País do futivoto
Passaram-se as convenções, decidiram-se as candidaturas e as coligações tanto para o nível majoritário (prefeitos) quanto para o proporcional (vereadores), começa a campanha eleitoral. Importante, já que vamos escolher nossos representantes para guiarem os destinos de nossas cidades por mais quatro anos.
O brasileiro é doido por eleição. _ Para mim este é um dia de festa! Já ouvi muito esta exclamação.
Um aspecto, porém, preocupa: para muitos cidadãos vai começar uma corrida ou um torneio. É como observo que muitos vêem o quadro de um pleito eleitoral. É comum ouvir: _ Ora, aposto tantos reais no fulano e ainda te dou xis votos de lambuja. Vai?
O quadro de apostas, as rodas de conversas, os carros de propaganda, as camisetas, os botons, os adesivos nos pára-brisas dos veículos... A disputa vai aferventar. Vai começar o maior e mais animado campeonato do Brasil. _ Te anima rapaz, isso não é todo ano não.
O momento mais esperado: o dia 5 de outubro quando abrirem as urnas, ou melhor, quando forem declarados os campeões. Um dos vitoriosos aparece diante da multidão. Fogos, aplausos, delírios, agitação de bandeiras, músicas... _ Está sendo carregado nos braços da torcida, digo, dos eleitores!
Uma semana depois já estará tudo mais calmo, os fogos são poucos, a festa da vitória com muita comida e bebida para todos já não tem a mesma exaltação.
Alegria de eleitor e a mesma alegria de torcedor de futebol: é só no momento da vitória. Parecido com o que ocorre com os times: a conquista mais difícil, aquela em que o adversário não se entregava; que levou o jogo da final para a prorrogação e ainda deu empate; que precisou o goleiro fazer milagre nas cobranças dos tiros livres diretos da marca do pênalti; são logo esquecidas. Se o time errar um gol no jogo da entrega de faixas, será vaiado. Memória curta.
Meses depois alguns eleitores já não lembram em quem votaram. Para o eleito isso é cômodo uma vez que sendo esquecido não haverá cobrança nem é necessário sequer, coerência do que vai ser feito em relação ao que foi dito em discursos.
Voto não pode ser confundido com bilhete de loteria onde se lança a sorte futurando ganhar uns trocados. Voto é procuração que se dá alguém para nos representar da melhor forma nas instâncias decisórias do município. Voto é poder. Voto traz conseqüências. Eleição não é prática esportiva onde o importante é competir, e se divertir e se esbaldar na hora da vitória. Eleição é escolha séria.
Uma eleição pode até ser comparada com uma competição, mas para vermos quem é o mais honesto, o mais coerente, o mais humano, o mais sensível para com os problemas sociais e ambientais. Portanto, essa competição não acaba no dia 5 de outubro, ao contrário, inicia-se no dia da posse e vai até o final do mandato recebido do eleitor.
A camiseta mais insinuante no futebol traz um slogan com o nome do time e em seguida o complemento: rumo a Tóquio, alusão ao campeonato mundial de clubes, competição máxima que um clube pode chegar. Na campanha eleitoral o eleitor deveria colocar junto ao nome e à fotografia do candidato o complemento: rumo à ética.