. No entanto são projetos voltados a bares, restaurantes e a própria população para recolhimentos de embalagens de vidro.

O vidro no segundo estágio poderá ser objeto de reutilização pelas vidraçarias, gerando inclusive novos empregos; no entanto, o no terceiro estágio vai literalmente, na maioria das vidraçarias, para o lixo. No setor de construção civil vários são os estudos na tentativa de usar a sucata de vidro como agregado.

A revista especializada no setor vidreiro chamada “O Vidraceiro” divulga reportagens sobre estudos como: o de Carrer(2004,p.69), estudante do Senai de São Bernardo do Campo-SP, que junto com seu professor conseguiu integrar o vidro à argila para ser usado na fabricação de telhas e tijolos; e sobre o “glasphalt”, asfalto de vidro que contém até 10% do agregado formado por sucata de vidro, já utilizado em algumas cidades americanas(2005,p.28).No entanto, a sucata de vidro proveniente das vidraçaria é de difícil manuseio e transporte o que elimina a ação de pessoas não preparadas tecnicamente.

3.METODOLOGIA

Foi feito um estudo de caso no Projeto “Vidraceiro Amigo do Meio Ambiente”,, executado pela MARGLASS – Vidraçaria Marinho, empresa piloto. Participam desse projeto, além da matriz e filiais no Ceará da empresa piloto, outras dez vidraçarias denominadas de satélites, e cerca de 50 vidraçarias menores denominadas cometas. O universo desta pesquisa envolve a empresa piloto e as vidraçarias satélites por serem responsáveis pelo maior volume de sucata de vidro plano e serem contempladas com a coleta. A amostra é do tipo probabilística, escolhida aleatoriamente de um total de 14 vidraçarias ( Marglass-matriz, como piloto e mais 10 vidraçarias-clientes e 3 vidraçarias-filiais da Marglass, como satélites). A entrevista se deu em duas fases: na primeira, entrevistou-se o executivo idealizador do projeto; na segunda, foram efetuadas entrevistas envolvendo tanto proprietários, como empregados e clientes das empresas que participam. O objetivo das duas fases foi checar se os stakeholders selececionados pela pesquisa incorporaram a “filosofia” do projeto. As perguntas foram pré-estabelecidas e totalizaram 20, ficando assim distribuídas: 11 para respostas sim/não, podendo justificar as respostas; 6 de múltipla escolha sendo uma com grau de prioridade;e, 4 abertas. As entrevistas foram feitas em 6 vidraçarias , sendo uma a piloto e 5 das satélites, perfazendo um percentual de 42,85% do universo.

Na análise dos dados foram utilizados métodos qualitativos e quantitativos. Como qualilativo foi utilizado a análise de conteúdo para as questões de variáveis binárias, (sim/não) com justificativas e as com grau de prioridade. Como quantitativo foram utilizados a média, a moda para as questões abertas .

Utilizou-se como ferramenta Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial para a realização de diagnóstico dos processos de incorporação dos objetivos e práticas de RSE do projeto. Os indicadores Ethos de RSE desde 2000 vêm sendo utilizados e se destacando como uma ferramenta de gestão para mobilizar, os colaboradores internos e demais públicos para a internalização da RSE nos cotidianos de trabalhos da empresa. Incorporaram as inovações que o movimento da RSE gera , alinhando-se com as principais ferramentas internacionais, através de uma atualização anual. Esses Indicadores englobam os temas: Valores, Transparência e Governança, Público Interno, Meio Ambiente, Fornecedores, Consumidores e Clientes, Comunidade e Governo e Sociedade. Explorou-se: os Valores, Público Interno, Meio Ambiente e Consumidores e Clientes.

