criatividade ingênua
Criatividade ingênua
Fundamentação é tudo que um teórico deseja em seus escritos. No entanto, deparei-me diante de controvérsias que, mais do que uma simples convenção, foi uma tremenda porosidade intelectiva de meus pensamentos. Parei por alguns segundos diante de mim mesmo, e descobri que nada do que mais gostava poderia desfrutar, ou sequer, podia sentir em meus poros. Poros, que já estavam todos ressecados do dia frenético no qual me deparei. Foram momentos de angústia que jamais me esquecerei, ou se bem pensando, desejarei passar novamente.
Sou, modesta parte, convencido de que nada se passa por acaso, mas, na vida tudo o que vivenciamos, se destaca no segundo em que estamos, e nada mais. Procuro, mais do que nunca, desfrutar do que se me apresenta no momento para não ter que depois reformular o que se passou, e não ter mais tempo para voltar atrás. Sem ter sequer, sentido, o valor ou o gosto do banquete entregue ao meu paladar espiritual e, bem mais direto, o odor ao meu olfato. Mesmo assim, nada mais do que desejaria vivenciar no meu detestável dia consegui, mas para não ser tão pessimista, direi: nem tudo foi tão detestável que não tivesse sobrado tempo ou resquício da aventura quotidiana em que se afigurou aos meus olhos, e se tornaram de modo mais suave delícias que me fizeram salivar e sonhar com a degustação das letras e palavras que se decorreram disso tudo.
Algumas coisas coincidiram com as perspectivas que me atraiam no momento em que me deparava. Surpresas e mais surpresas, se me aconteciam como uma tromba d’agua que numa cachoeira se despendia pegando des-previnidos os que, acomodados, estivessem no seu leito curtindo seu maravilhoso final de semana ou feriado. Pessoas que sem afazeres, não se preocupavam com nada, senão, apenas, com diversão e curtição que diziam ser um campo de felicidade e alegrias profundas. E esta felicidade, onde se fundamenta nisso tudo que se mostra? Felicidade, nem sempre é algo que se pode contemplar, ou sequer, sentir, para de modo formidável, usufruir do momento inédito do tempo que se apresenta nos contos reais de determinadas pessoas.
Todas estas incertezas e razões da realidade que se me afiguram, estavam, talvez, todas gritando em seu esconderijo e se defrontando em minha frente querendo ser descobertas e, no mínimo, pulando em minha frente procurando o momento certo de se depararem com a vereda sombria e pálida em que caminhava. Mas, não fiquem imaginando algo sombrio, onde tudo se afigura tenebroso, e de forma mais abrupta, assombra quem quer que seja, como crianças indefesas que não tem outra alternativa senão, se entregar ao abismo que se lhe apresenta.
Mas, por um instante, imaginei que todos os fatos do mundo se debruçavam sobre mim. Pensei que tudo estava de maneira clara diante dos meus pensamentos parecendo um jovem enamorado por sua esplêndida menina moça, que nada enxerga em sua frente, senão, a imagem daquele que consome seu sono e lhe faz intercalar dias e noites numa mesma e saudosa manhã, sem saber realmente se o que está vivendo é real ou ilusão provindas de seus pensamentos. Assim, por um instante, me deparei com minhas idéias, sem saber jamais o que acontecia comigo, sem saber até mesmo se o que se passava era mistério ou se realmente os sentidos se defrontavam com as chaves do cofre das idéias, e de uma hora à outra, fazia fluir todas as fabulações do inconsciente, ou de maneira mais precisa, todas as idéias que se aprisionavam não sei onde e que neste dado momento se aclaravam e vinham à tona sem qualquer véu ou cobertura.
Contudo, mais do que procurar a origem ou fundamento preciso dos vocábulos, era na verdade, encantador, rabiscar com carinho tudo – em se tratando de letras - o que se me apresentavam e vinham em minha direção em busca de socorro ou aconchego tentando desfrutar do aquecimento dos meus dedos que não mais se restringia em tocar um instrumento. Isto, quando aparecia, mas que agora se dedicava de livre e espontânea vontade em tocar as teclas do objeto que em minha frente se encontrava.
Que dia maravilhoso este, em que nada de útil se processou de minha parte, mas, que enfim, se abriu, deveras, tantas palavras que não pude, de modo algum, conter todas as figuras que se foram construindo até então. Mas não importa, o que realmente importa é que o que pude captar não hesitei, e me debrucei em seus deliciosos manjares que se me restaram, e aos poucos, fui me encharcando de tanta doçura, que nem sequer, pude apontar qualquer distorção ou impotência que me comprometessem nas atuais conjecturas vigentes da situação em que me encontrava.
