Você ainda se lembra da finada TV Brasileira?
Passei a infância assistindo televisão, esta foi a tática usada por minha mãe para me afastar dos perigos da rua. Como sou filho único, aprendi a me virar sozinho em casa na hora de brincar.
Ao contrário do que a maioria das pessoas pensam a respeito dos filhos únicos (mimados, tristes, acabrunhados), fui uma criança muito feliz, construí um mundo de imaginação só meu, a partir das brincadeiras solitárias e da televisão.
Sou do tempo de He-Man, Ducktales, Muppet Babies, Get Along Gang, Panky, Cavalo de Fogo, Ursinhos Carinhosos, Tartarugas Ninja, Pica Pau, Perna Longa, Inspetor Bugiganga, Caverna do Dragão e muitos outros. Não sei se já passei da idade de assistir desenhos, mas o fato é que ligar a televisão na parte da manhã me dá náuseas. Não sei o que dá para tirar de proveito desta nova safra de desenhos. São todos eles cópias uns dos outros, principalmente esses desenhos japoneses em que bichinhos fofinhos transformam-se em bestas gigantes cuspidoras de fogo. A qualidade dos traços também decaiu muito, alguns desenhos conseguem superar a pobreza dos odiosos Hanna Barbera, que passavam pela mesma pedra 50 vezes enquanto andavam, sem falar o corpo estático com pernas em movimento. Mesmo com tanta tecnologia, ninguém superou a qualidade dos movimentos do oitentista He-man, muito pelo contrário, hoje em dia o corpo do personagem é uma bolinha para a cabeça um retângulo para formar o corpo e palitinhos no lugar de membros.
Não obstante a programação vespertina é uma tortura. Entra ano sai ano e a Rede Globo não aposenta o vídeo show e o Vale a pena ver de novo. As televisões emergentes ainda insistem na velha formula da fofoquinha da tarde. Parece que cada emissora tem o seu programa de fofoca, eles têm nomes do tipo “Mais Você”, “Pra Você”, “Todo Seu” etc. os cenários são recriações de salas de estar de gente rica e nunca são apresentados por um único apresentador. É um especialista em culinária outro em fofocas, outro em “notícias” e é claro, não vamos esquecer do balcãozinho de merchan no canto do cenário, onde são feitas propagandas a cada dois minutos, vendem aparelhos de ginástica milagrosos, dentaduras, câmeras digitais com mil e uma funções (vocês já devem saber qual é a bendita câmera) além de outras traquitanas.
A falta de assunto é o principal ingrediente desses programas, passam os dias falando do cantor de funk desconhecido que foi morto por traficantes no Rio de Janeiro, "artistas" falidos pedindo emprego, ou fazendo reportagens especiais dos Mamonas Assassinas, isso para não falar do caso da menina Isabella que quase me deixou louco. Entre outras palavras, a morte de um famoso, quase famoso ou Big Brother é pauta garantida neste tipo de programa, principalmente no programa da Sônia Boca de Caixão. Quem andou sapeando os canais semana passada no período da tarde esteve próximo de uma overdose de Dercy Gonçalves. Cobriram o velório em seus mínimos detalhes, contaram os pregos do caixão, as coroas de flores, descreveram o odor do cadáver, além de contarem e recontarem a história de Dercy de frente para traz de traz para frente em Grego, Hebraico e Latim.
Para quem assistia Loucademia de Polícia, Pork’s, Curtindo a Vida Adoidado, Sem Licença para Dirigir, História sem Fim e muitos outros clássicos no Cinema em Casa e na Seção da Tarde, a nova programação está no mínimo deprimente, todos os dias é uma nova aventura idiota do Scooby Doo, filmes de baleias, focas, cachorros e chimpanzés quase humanos, sem contar os filmes das Gêmeas Olsen (se passar mais um eu prometo que dou um tiro na minha própria cabeça).
O decadente horário “nobre” ganhou além da já esquecida novela Pantanal, uma novela com mutantes, que utiliza efeitos especiais dos mais baratos e toscos, chegando ao ponto de descer ao nível dos ridículos “As Aventuras de Tiazinha” e “Turma do Gueto”, não vamos esquecer também da 7589476° edição de Betty a Feia e Chiquititas versão argentina.
Se eliminarmos tudo isso mais os programas de sábado e domingo, mais os programas de jornalismo apelativo, mais os programas evangélicos, mais as transmissões de Corinthians contra XV de Carapicuíba na segunda divisão, só nos resta mesmo o bom e velho Chaves, o ressurgido das cinzas Chapolin e é claro a programação da TV Cultura que apesar de não produzir programas tão bons quanto nos anos 90 permanece saudável e decente às duras penas.
Não consigo entender a aversão aos que compartilham e assistem programas antigos no site do You Tube. Afinal, são eles culpados, ou vítimas?