DA ARTE 1

Qual será, pergunto-me, a genuína necessidade da Arte hoje? Expressará uma relação de profundidade entre os entes e o mundo? Qual, enfim, a sua grande função?

Toda obra de Arte (poema, escultura, peça teatral, cinema, pintura, fotografia, música, romance etc.) há de conter um apelo inteligente à práxis transformadora. Requererá um processo consciente não só de construção mas também de abordagem da mesma. O produto final de uma obra de Arte deve ser algo para além daquela ingênua idéia de inspiração embriagante. Ela, a meu juízo, resultará de uma realidade dominada, lúcida.

A necessidade da Arte é algo me parece irrefragável. O principal motivo? Ora, porque se trata de um fenômeno que possibilita ao homem avançar mais do que o é. Ou ele não aspira ao "Total".Todos nós, assegura Fischer, queremos nos relacionar a alguma coisa mais do que nós, alguma coisa que, sendo exterior a nós mesmos, não deixe de ser-nos essencial. Não é à toa que acreditamos na Arte como uma vereda pela qual possamos atingir o inefável, ou melhor, o mais alto grau de experiência com o EU, com o OUTRO e com o Infinito. Por isso Bandeira quer ir para Pasárgada, lá o poeta pode tudo, lá o poeta passa a SER.

O fim último da Arte, à luz dessa existência tão desumana, consiste em Esclarecer e Incitar à ação. O mágico, o lirismo, às vezes atoleimado, o ridículo, o banal, induzem o homem a atividades passivas. Não chego a ponto de dizer que tudo isso jamais deva estar presente num fenômeno artístico. Afinal, banir, por exemplo, a dimensão mágica da Arte é luta deveras vã, eis algo que lhe é inerente.

O certo é que qualquer obra de Arte, não importa quem a produza, deve facultar ao homem a capacidade crítica de Conhecer e Mudar o mundo. O resto, você sabe, é balela, é tergiversação, é tagarelice