Um dia no hospital

Imagine-se em um leito de hospital dormindo, ou talvez tentando dormir, tirando um cochilo que seja. Sente a presença de alguém sentando ao seu lado, abre os olhos vagarosamente, avista uma pessoa estranha, mas ainda não sabe ao certo se realmente está de olhos abertos ou está sonhando, e a primeira coisa que consegue dizer é: “- Você é um palhaço?”

João Vitor, uns 5 ou 6 anos, passou por isso. E eu, Dr Feijó, do grupo de palhaços Brincatrapos, senti uma sensação indescritível ao ver o rosto cansado se transformar em um semblante sorridente ao me fazer aquela pergunta. É claro que a resposta não podia ser outra: “- Eu? Palhaço? Eu não, sou doutor! Besteirólogo!”. João Vitor refletiu por alguns instantes, e soltou mais uma pérola: “- Meu pai não deixa eu conversar com você!” Confesso que por instantes saí do personagem, deixando escapar um leve riso. Ele estava certo, não se deve conversar com estranhos, ainda mais quando esse estranho tem uma cara pintada e um nariz vermelho, ou seja um estranho bem estranho.

Tratei logo de me apresentar, e nossa mascote Filó (uma galinha de borracha), contei a ele como Filó era linda, cheia de penas, com um rabo colorido que se abria feito um leque...ele logo me cortou: “- Mas isso é um pavão!” e por aí a conversa tomou um longo rumo, fazendo-o acordar de vez e transportando sua imaginação para longe daquele pronto-socorro!

Alguns minutos depois eu estava conversando com Giovani, e apesar de bem mais novo, nós o tratávamos como o famoso cantor da dupla sertaneja “Gean e Giovani”, ele entrou no clima e atendeu de pronto o meu pedido de autógrafo, escreveu com letras de quem ainda está treinando caligrafia: “- Para dotor Feijo...Giovani.” Pedacinho de papel que agora está guardado junto das coisas mais importantes que aconteceram em minha vida!

E por aí foi, cada quarto, cada visita, cada criança, ficará marcada na minha vida. Essas visitas ao Hospital Regional de Sorocaba, por mais que se tornem rotina, fazem meus domingos mais felizes, a cada dia aprendo mais, tenho ótimas surpresas e sinto-me extremamente recompensado por esse trabalho.

Sorocaba, 22 de junho de 2008

(Dr. Feijó)