Tudo isso, por um instante, imaginei que seria apenas ilusão de meus mórbidos pensamentos, mas aos poucos fui digerindo estas tempestades que me atormentavam e descobri que não apenas me satisfaziam como poderia, de um todo, satisfazer almas que poderiam estar, por instantes, em momentos trágicos ou, se bem dizendo, angustiosos sem saber o que fazer ou discorrer. Não digo apenas, que o que faço agora é um simples ato de desafogar meus sentimentos, ou no mínimo, um momento de despótica verborréia que suplanta todos os meus pensamentos. Não. O que no momento faço é o que qualquer um sensato faria se estivesse no meu triste e desprovido lugar. Por em prática o que está fundado em seu interior com tamanha amplitude que não se pode sequer suspender ou impedir.
Fico imaginando neste momento, o que um poeta em meu lugar poderia fazer. Talvez ele disponibilizasse todo o seu arsenal de idéias e, por um instante, fizesse alguém flutuar em seu mundo mágico, e assim, viajasse em estados de espírito que não seriam, de modo algum, possível em estado natural. Seria, mais ou menos, como num sonho que se apresenta o substrato do amor coincidindo com o prestágio natural da alma quando em estado de vigília. Mas, isso é apenas uma idéia supostamente adventícia que usei, se um poeta estivesse em meu lugar. Voltemos então ao que estamos delineando. Minhas intenções e fatos estão, de um todo, instruídas neste momento, ao sabor indestrutível de algo que, nem sequer, posso atrever-me a contar e, muito menos, explicar aos que estão do outro lado da tela ou do papel se por acaso este monumento chegar a sair daqui.
Sabe, o que mais me deixa furioso, é saber que quase ninguém pode prestar atenção ao que estou escrevendo. Mas o que me importo na verdade, é que as nuanças de meus pensamentos estão sendo de forma nítida e acabada dispostos, para meu próprio orgulho e/ou vaidade. Se alguém vai dar a mínima, não importa, o que realmente importa é a variedade de "coisas" que cada um pode transmitir e, de modo vergonhoso, se omite. Se por covardia ou deficiência, cada um tem em si o poder de se auto-avaliar, mas como estou em momento lúdico em que meus pensamentos não têm muita reciprocidade, posso mais ou menos divergir, ou de preferência, tentar livrar a vida pelo menos de alguns. Não que seja por bondade ou gratidão, mas por reconhecimento e sensatez.
Digamos que o primeiro grupo de pessoas têm em si certa possibilidade de se desviar destas críticas que agora imponho, mas não terão de forma alguma, direito de se desculparem se realmente o que desejam fazer não o fazem por motivo de medo ou retaliações. Serão mais ardentemente, pactuantes com a covardia que maculam as diretrizes mais profundas do ser humano. Estes, não menos, poderiam de forma direta e promissora, travar uma luta, não de armas, nem de forças, que não levariam a lugar nenhum, mas sim, de palavras, de idéias sensatas. Estas sim, podem de forma categórica e definitiva fazer uma real transmutação de tudo o que desnorteia a humanidade, e de modo mais próximo, nossa comunidade, particular. É só assim que podemos reavivar nossas energias e por um instante, ao menos, fazer o diferencial naquilo que acreditamos.
Enfim, para que na verdade dispensei todos estes complementos verbais parecendo um assessor político em época de campanha? Na verdade, nem sei, mas não importa, o que deve-se na verdade entender, é que o pensamento é como uma bolha de sabão solta ao vento, quando menos se espera, ele se espelha e discorre nos temas mais variados que, de modo algum, seria conveniente apresentar. Estas são, na verdade, as diretrizes do órgão mais complexo e no mesmo instante mais simples que tantos tentaram definir e não tiveram definição alguma, ou seja, o pensamento.
Em contra partida, os que estão em deficiência, têm em si, não uma necessidade de se defenderem, mas sim, uma defesa que já lhe é natural, sem que ninguém, nem mesmo eles próprios, tenham direito de julgar seu modo de agir. Sabe-se muito bem, que sua tentativa de expressão já é um tanto limitada e não deve fazer algo que não consegue, basta apenas seu esforço para que sua tarefa seja cumprida. Já é o bastante. Mas, se conseguirem ir mais longe, quanto mais, melhor. Isso mostra a capacidade do ser humano de se auto-superar, vencer os desafios e não ficar na mesmice acomodados.