Os dados quantitativos foram utilizados para o cálculo dos indicadores sugeridos no artigo “Indicadores e Metodologia para a Avaliação de Programas de Responsabilidade Social Empresarial: Foco no Desenvolvimento Local” de autoria de Janaina Macke e Rosinha Machado Carrion, apresentado no Enampad 2006. Elas fazem uma proposta para dimensão e avaliação do capital social de forma relacional, estrutural e cognitivo,sugerindo alguns indicadores, como medir e a possibilidade de comparação. Nas questões abertas foram investigados número de pessoas , tempo utilizado para execução de tarefas do projeto, quantidade de sucata recolhida para utilização nos indicadores .

4. ESTUDO DE CASO

4.1 O Projeto “Vidraceiro Amigo do Meio Ambiente”

O Projeto “Vidraceiro Amigo do Meio Ambiente”, está funcionando no Ceará, executado pela MARGLASS – Vidraçaria Marinho, empresa piloto. Esta empresa atua no setor vidreiro como distribuidora para outras vidraçarias no norte e nordeste do Brasil, e também no setor de construção civil. Também industrializa, fazendo os serviços como têmpera, laminação e outros beneficiamentos. Tem cerca de 500 empregados e assumiu uma postura de pioneira ao longo dos quase quarenta anos de sua existência. É responsável pelo maior volume de compras em toneladas/vidro do Norte e Nordeste.

Participam desse projeto, além da matriz que fica no Eusébio e três filiais que ficam em Fortaleza dessa empresa, outras vidraçarias (satélites e cometas) que são clientes da empresa piloto, entre elas Tempervidros e Shopping do Vidro. Assim, o projeto envolve atualmente de 64 vidraçarias (1 piloto e 13 satélites) e 50 vidraçarias cometas. Existe a intenção de levar esse projeto para mais três estados onde a empresa piloto tem filiais, o Rio Grande do Norte, Maranhão e Pará.

O projeto surgiu da percepção de um dos gestores da empresa piloto devido a responsabilidade causal e da dificuldade de dar um destino a tanto vidro no terceiro estágio, a sucata de vidro plano. Grande é a dificuldade de armazenamento, remoção, coleta, transporte e destino à sucata de vidro plano. Anteriormente a empresa já havia resolvido o problema do vidro no segundo estágio com a criação de uma microempresa voltada ao designer chamada Cristal Decor. Esta gera além dos empregos diretos, muito empregos indiretos com a confecção de peças de decoração como porta-retratos, vasos, crucifixos e outras peças artesanais.

Começaram a procurar por fornecedores que se interessassem pela sucata, não fazia sentido toneladas de vidros irem para os aterros. Como opção apareceu um fabricante de tinta fosforescente, que não conseguia consumir um volume tão grande de sucata. Também podia ser utilizado como aterro já que o vidro apesar de ter longa duração para se decompor na natureza( apontado de 4000 anos a prazo indeterminado) , é também pouco poluente por não se misturar. No setor de construção civil vários são os estudos na tentativa de usar a sucata de vidro como agregado, mas nada fabricado em grande escala.

Contou o empresário da MARGLASS que contactou alguns fornecedores e apenas um vinha reciclando, a Guardian do Brasil. Ela adota a RSE , vem utilizando a sucata de vidro para fabricação de novas chapas e não utiliza toda a capacidade pela falta de sucata selecionada, pois não pode haver mistura de cores para a fabricação do vidro incolor. Isto dificultava, inibia e desestimulava o aproveitamento da sucata de vidro.

O crescimento de ações no setor de resíduos sólidos se dá em paralelo a ausência de normas mais específicas a cada tipo de material, existindo ainda pouca presença do Estado nesse assunto. Isso dá margem à inovação que através da participação social, aliada a necessidade de dar destino aos resíduos sólidos do setor vidreiro, no caso sucatas de vidros planos, serviram como ingredientes para o surgimento do projeto “Vidraceiro Amigo do Meio Ambiente”.

