O amor na história da literatura

Por tanto tempo o sentimento amoroso está presente na história da humanidade, em especial, na da literatura.

Embora Romantismo, Realismo e Pós-modernismo estejam separados por quase dois séculos pelo menos, o amor se faz presente em cada um deles, mas moldado ao seu contexto histórico-literário.

Isso pode ser notado pela presença de cartas como recurso para a manifestação do amor ao longo dos enredos a serem comparados. Ao mesmo tempo em que elas os unem como característica comum, elas também os separam, pois em cada um deles existe uma maneira diferente de amar, de acordo com cada movimento.

Em Amor de Perdição, novela passional da segunda fase romântica portuguesa escrita por Camilo Castelo Branco, a impossibilidade da realização do amor se torna o centro do enredo, isto é, o amor entre Simão e Teresa e a rivalidade de suas famílias por questões políticas.

As cartas são usadas para delatar o sentimento subjetivo do amor, ou seja, o sofrimento declarado com valor espiritual e puramente sentimental, isso pode ser percebido neste trecho da carta de Simão à Teresa:

“Nunca os meus pensamentos foram denegridos por um desejo que eu não possa confessar alto diante de todo o mundo. Dize tu, Teresa, se os meus lábios profanaram a pureza de teus ouvidos. Pergunta a Deus quando quis eu fazer do meu amor o teu opróbrio” (CASTELO BRANCO, p. 109).

Essa visão do amor, como um exagerado sofrimento deve-se a característica da segunda geração romântica ou Mal-do-Século, a qual o romance pertence.

Em meados da segunda metade do século XIX emerge na literatura o Realismo, movimento no qual a razão e a busca pela representação da realidade tomam destaque como característica literária.

Eça de Queirós, um dos pioneiros do movimento em Portugal, transporta essa visão de realidade e principalmente de amor no romance O Primo Basílio, no qual um inquérito é estabelecido diante dos fatos sob a presença do amor.

O triângulo amoroso constituído por Luísa, Basílio e Jorge atesta o adultério e a hipocrisia no caráter do homem, objetivos primordiais do autor em “mostrar a sociedade” lisboeta como ela é.

Enquanto Jorge viaja a trabalho, Basílio, primo de Luísa, vive um resgate de amor, pois já namorara a prima e quando se separaram, ela se casou com Jorge.

Cartas de amor também estão presentes no romance, mas por meio delas é que o adultério é comprovado. O amor declarado nas cartas é puramente sentido como uma experiência carnal ou sexual e considerado como sentimento de posse. Isso é comprovado neste trecho da carta de Luísa, na qual a declaração de amor tende a ser mais do que sentimental.

“(...) Estou pasmada de mim mesma, como em tão pouco tempo te apossaste do meu coração, mas a verdade é que nunca deixei de te amar. (...) não fui superior ao sentimento que me impelia para ti, meu adorado Basílio. Era mais forte que eu, meu Basílio. (...) tinha vontade de te dizer adeus para sempre, mas não posso, meu adorado Basílio! É superior a mim. Sempre te amei, e agora que sou tua, que te pertenço corpo e alma, parece-me que te amo mais, se é possível... (QUEIRÓS, p.183).

A culpa também se faz presente no romance, pois quando Luísa se encontrava com Basílio no Paraíso, em um quarto de um hotel da cidade, sempre com um sentimento de remorso e imaginava constantemente “Jorge abrindo as cartas que Juliana lhe entregava, lendo: Meu adorado Basílio!” (QUEIRÓS, p.365)

Com as cartas de Luísa roubadas de um cesto de lixo, Juliana, a empregada da casa, guarda-as e persuadia Luísa a dar tudo o que quisesse. Até que um dia, Sebastião, amigo da família, arma um plano e a mata na casa, mas todo o plano se acaba com a chegada de uma carta de Basílio para Luísa e Jorge a recebe em suas mãos. Luísa morre por febres incontroláveis e Jorge se muda para sempre da casa.

Já no século XX, o Pós-modernismo traz a figura do amor como um sentimento incontrolável e puro ao mesmo tempo. Isso está presente no conto Pomba Enamorada ou uma História de amor, de Lygia Fagundes Telles no qual a personagem central vive um dilema amoroso, quer a qualquer custo conquistar o amor de sua vida.

As cartas de amor enviadas pela personagem são puramente sentimentais e se valiam pelo sentimento puro para a satisfação plena e não carnal tendenciosa a uma visão sexual do amor.

“(...)escreveu-lhe catorze cartas, nove sob inspiração romântica e as demais calcadas no livro Correspodência Erótica, de Glenda Edwin, que o Rôni lhe emprestou com recomendações (...) Assinou Pomba Enamorada, mas na hora de mandar as cartas, rasgou as eróticas, foram só as outras.” (TELLES, s/p)

Portanto, seja de forma passional visto sob a ótica romântica, realista usado para estabelecer um inquérito e ressaltar o sentimento de culpa ou simplesmente justificando a compulsão comportamental, o amor está e sempre estará como uma marca presente na história do homem, porém suas maneiras de amar serão diferentes em função do tempo em que o sentimento está inserido.

Referências

CASTELO BRANCO, Camilo. Amor de perdição. São Paulo; Klick, 1997, p.109.

QUEIRÓS, Eça de. O primo Basílio. São Paulo; Klick, 1997, p. 183, 365.

TELLES, Lygia Fagundes. Os melhores contos de Lygia Fagundes Telles. São Paulo; Global Editora, 1997.

Ivan Reis
Enviado por Ivan Reis em 18/07/2008
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