Carta a um pai
Crônica para o "dia dos pais"
“Amigo, parabéns! Num mundo que adora o consumo, a ostentação e o prazer sem limites, realmente, gerar um filho, permitir que ele nasça e encaminhá-lo à vida, é um gesto de coragem. Manter, em nosso tempo, uma família como permanente sinal de amor, fidelidade e respeito, é uma proeza e não são muitas as pessoas que têm logrado êxito nessa tarefa. É incrível observar por aí uma certa inversão de valores que coloca em xeque a vida de algumas famílias. Crianças e jovens, oriundos de famílias bem estruturadas, chegam, às vezes, a ficar constrangidos em relatar que os pais vivem juntos, que a mãe não tem “namorado” e o pai não possui amante, mas que vivem bem, casados há tantos anos. O que eles escutam de amigos e colegas é exatamente o oposto: uma elegia à desestruturação das famílias, onde brigas, indiferença, egoísmo e irresponsabilidade de pais e mães, mentiras, traições, divórcio dão a nota dominante. O lamentável dessas realidades é que esse tipo de comportamento é gerador de pessoas, inseguras, revoltadas, desestruturadas, incapazes de amar ou de encarar uma relação duradoura. Você, porém, que mesmo diante de tantos problemas, ameaças e maus exemplos, decidiu ser pai de uma criança, nesses tempos difíceis em que vivemos, apostando no amor e na participação, contra o egoísmo e a irresponsabilidade, merece, sem dúvida, os melhores e mais sinceros cumprimentos. É comum ouvir, por aí, a partir de bocas menos autorizadas, que a família está em crise, que é uma instituição decadente, falida. Na verdade, a pessoa humana é que está em crise. Muitos têm problemas de identidade, de afirmação e por isso sua moral está um desastre. Mas, a despeito de tantos maus exemplos, você quis ser pai. Que beleza! Por esta razão, no dia de hoje, você e tantos outros merecem nossa homenagem” (tirado do meu livro “Mensagens de Esperança”, Ed. Ave-Maria, 1997).
Há também outras lembranças, pouco festivas e nem tão alegres. Uma delas é a do pai que, mesmo cercado pelo carinho da esposa e dos filhos, não tem a suficiente alegria para comemorar, porque está desempregado, doente, sem assistência médica, sem poder comprar remédios. Em nossas festividades, orações e nos churrasquinhos dominicais às vezes esquecemos deles.
No dia de hoje, e não poderia ser diferente, recordo meu pai, João Manoel, falecido em 1984, cujas atitudes éticas e responsáveis ajudaram a forjar meu caráter e a forma de conduzir minha vida, na família, no trabalho e na sociedade. A lembrança do pai é uma saudade que se carrega por todos os dias da nossa vida.
Homenageio também o Pai do céu, aquele que está sempre cuidando de nós, seus filhos, mesmo quando muitos de nós esquecemos dele.
Antônio Mesquita Galvão
Teólogo Leigo. Doutor em Teologia Moral