O projeto consiste na distribuição gratuita de tambores às vidraçarias para armazenamento dos resíduos vidro plano e na coleta semanal desses tambores nas vidraçarias satélites efetuado pela empresa piloto. A coleta é feita somente nas empresas satélites por produzirem um volume maior de sucata. As empresas cometas levam os tambores para os pontos de coleta (nas filiais da Marglass). A empresa piloto após recolher e armazenar essa sucata juntamente com a acumulada por ela mesma, transporta para ser reciclado no fornecedor parceiro.

A MARGLASS faz o gerenciamento de resíduos pois além do planejamento, se responsabilizou pelas práticas, procedimentos e recursos para desenvolver e implementar as ações necessárias ao cumprimento das etapas previstas no programa . Ela é a geradora e transportadora dos resíduos sólidos classificados como classe B, no caso cacos de vidros planos, também denominados “float” pelo setor vidreiro.

Por fazer esse gerenciamento foi denominada de piloto: ela recolhe nas vidraçarias menores, semanalmente mediante uma rota pré-estabelecida, a sucata de vidro plano separada por cor incolor e fume aposta em tambores gratuitamente fornecidos por ela, armazena essa sucata em caixões maiores(estes, enviados pelo fornecedor) e as transporta na sua própria frota para o sul do país, no caso a Guardian do Brasil, que irá fazer a reciclagem, Vale salientar que por enquanto somente esse fornecedor faz a reciclagem da sucata de vidro plano.

Para adesão das vidraçarias a empresa piloto enviou um comunicado onde foi exposto a visão, objetivo, e vantagens do projeto. Neste comunicado da Marglass(2006) a visão consta como ”eliminar um dos graves problemas relacionados com o descarte do resíduo sólido atualmente vivenciados pelas empresas que trabalham com beneficiamento do vidro” ; o objetivo é “recolher na sua totalidade a sucata de vidro produzida pela sua unidade de negócio, a partir da concessão de tambores e a criação de rota para retirada do respectivo material”; e como vantagens apontam aspectos fiscais e ambientais.

Entre os aspectos fiscais prevalece a emissão de nota fiscal da sucata de vidro por quilo e com um valor bem menor que a do metro quadrado, possibilitando a regularização do estoque da empresa. Evita também problemas com vigilância sanitária e do trabalho em relação a proporcionar um melhor ambiente para os usuários e trabalhadores.

Existe também um certificado para ser aposto em local visível aos clientes, indicando que a vidraçaria participa do projeto.

4.2 Os dados Apurados e os resultados.

Em relação aos Valores foram seguintes as respostas:

• Quanto ao compromisso ético obteve que 50% das vidraçarias têm os valores da organização incorporados ao processo de trabalho; em 25% esses valores existem de maneira formal; e em 25% a empresa orienta e treina regularmente seus funcionários para adoção da ética.

Como ético aqui foi citado pelos entrevistados o ato de não deixar resto de material na casa dos clientes e como maneira formal foram citados modelos de relatórios de visita/entrega/montagem. Nenhuma das vidraçarias entrevistadas possui código de ética.

• Quanto à dimensão do desenvolvimento humano (as opções eram dimensão econômica, sócio-cultural, político-institucional e ambiental) obteve-se o seguinte resultado: 50% apontaram a dimensão econômica, 33,33% apontaram a dimensão ambiental e 16,67% apontaram a dimensão sócio-cultural.

Alimenta-se com esses números que ainda permeia o paradigma de que as empresas terão intenção de lucro em qualquer tipo de atividade que ela exerça, ainda que seja de âmbito social ou ambiental.

• Quanto a escolha de um fornecedor: 83,33% disseram ser por “preço/qualidade/prazo” e 16,67% por “Responsabilidade social Empresarial”.

Justificaram que só olham se o fornecedor adota a RSE em caso de estarem todos com o mesmo preço, a mesma qualidade e o mesmo prazo.

Em relação ao Público Interno(da piloto e das satélites) as respostas foram:

• quanto a motivação para execução da atividade do projeto apenas 16% contra 84% de respostas negativas;

• quanto a fazer o recolhimento da sucata fora do expediente normal, como voluntários, foi 100% de discordância.

