A eficácia da Palavra de Deus
A sabedoria popular diz que não se ama aquilo que não se conhece. Algumas pessoas conhecem assuntos diversos, mas ignoram o conteúdo da Palavra de Deus. Talvez por causa disto que o profeta denunciou: “Meu povo se perde por falta de conhecimento” (cf. Os 4,6).
Hoje, essa Palavra perde espaços para as novelas da tevê, para o futebol, o repouso e até certas atividades eclesiais como reuniões de “ministros”, conselho paroquial, esta ou aquela pastoral ou do “movimento” A ou B. Minha experiência de docência bíblica tem me mostrado uma falta de persistência de alguns irmãos, que têm preguiça para o estudo bíblico, onde a maioria acha que não precisa dessa atividade, pois já sabe tudo. O curioso, e eu sempre repito essa assertiva, é que quem precisa estudar não comparece, enquanto quem poderia ficar em casa, esses vão diligentemente ao estudo da Palavra de Deus.
Lamentavelmente, para muitos de nossos irmãos católicos, o estudo da Bíblia não é visto como uma prioridade. Devemos ser executores da Palavra e não meros ouvintes. Falando a seus amigos, o apóstolo Paulo afirma que “toda a Escritura é inspirada por Deus, e é útil para ensinar, corrigir, refutar e educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, apto para toda a boa obra” (cf. 2Tm 3,16s).
O fato é que o espaço de tempo que a Missa dominical dedica à reflexão da Palavra é insuficiente. Em geral são quatro textos para refletir em cerca de dez minutos. É muito pouco. Como conseqüência sou forçado a dizer que dentre os cristãos, de uma forma geral, os católicos são os que menos sabem Bíblia. E quem não conhece tem dificuldade de perfilar-se às suas exigências.
Ouvir a Palavra e colocá-la em prática é como construir uma casa sobre o fundamento de uma rocha (cf. Mt 7,24s). Do contrário, o desastre é iminente.
Conta uma historieta, que um homem reclamou que era cristão há mais de vinte anos, que achava que não devia mais ir à igreja, pois havia escutado cerca de dois mil sermões e homilias, mas que em sua vida não recordava de nenhum deles, achando que não só ele, mas também padres, pastores e pregadores haviam perdido seu tempo. Um amigo que escutou o desabafo dissentiu, dizendo que era casado há mais de vinte anos, e que nesse período sua esposa lhe fizera milhares de refeições, cujo cardápio ele não recordava, mas tinha certeza de que, sem aquela comida ele não teria se mantido vivo. Todas as refeições feitas carinhosamente pela esposa o haviam nutrido e dado a força que ele precisava para fazer seu trabalho.
Na Igreja a palavra de Deus alimenta nossa fome espiritual. Hoje eu estaria morto espiritualmente se não fosse ela. A fé vê o invisível, espera o impossível e recebe o inacreditável. A eficácia da Palavra está no fato de ser como a chuva; ela nunca deixa de cumprir sua missão.
Quem persiste no conhecimento e na prática da Palavra de Deus, esse descobre em sua vida a eficácia da graça e o poder dos dons de Deus.
O autor é Teólogo Leigo e Biblista com especialização em Exegese.