O TROTE NA ERA DA INFORMÁTICA

Muitas vezes nossa caixa de entrada de mensagens eletrônicas tem muita semelhança com uma perfeita lata de lixo real. O que se envia de bobagens através desse mundo virtual é algo espantoso, chegando em muitos casos a beirar ao absurdo.

Há mensagens para todos os gostos e crendices, mas as que me preocupam mesmo são aquelas direcionadas para a área da saúde e que, via de regra, atingem aos mais carentes e necessitados por um pouco mais de saúde. E há aquelas que ainda denigrem a imagem de alguns produtos, assim como de seus fabricantes.

Evidentemente, existem as verdadeiras, aquelas que são feitas com total respaldo científico, e que carregam toda uma credibilidade.

Mensagens falsas e alarmistas enviadas por e-mail - e que são conhecidas como hoaxes - lotam caixas de correio eletrônico com histórias fantasiosas sobre doenças, medicamentos e curas. Normalmente vêm em um formato jornalístico, assegurando que as informações falsas ali contidas são afiançadas por químicos, médicos, professores e membros do meio acadêmico.

Devemos nos lembrar que a internet é um veículo poderoso, mas há que se prestar muita atenção ao que se lê e, também, ao que se envia para os outros. Ativar nosso filtro seletivo sempre é uma boa opção nesses momentos.

Existem pessoas que se irritam com esse tipo de mensagem e pensam até em tomar alguma atitude contra a proliferação das mesmas, mas, como diz a procuradora da República, Silvana Battini, “geralmente quem divulga esse tipo de mensagem quer advertir seus conhecidos para riscos que todos estariam correndo, sem intenção de prejudicar ninguém, por isso não existe fundamento para uma queixa”.

Embora não configurem crime, os hoaxes podem preocupar. Tanto que muitos ficaram conhecidos por levar as instituições citadas a apresentar desmentidos oficiais sobre as informações veiculadas.

A seguir, cinco desmentidos formais de alguns desses casos, divulgados pela revista “Médico & Saúde”, Ano 1 – Número 3 – Abril/Maio/Junho 2008, publicação trimestral do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro – CREMERJ. Certamente existem outros que virão com o tempo.

“Misturar refrigerantes com frutas cítricas, como laranja e limão, leva à perda de cálcio, segundo informação de Rui Campanella, do departamento de Pesquisas Biológicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O boato foi desmentido pela Brahma e pela Coca-Cola. A Unicamp não tem um departamento com esse nome, nem existe um Rui Campanella na instituição.

Uma criança morreu em São Paulo ao ingerir uma bala Mentos com Coca-Cola. As explicações sobre o perigo da interação dos dois produtos são de Alexandre B. Mergenthaler, professor de Química da Universidade de São Paulo (USP). Os fabricantes da bala e do refrigerante desmentiram o boato, assim como a USP, que não tem nenhum professor Mergenthaler em seus quadros.

O infectologista Mário Brandão da Silva Neto, da Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo, alerta que diversas pessoas contraíram doença de Chagas porque beberam água de coco. O infectologista não existe, a Secretaria jamais deu tal alerta e, ao contrário, enfatizou que até hoje só se conhece a transmissão de doença de Chagas pela picada do mosquito barbeiro, por transfusão de sangue, ingestão de leite materno contaminado ou contaminação acidental em laboratório.

Para sobreviver a um ataque cardíaco deve-se tossir ininterruptamente enquanto aguarda socorro, recomenda o Rochester General Hospital, do Estado de Nova Iorque, nos Estados Unidos. O hospital divulgou um desmentido oficial e a Associação Americana do Coração informou que vítimas de enfarte devem pedir socorro médico urgente, pois não há dados que comprovem a eficácia da tosse forçada para manter-se alerta e consciente antes do auxílio médico.

A médica Katrina Scott afirma que os desodorantes antiperspirantes são os principais causadores de câncer de mama em mulheres. Homens, que também têm câncer de mama em incidências quase ínfimas, estariam protegidos da doença porque não depilam as axilas. Assim, o desodorante não seria absorvido pela pele dos homens, permanecendo nos pêlos. A Sociedade Americana de Câncer, divulgou nota desmentindo essa teoria. A propósito, assim como Rui Campanella, Alexandre B. Mergenthaler e Mário Brandão da Silva Neto, a médica Katrina Scott também não existe.”

Entendo que a intenção de quem envia esse tipo de mensagem não é a de ofender e nem de transmitir propostas negativas, muito pelo contrário.

Pensando bem na situação, acredito ser necessário que façamos uma análise crítica do conteúdo da mensagem a repassar, além de buscarmos sua veracidade, evitando-se, desta forma, a divulgação de temas totalmente inverídicos e, em alguns casos, ilusórios e prejudiciais.

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Arnaldo Agria Huss
Enviado por Arnaldo Agria Huss em 02/08/2008
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