Isso reforça o que Taylor dizia: “O que os trabalhadores desejam dos seus empregadores, mais que tudo, são altos salários” ( PUGH,HICHSON, 2004, p.102). Os empregados relataram que sentem-se motivados a recolher a sucata de alumínio pois esta, na maioria das vidraçarias, é permitido que os empregados vendam e fiquem com o valor conseguido.

• Quanto a percepção dos motivos que levaram as vidraçarias à criação e adesão do projeto, os empregados foram unânimes em achar que foi por respostas a incentivos fiscais e/ou institucionais oferecidos.

Para o público interno os empresários tomam atitudes responsáveis sociais e ambientais porque podem ter algo em troca e ficou claro que para eles (empregados) isso é normal, é “etico”. Imagina-se que condenar o empregador por participar de um projeto social por obter com isso alguma vantagem, seria o mesmo que condenar-se por juntar o resíduo de alumínio e vender com a intenção de ficar com o dinheiro arrecadado com essa venda.

• Quanto à Marglass estar fazendo a coleta, semanalmente como proposto, todos os empregados entrevistados disseram que sim.

• Quanto a ter informações sobre o andamento do projeto como quantidade de vidro retirada, número de pessoas envolvidas, número de vidraçarias: todos disseram que não e justificavam que nunca tinham ido atrás dessas informações.

Este comportamento poderia mostrar desinteresse dos empregados ou confiança na empresa piloto. Um empregado justificou que nunca procurou saber, mas que agora estava bem curioso e acrescentou que não imaginava um ato tão simples pudesse envolver tantos para ajudar a natureza.

Em relação ao Meio Ambiente obteve-se as seguintes respostas:

• Quanto a fazer a separação/seleção do lixo em tambores por cores(verde/vidro, amarelo-metal, azul-papel, vermelho-plástico) 25% disseram sim, contra 75% não. Das respostas negativas, todas admitiram separar o vidro nos tambores do projeto e o alumínio que é posteriormente vendido;

• Quanto a fazer reciclagem todas admitem que não, mas procuram aderir a projetos que o façam e reconhecem a necessidade de que a sociedade tome essa postura.

Muitos justificaram que não tomam iniciativa porque acham que produzem pouco lixo reciclável, o que reforça a idéia da união e cooperação para junção do “pouco” de vários para se ter o “muito”.

• Quanto ao conhecimento de quanto tempo o vidro demora a se decompor na natureza, 37,5% disseram saber e deram respostas que leva entre 4000 anos a tempo indeterminado, contra 50% que não sabia e 12,5% que preferiu não responder.

• Quanto a Marglass estar atingindo os objetivos propostos no projeto: houve 83,33% de concordância contra 16,66% de discordância.

A discordância deve-se ao fato de não ser recolhida a sucata de espelhos, vidros laminados e vidros fantasias. Os participantes do projeto acham que deve ser retirada toda sucata de vidro. A empresa piloto ao ter essa informação reconheceu como uma falha do projeto e tem a intenção de disponibilizar tambores para recolhimento dos outros resíduos de vidro plano.

Em relação aos Clientes e Consumidores:

• Quanto a percepção dos motivos que levaram a Marglass à criação do projeto: 34% acham que foi para “obter vantagens competitivas” contra 66% que acham que foi por respostas a “incentivos fiscais e institucionais oferecidos” ;

• Quanto aos motivos que levaram a adesão ao projeto as respostas foram dispersas: (aqui pediu-se para escolherem até três motivos e colocarem na ordem de importância) em primeiro ficou a “resposta incentivos oferecidos” com 80%(contra 20% por “sobrevivência a longo prazo”) ; em segundo, “promoção de valores” com 60%(contra 20% de “vantagem competitiva” e 20% de “respostas a incentivos oferecidos”); e em terceiro, para “obter vantagem competitiva” com 80%(contra 20% de “sobrevivência a longo prazo”).

