CRISTIANISMO SÉCULO XXI

“O evangelho morreu na cruz”

Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900)

Se no século XIX os grandes filósofos criticavam os cristãos por negarem esta vida em prol de uma existência no além, o que diriam da cristandade contemporânea?

Os representantes de Cristo do século XXI estão devidamente afinados com seu tempo. Vivemos numa época onde o individualismo e o consumismo são comportamentos amplamente difundidos. Conscientes ou não dos valores que elegeram, os cristãos refletem bem esse nosso início de século.

O que importa é o aqui e agora, bem diferente do cristianismo de outrora que esperava no além-túmulo as benesses que não podiam ter nesta vida. As pessoas mais sensíveis podem observar que, invariavelmente, o discurso cristão atual tem como prioridade a prosperidade.

Deus deve dar ao fiel, nesta vida, as bênçãos que este tanto quer. Ser próspero é sinal de que Deus o abençoou. Se sua vida financeira, amorosa, profissional e etc não vai bem, é porque sua fé não é suficiente. Então, barganha-se com Deus.

Mal imaginam tais cristãos que muito mais do que a fé que eles podem possuir neste ser metafísico, sua crença é condicionada pelo tempo e pela sociedade em que vivem. Estes dois fatores são determinantes.

Meu argumento toma muito mais força quando comparo a Igreja Católica Apostólica Romana com as igrejas evangélicas. A igreja de Roma tenta ser coerente com o que já vem pregando a muito tempo, é inflexível, por isso perde muitos fiéis. Já os evangélicos, verdadeiros contorcionistas sociais, se adaptam às demandas de sua clientela, assim obtêm um sucesso enorme na captação de mais fileiras para o seu rebanho.

O cristianismo só existe até os nossos dias, com a força que ainda possui, devido à sua estatização por parte do Império Romano que dominou a Europa por bem mais de mil anos.

Tal dominação formou centenas de gerações profundamente influenciadas por esta que sempre se denominou a única doutrina capaz de levar alguém à salvação. E é indiscutível a força que a imposição destes valores têm sobre o Ocidente.

Qualquer uma das milhares de seitas existentes àquela época poderia ter sobrevivido. Entretanto somente o cristianismo tornou-se religião oficial. E persiste até os dias atuais, com algumas exceções, devidamente adaptado às exigências de conforto e bem-estar que são fortes características dos nossos dias.

Nietzsche propunha a transvaloração de todos os valores. E não é que os valores foram transvalorados! Os valores morais e éticos deixaram de existir para dar lugar aos valores monetários. E estes últimos são os verdadeiros valores que interessam aos cristãos contemporâneos.