O PERIGO DAS IDEOLOGIAS ( Celismando Sodré - Mandinho)
OS PERIGOS DAS IDEOLOGIAS
(Celismando Sodré -Mandinho)
A explicação mais aceita sobre a origem das expressões “Esquerda e Direita” é a de que tais conceitos ideológicos surgiram no França revolucionária, quando o país passava pelas turbulências políticas que consolidaram as conquistas burguesas posteriores. Durante o embate de classes que marcou este período, que colocava em lados opostos a monarquia, o clero, nobres, contra os burgueses e trabalhadores e seus representantes na Assembléia Nacional, os representantes do povo ansiosos por mudanças ocupavam os lugares à esquerda do grande auditório. Os representantes da monarquia, da nobreza e do clero sentavam-se à direita. Depois, eles passaram a ser denominados conservadores e moderados porque temiam reformas radicais na estrutura social; e progressistas porque queriam justamente o oposto, ou seja, subverter totalmente a velha ordem vigente.
Esses termos foram sendo incorporados pela tradição política, sendo cada vez mais utilizados ao longo dos próximos séculos, atingindo seu auge no século XX, durante a Guerra Fria, com a divisão do mundo entre socialistas e capitalistas (liberais) tendo como líderes os Estados Unidos e a União Soviética. Ainda muito utilizados nos dias de hoje, correspondiam a uma suposta divisão de comportamentos e ideologias: seriam de esquerda pessoas, grupos de pessoas ou partidos políticos que defendiam mudanças sociais, políticas e econômicas que promovessem uma maior igualdade entre os membros da sociedade, ficando do lado dos pobres e explorados. Direita correspondia aos grupos ou pessoas que defendiam a permanência da ordem social estabelecida, que procurariam impedir mudanças significativas na ordem social, política e econômicas, defendendo uma sociedade avessa a qualquer tipo de transformação radical que colocasse em risco a estrutura de classe e os privilégios dos que estavam no topo da pirâmide, acreditando que pobreza e riqueza fazem parte de um determinismo absoluto ou destino e não é fruto da esperteza de uns sobre os outros.
Durante minha fase romântica da juventude e na fase adulta, era um defensor radical das idéias de esquerda; influenciado pelos intelectuais marxistas e por alguns ídolos e mitos, acreditava que a vitória dos que acreditavam na justiça e na utopia de um mundo mais igual, sem exploração do homem pelo homem, como pregavam os filósofos iluministas e os comunistas das diversas facções que defendiam as revoluções já ocorridas no mundo, como a Russa, a Cubana, Chinesa e tantas outras, eram as idéias que deveriam ser defendidas. Acreditava ingenuamente em um mundo dual, maniqueísta, com representantes do mal de um lado e do bem do outro, que achava que era o meu lado.
Depois das verdades que vieram a tona sobre as ditaduras esquerdistas fundamentadas nas idéias marxistas do socialismo real. Dos crimes atribuídos aos regimes de Stálin, Mao Tse-Tung e Fidel Castro. Depois do desmoronamento do comunismo no leste europeu uma grande desilusão abateu-me como se aquilo tudo que acreditava caísse na mesmice da hipocrisia humana. No meu país a descrença nos políticos nos quais eu acreditava e que me decepcionaram, contribuiu para que eu começasse a cair no terreno perigoso do “todo mundo é igual, que não adianta nada fazer para mudar a realidade”. Mesmo sabendo que não era o caminho, que vale apenas procurar, alternar para buscar sempre a melhora e a justiça social, sempre era acometido por essa desilusão com relação a política. Mas, esse comportamento é justamente o que quer os espertalhões da política, aqueles que só querem levar vantagens em tudo porque para eles o desinteresse e a falta de participação política é o que realmente eles desejam para se perpetuarem no poder.
Algumas lições muito valorosas consegui extrair depois de todas essas transformações; primeiro foi não mais acreditar apenas em uma das versões dos fatos; aprendi que é preciso analisar tudo de todos os ângulos possíveis, que os seres humanos, inclusive os políticos quando pretendem ser corruptos e sanguinários independe de ideologia, de partido político, de doutrina, que muito suposto revolucionário defensor dos pobres, podem estar disfarçado de lobo na pele de cordeiro, usando o povo como trampolim, esbravejando contra a burguesia e contra os ricos apenas para chegar ao poder, e quando chega, adquire os hábitos burgueses que tanto combatiam numa rapidez incrível. Quanta violência, mortes, injustiças foram cometidas em nome de ideologias, tanto de direita como de esquerda? quantas enganações históricas e decepções diante do deslumbramento daqueles que chegam no poder, revelando suas verdadeiras faces?
Diante de tudo isto, aprendi que o essencial é analisar a pessoa humana, as pessoas com quem ele anda, sua solidariedade para com o próximo, seu comportamento ético e sua vida pregressa, e se uma facção política tiver mais pessoas corretas, dignas e solidárias merece uma maior credibilidade. Segundo, foi não acreditar piamente em líderes sem questionar com rigor suas idéias e suas verdadeiras intenções. Por trás de cada ídolo, de cada mito existe uma pessoa humana com suas fraquezas, suas imperfeições. Muitos falsários com seus palavreados bonitos, conseguiram enganar milhões e provocaram grandes malefícios para a humanidade.
Se me perguntarem hoje, se sou de direita ou de esquerda, direi que continuo fazendo o que posso para combater a exploração do homem pelo homem e a corrupção na política; que acho o mundo capitalista injusto porque é movido apenas pelo desejo do lucro e pelas idéias do mercado; que a desigualdade entre países ricos e pobres e entre os povos no interior de cada nação é algo gritante e revoltante; que anseio por reformas na sociedade que promovam a inclusão de milhões no acesso a educação, saúde, moradia, emprego; que a sociedade do consumo desenfreado esta colocando em risco o equilíbrio do meio ambiente e o futuro da humanidade; que a democracia, a liberdade de expressão e o estado de direito devem prevalecer. Se ao defender o revelado acima é ser de direita ou de esquerda, cada um é que tirem suas próprias conclusões, para mim pouco importa.
Portanto, chacoalhe seus pensamentos de vez em quanto, submeta suas ideologias a questionamentos periódicos para que você não comece a acreditar nas suas próprias mentiras, para que não comece a racionalizar e justificar comportamentos que ferem, maltratam e inferiorizam as pessoas. Não tenha vergonha de voltar atrás, reconhecer um erro, uma idéia equivocada, de pedir perdão com humildade. Por último, cuidado com a posição social conquistada, com o poder político, afinal, nada mais sábio do que aquele famoso adágio popular que diz: “querem conhecer um homem de verdade, dê-lhe poder e dinheiro”.
O COMÍCIO
( Celismando Sodré – Mandinho)
Armam o palco...
Entram em cena
Os artistas do cinismo.
Aplausos para a demagogia!!
Começa o grande comício
Com discursos padronizados
Para iludirem a “massa”,
Promessas que eram feitas
Com juras de sinceridade,
Cada vez mais enganavam
Aquela pequena cidade.
Panfletos eram distribuídos
Sobre os candidatos que existiam,
Vibravam o operário João
E a faxineira Maria.
No fundo todos sabiam
Das desconfianças que haviam
Naqueles sofridos rostos.
Enfim acaba o grande comício
Das tantas boas intenções,
Todos voltam pra vida
Da miséria e da agonia
A procura de conforto e do pão;
Até a próxima encenação.