• Quanto a percepção de como os clientes julgariam a participação das vidraçarias no projeto, 66% acham que os clientes não valorizam esse tipo de atitude contra 17% que acham que os clientes julgariam ser por “promoção de valores” , e 17% que acham que julgariam ser “respostas a incentivos”.

• Quanto a Marglass fazendo a coleta semanalmente como proposto: disseram que sim 75% e 25% discordaram. Os que discordaram afirmaram que não era feita a coleta em semanas que tivessem feriados.

• Quanto a ter informações sobre o andamento do projeto como quantidade de vidro retirada, número de pessoas envolvidas, numero de vidraçarias: todos disseram que não.

Na comparação das respostas obtidas do executivo da Marglass com a visão dos Clientes e do Público Interno foi observado concordância quanto ao cumprimento da coleta, recebimento dos tambores , custo financeiro ser todo da empresa piloto, e não haver comunicação do resultado do projeto. A empresa também havia justificado não saber ainda quantas pessoas estão envolvidas no projeto, quanto foi gasto, nem qual a quantidade de resíduo já recolhida. E admitiu que essa última informação podia ser conseguida. E foi. Foram retiradas este ano de junho a setembro 282,78 toneladas de resíduos do tipo vidro plano.

Houve discordância nos motivos quanto a criação do projeto, quanto a adesão das empresas cometas(Clientes da Marglass) e quanto ao que se espera dos clientes(Consumidores das vidraçarias). O executivo da empresa piloto respondeu que os motivos foram, respectivamente, a “promoção de valores”, “resposta a incentivos” e “vantagem competitiva” . Já os Clientes(As vidraçarias satélites) e o Público Interno acham que a Marglass priorizou os incentivos fiscais e institucionais e que ela continua com o projeto porque ela ganha economicamente e ainda constrói uma boa imagem. Um empresário de umas das empresas satélites chegou a dizer: “Ela pode ganhar, desde que ela retire o meu lixo sem me cobrar nada!”.

O executivo da empresa piloto também havia dito que as vidraçarias aderiram ao projeto “por promoção de valores” e enxergariam o projeto com “dimensão ambiental” e elas colocaram como principal motivo “os incentivos fiscais e institucionais” e enxergaram-no como “dimensão econômica”. O proprietários da vidraçarias satélites esclareceram que uniram a vantagem de corrigir o estoque, com a redução do custo da retirada dos resíduos. Os empregados apostaram que ambos, vidraçarias piloto e satélites,

Visaram aos “ïncentivos” e “dimensão econômica”.

Em relação aos indicadores da dimensão relacional do capital social encontrou-se:

• grau de participação do público interno sob três óticas: o da empresa piloto, o das empresas satélites e o do projeto. Os resultados foram respectivamente 50, 54 e 104 pessoas. A visão sobre os objetivos foi de 83,33% , o que revela que 87 dos empregados envolvidos no projeto tem visão sobre os objetivos do projeto.

• O grau de participação do público externo não foi calculado por não saber ainda quem considerar o público externo (quantidade de clientes, população, quantidade total de empregados??).

• Intensidade do relacionamento com o público beneficiado: foi possível encontrar em média o tempo dedicado a seleção e coleta dos resíduos: 55 minutos por dia. A quantidade de vidraçarias beneficiadas é de 64 (até o momento, envolvendo a piloto, satélites e cometas) .

Em relação aos indicadores da dimensão estrutural do capital social encontrou-se:

• Quanto ao grau de estruturação do programa que foi sugerido a medição pela existência de metodologia e sistema de indicadores, constatou-se a inexistência de indicadores estabelecidos desde o planejamento do projeto. Existem controles que possibilitaram o cálculo de dois indicadores: quantidade de tambores recolhidos de cada vidraçaria satélite( tambores/semana) e quantidade de toneladas enviadas por mês ao fornecedor. São retirados em média 3 tambores/semana das vidraçarias satélites e aproximadamente 90 toneladas/mês de resíduos de vidro plano. O programa tem 9 meses de existência sendo cerca de 3 meses de planejamento e apenas 6 meses de execução. Já foram enviadas 282,78 toneladas nos últimos três meses.

