Construindo o futuro
Em tempos pré-eleitorais as redações andam patrulhando a produção sociopolítica dos colunistas, razão pela qual os artigos passam a ser mais místicos (para quem é do ramo) ou abobrinhas, como se enxerga por aí.
Todos se preocupam com seu futuro, ajuntando economias, formando patrimônio, concluindo de cursos ou fazendo amizades. Tudo aponta para a preocupação com o futuro. É salutar, sem dúvidas, esse interesse. Mesmo assim se observa que a maioria dos valores da sociedade, como os acima mencionados, não traz felicidade mas, pelo contrário produz frustração, depressão e derrota.
Nessa frustração o pessoal honesto se angustia ao ver que os ricos, os ímpios, os imorais e os corruptos enriquecem cada vez mais, rindo da nossa cara indignada. Ao mesmo tempo, os infiéis, os ateus e os idólatras (a ambição é uma idolatria) debocham da nossa fé. É sabido que “Deus criou o homem e o deixou ao sabor de sua decisões” (cf. Eclo 15,14).
Mesmo assim, as pessoas humildes e crentes se assustam com a injustiça que grassa na sociedade, sem ter, a não ser para a Providência, a quem apelar. “O Senhor tem compaixão do fraco e do indigente e salva a vida dos injustiçados” (Sl 72,13). Poucos se preocupam com seu futuro espiritual.
Usando a incidência do mal como fator de depuração, não é difícil observar que Deus, com o sofrimento está nos estruturando, amadurecendo, preparando o nosso futuro. Foi dito que “quem perseverar até o fim será salvo”. Por esta razão é preciso aprender a depender de Deus. Ele às vezes nos leva a necessidades profundas para nos ensinar o verdadeiro caminho.
Nesse particular é imperioso que se aprenda a administrar a escassez. No deserto, o povo experimentou uma provação de quarenta anos antes de chegar à terra prometida. O patriarca José amadureceu pelo sofrimento, tornando-se depois, o administrador do Egito. Davi foi estruturado por Deus em dez anos de perseguições e penúria para construir após o bom futuro, como o maior rei de Israel. Daniel, um dos maiores profetas da história, primeiro passou pela cova dos leões, para depois se tornar conselheiro e sátrapa da Babilônia.
No Novo Testamento podemos ver que “convinha que Jesus padecesse para entrar na sua glória” (cf. Lc 24,2; Fl 2,5). Depois dessa “descida” veio uma “subida” gloriosa, onde ficou corroborada a idéia de que Jesus Cristo é o Senhor (cf. Fl 2,9ss).
Por todos esses exemplos não convém a revolta e muito menos a blasfêmia. A sua esperança não vai falhar; tenha confiança: Deus tem coisas boas para você! O diabo conhece tudo do meu passado, mas não tem poder sobre o meu futuro, que pertence a Deus. A matéria mais difícil no currículo da nossa vida é a adversidade. O agricultor, quando tira lascas de um tronco, ele não odeia a árvore, mas prepara para uma produção futura melhor.
Em Jó (19,25) vemos o crente regozijando-se, mesmo no sofrimento, pelo bom futuro que Deus criou para ele: “eu não morrerei enquanto Deus não cumprir aquele bem que ele sonhou para mim”.
O autor é Teólogo leigo, Biblista e Doutor em Teologia Moral