O nosso Corpo

Desde o principio da história da humanidade o homem mantém uma grande dificuldade em ver claramente e sem preconceitos o seu próprio corpo. Sempre ouve uma tendência entre os pensadores (filósofos) em explicar o homem não como uma unidade integral, mas como composto de duas partes distintas e separado: O corpo (material) e a alma (Espiritual e consciente). A essa dupla realidade daremos o nome de dualismo psicofísico, ou seja, uma realidade da consciência separada do corpo.

O termo corpo-consciência aparece no pensamento grego no século V a.C., com o filosofo Platão. Para Platão a alma antes de encanar, teria vivido a criação do mundo das idéias, onde conheceu por simples intuição, ou seja, por conhecimento intelectual direto e imediato, sem precisar usar os sentidos.

Para este, a alma por se sentir culpada ou por manter uma necessidade natural de se unir ao corpo, passa a ser prisioneira deste. A partir dessa união a alma humana passa então a ser composta de duas partes, uma superior (a alma intelectiva) e outra inferior (a alma do corpo). Esta última é irracional e se acha dividida em duas partes: a irascível, impulsiva, localizada no peito; e a concupiscível, localizada no ventre e voltada para os desejos de bens matérias e o apetite sexual. Para Platão, todo o drama do humano consiste na tentativa de domínio da alma superior sobe à inferior. Esta perturba o verdadeiro conhecimento, pois escravizada pelo sensível, leva a opiniões precipitadas, e conseqüentemente ao erro. O corpo é também ocasião de corrupção e decadência moral, se a alma superior não souber controlar os impulsos, o homem será incapaz de um comportamento moral adequado.

Partindo do principio de que o corpo é sinal de pecado e degradação, os monges (cujo nome vem do latim monachós, formados pelo radical grego monos que significa “só”, solitário), desenvolveram praticas de purificação que estimulam o ascetismo. A ascese deriva do grego “exercício”, enquanto atividade espiritual que visa ao controle dos desejos por meio da mortificação da carne. Esse controle é feito através de praticas de jejum, abstinência e flagelações (por exemplo, chicoteando o próprio corpo), caminho considerado necessário para atingir a efetiva realização da virtude e da plenitude.

Durante a época Renascentista e Idade Moderna começaram a ocorrer transformações a respeito da concepção do corpo. Pois se na Idade Média o corpo era considerado inferior, mas nem por isso deixava de ser criação divina, o que o envolvia num véu de sacralidade.

No período medieval a Igreja faz proibições expressas sobre a dissecação de cadáveres, para eles abrir o corpo de um morto era um crime imperdoável, pois estariam invadindo sua constituição intima e não poderia se saber se o morto estaria realmente morto,além de estar se envolvendo regiões “proibidas” por Deus.

Mas as experiências de Vesálio (1514-1564) médico belga que mesmo sobre os preconceitos estabelecidos na sua época, ousou envereda-se por caminhos proibidos. Sabemos que também Leonardo da Vinci conseguiu às escondidas fazer estudos sobre a anatomia e que serviam de base nas suas pinturas (o homem vitruviano é um exemplo disso).

O novo olhar do homem lançado sobre o mundo é o olhar da consicência secularizada, ou seja, desacralizada, da qual se retirou o componente religioso para só se considerar a natureza fisica e biologica, é dessa forma que o corpo passa a ser obejto da ciência.

Partindo da duvida metódica,Descartes começa duvidando do mundo que o cerca e do proprio corpo,até chegar à primeira verdade indubitavel: O Cogito,o pensamento.Ao retornar a realidade do mundo e do corpo,encontra um corpo que é todo exterioridade, uma substância extensa e material.Considera então que o homem é constituido por duas substâncias distintas: a substância pensante,de natureza espiritual –– o pensamento; e a substância extensa, de natureza material –– o corpo.Eis ai novamente o dualismo psicofisico.

Está visão nova que Descartes tem do corpo é diferente da posição de Platão,pois agora ele é o corpo-objeto,associado à ideia mecanicista do homem-maquina.Em um dos seus discursos sobre o corpo ele citou: “Deus fabricou o nosso corpo como uma maquina e quis que ele funcionasse como instrumento universal,operando sempre da mesma maneira,segundo suas proprias leis”. Com isso Descartes torna o corpo autônomo,alheio ao homem.

Apesar de o proprio Descartes privilegiar a substância pensante,é caracterizando assim a tendência idealista do seu pensamento, mas essa idéia do homem-maquina não demora a gerar corrente empirista,que tem como principial representante o inglês Locke.Este não pode ser considerado propriamente materealista, mas será com base nesse sentindo que se desenvolverão posteriormente os efeitos do seu pensamento.

Embora só no século XX tenham surgido correntes filosoficas que visam superar a dicotomia do corpo-consciência, restabelecendo a unidade humana, há uma exceção no século XVII,representada por Spinoza.

Considerado por muitos um filosofo determinista, no de que negaria a liberdade humana;o que Spinoza faz, ao contrário, é criticar a toda forma de poder, que politico,quer religioso,na tentativa de elucidar os obstaculos à vida, ao pensamento e a politica livres.Ele deseja descobrir o que leva o homem à servidão e a obediência.Ao mostrar as possibilidades de expressão da liberdade,Spinoza desenvolve uma teroria absolutamente nova no seu tempo e que desafia uma tradição vinda dos gregos.

Se Platão dicotomiza corpo-consciência, dando ao espirito a superioridade e o poder de dominar as paixões, como condição da própria humanização,também em Descartes persiste o dualismo psicofisico, a hierarquização e o proncipio de causalidade.

A novidade que Spinoza traz é a teoria do paralelismo, segundo a qual não há nenhuma relação de casualidade ou de hierarquia entre corpo e espirito.Pra ele, nem o espirito é superior ao corpo, como queriam os idealistas, nem o corpo determina a consciência, como dizerm os matealistas.A relação entre um e outro não é de causalidade, mas de expressão e simples correspondência. O que se passa em um deles se exprime no outro: a alma e o corpo exprimem, no seu modo proprio, o mesmo evento.Por isso não convém dizer que o corpo é passivo enquanto a alma ativa, ou vice-versa.Tanto alma quanto o corpo podem por sua vez ser passivos ou ativos.

Referência Bibliográfica:

Filosofando

Maria Lucia de Arruda Aranha

Ed. Moderna

Iraildo Dantas
Enviado por Iraildo Dantas em 31/07/2008
Reeditado em 31/07/2008
Código do texto: T1106733
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