• Quanto ao grau de atuação e conectividade da rede constatou-se 14 pontos de contato entre os membros do projeto.

Em relação aos indicadores da cognitiva do capital social encontrou-se:

• Quanto a confiabilidade das informações sobre programa constatou-se a inexistência de avaliação e comunicação do resultados. O monitoramento feito até o momento era um controle de notas fiscais emitidas dos resíduos e um mapa do material coletado nas vidraçarias satélites.

• Quanto a visão compartilhada dos objetivos do programa que é sugerido a medição pelo número de pessoas envolvidas no programa de público interno, externo e atores , também não foi possível mensurar.

CONCLUSÃO

Os stakeholders têm quanto aos “valores” a ética incorporada ao processo de trabalho, visualizam o projeto como dimensão do desenvolvimento econômico e priorizam preço/qualidade/prazo frente à gestão por Responsabilidade Social Empresarial. Quanto a questão “Ambiente” a maioria não tinha informações sobre coleta seletiva de lixo, tempo de decomposição do vidro na natureza, embora façam a separação de dois tipos de resíduos( vidro e alumínio). Concordam quanto a necessidade e o ótimo funcionamento do projeto, mas divergem na opinião quanto a intenção da criação e das adesões ao mesmo.

Algumas divergências podem ser justificadas por valores individuais diferentes e pela ausência de informações sobre os resultados do projeto. A ausência dessas informações é justificada pela dificuldade de identificar alguns itens como, por exemplo, quem e quais são todos os beneficiados. Sabe-se contudo, que a natureza agradece a retirada em três meses e dez dias de 282,78 toneladas de resíduos vidro plano.

Dos indicadores sugeridos por Macke e Carrion os dados coletados possibilitaram o uso do “grau de participação do público interno”, “intensidade do relacionamento com o público beneficiado” para dimensão relacional do capital social; o “grau de estruturação do programa” e o “grau de atuação e conectividade da rede”. Não foi possível usar os indicadores sugeridos para avaliação da dimensão cognitiva do capital social por não se conseguir delimitar o público externo e por não haver, até o início deste estudo, nem medição, nem avaliação, nem comunicação dos resultados para os participantes do projeto. O fato de não ter sido medido a visão compartilhada não indica a ausência da mesma , mas que ela não é formalizada. Isso reforça a idéia de que predomina a confiabilidade e cooperação no comportamento dos stakeholders do projeto.

Conclui-se que, para os stakeholders do “Projeto Vidraceiro Amigo do meio Ambiente”, o objetivo principal está sendo alcançado e é recolher a sucata de vidro plano das vidraçarias. Eles também visualizam que todos ganham em participar: as vidraçarias menores têm redução de custo por não terem mais gastos com a retirada da sucata, a Marglass ganha com promoção da sua imagem, fidelizando clientes, e financeiramente; o fornecedor Guardian do Brasil, tendo garantido uma fonte de matéria-prima de custo menor e que proporciona uma redução no consumo de energia; o meio-ambiente, com a retirada de toneladas de sucata de vidro.

Além dos objetivos propostos, com esse estudo pôde-se prestar informações sobre o projeto, alertar para necessidade do “feed-back” da empresa piloto e motivar o acompanhamento das ações a todos que participam do mesmo. Sugere-se um outro estudo para comparação dos resultados e uma revisão no roteiro das entrevistas, com a inclusão de perguntas que possibilitem medir o grau acompanhamento de informações recebidas, de comunicação dos resultados e de satisfação com o projeto,

O projeto “Vidraceiro Amigo do meio Ambiente” é uma prova de que o desenvolvimento baseado na cooperação e solidariedade pode ajudar na resolução dos problemas de uma comunidade.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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