DO ÊXODO AO REGRESSO (problemas sociais)
Nos tempos idos, a maioria da nossa população residia no campo, eram trabalhadores rurais em sítios ou fazendas desse interiorzão do nosso país. Mas pelo crivo da miséria e com a mudança de nossa cultura agrícola fez com que este povo até então chamado de “Matuto, sertanejo ou Caipira”, migrasse para as grandes cidades em busca de um lugar ao sol; tentando uma acomodação para as suas famílias e um trabalho digno onde pudessem crescer profissionalmente e viver em paz como um dia já viveram no campo em tempos de outrora.
É evidente que nem sempre aquilo que se planeja dá certo, é preciso cautela com qualquer mudança no curso normal do nosso cotidiano.
Acontece que nem todos os retirantes tiveram direito de escolha e planejamento de suas vidas, uma vez que, quando não era a seca, era a própria falta de terras para trabalhar e muitas vezes, por culpa de patrões desalmados que usufruíram anos e anos de serviço de seus colonos e por uma razão ou outra, despediam-os com a maior frieza, colocando-os no meio da estrada, às vezes, sem um mísero tostão no bolso.
Jogados ao relento onde tantos se depararam com todo tipo de infortúnios até encontrarem o seu próprio caminho que na maioria das vezes era mais uma família que iria inchar a população das grandes cidades.
Nessa luta desigual, quantos perderam a estrutura de vida familiar e acabaram tendo por residência um viaduto, uma ponte ou na pior das hipóteses, só um pedaço de papelão servindo de cama e cobertor.
Está explícito que toda essa desorganização urbana está ligada aos descasos dos nossos governos anteriores que não olharam para o povo sofrido do campo quando do início dessa migração em massa.
Quando digo em massa, entenda-se que além dos nordestinos, que são os mais lembrados, sempre houve retirantes de todo o interior dos estados do Brasil, desde lugarejos mais próximos até os mais longínquos.
Eis aí o reflexo de tudo isso, casas, barracos e cortiços, proliferaram nas periferias das cidades brasileiras e muita gente foi se amontoando, carentes de ações que lhes garantissem a infra-estrutura necessária para uma total readaptação.
Felizmente, grande parte dessa população foi sendo absorvida pelo ramo da construção civil que encontrou uma forte disposição por parte daqueles que se dispunham a encarar o batente.
Mas como quase tudo nesse país é instável, também a oferta de empregos nesse setor sempre foi oscilante, causa geradora da grande economia informal em nossa sociedade.
E assim, como nem todos tem aptidão para o comércio; e ou vocação para o trabalho, muitos se desajustaram e ainda se desajustarão em detrimento do abandono social que ainda permeia os nossos tempos.
Prosperou a violência, o crime se fez presente em nome da miséria e o desemprego.
Empregos sempre existiram, mas nesse segmento da população, nem todos foram e ou serão absorvidos, visto a precariedade de instrução, seja didática ou profissional.
Se a falta de conhecimentos dificulta a absorção empregatícia, muitas vezes, trabalhadores desempregados enfrentam entre as suas necessidades básicas, o desconforto de ser despejado de sua única morada, seja ela alugada ou adquirida pelo Sistema Financeiro de Habitação.
Ironia do destino! Foi justamente o retirante que ofereceu a mão de obra que impulsionou a construção civil nas grandes e pequenas cidades do nosso país, construiu tanta riqueza para os outros e nada para si mesmo.
Ainda bem que hoje em dia, a informação chega a quase todos os rincões do Brasil e aquela febre do sertanejo de migrar para a cidade grande, está atenuada, pelo fato das notícias darem conta que a vida tão sonhada nos grandes centros populacionais, não passa de uma mera ilusão e que muitos que um dia abandonaram a sua terra natal, hoje fazem o caminho de volta, num alegre regresso.
O que falta é uma política governista que estabeleça critérios mais acessíveis à fixação do homem no campo ou na cidade, sem a necessidade de migrarem continuamente como se fossem nômades ou pseudo-extrativistas.
O governo pode e deve criar mecanismos para a geração de novos empregos, visando além do crescimento do país, a subsistência dos trabalhadores desempregados principalmente a ala jovem que procuram a sua primeira colocação.
Subsidiar a evolução profissional, é estar contribuindo para a formação do cidadão que depende do trabalho desde a alimentação até a aquisição e manutenção da sua casa própria.
E o que vemos hoje em dia, através do Sistema, é a pouca oportunidade de enquadramento de todos os que precisam, pior ainda, são aqueles adquirentes que por motivo óbvio, tornaram-se inadimplentes e vêem seu bem precioso ser leiloado, sendo obrigados a engrossar o cordão dos excluídos
Longe de uma visão paternalista, é dever do Estado rever esta falha, promovendo condições dignas de moradia e de outros benefícios sociais com projetos de ressocialização dessas comunidades carentes.
Sabemos que é obrigação do Estado assisti-los, pois está esculpido na constituição da república a garantia ao bem estar e uma vida digna a todos os trabalhadores, cidadãos brasileiros indistintamente, mesmo que sua remuneração seja apenas de um salário mínimo.
Até o nosso “JOÂO DE BARRO” passarinho inteligente, tem o direito de ter a sua moradia própria, quanto aos trabalhadores, deveriam estar muito mais amparados não só pela fria letra da nossa legislação, mas contudo na prática.
Quiçá nossos governantes que já não viram nada, não souberam de nada, vide os famigerados “mensalões propineiros”,mudem a sua ótica e comecem a desenvolver políticas públicas que realmente atenda aos anseios do nosso povo carente a iniciar-se pela educação, base na formação de todo cidadão, propiciando-lhes, além da sua integração à sociedade, o discernimento entre o que representa um voto e uma cesta básica; num sistema de motivação a todos os brasileiros, seja do campo ou da cidade, para que no amanhã, usufruam de uma melhor distribuição de renda, justa e igualitária, estabelecendo o desenvolvimento pleno do nosso país que por enquanto ainda continua em outros planos.