MAIS VIDA, MAIS LEITURAS!
A proposta de escrever sobre a relação entre leitura e longevidade pareceu-me, no mínimo, instigante e perturbadora. Que efeitos a leitura poderia produzir sobre a expectativa de vida das pessoas? Universitários e cientistas viveriam mais que cidadãos comuns? Diante do desafio, pus-me em estado de prontidão para a leitura e realizei uma pequena pesquisa a respeito desse assunto na rede mundial de computadores.
De fato, recentemente a revista Veja publicou um artigo assinado por CAMILA ANTUNES sobre tão intrigante questão: "O bê-á-bá da longevidade". Segundo a matéria, “pesquisas demonstram que os universitários vivem mais”. Contudo, GABRIEL PERISSÉ, do Observatório da Imprensa, afirma que as idéias expostas naquela matéria são fundadas, sobretudo, numa pesquisa realizada por uma economista, ADRIANA LLERAS-MUNEY, fato que depõe negativamente para a validade de tais afirmações, afinal, como uma economista poderia realizar tal pesquisa com um mínimo de rigor científico?
Embora seja inegável o reconhecimento de que a educação cumpre papel central e importantíssimo em nossas vidas, uma abordagem simplista da questão, como esta da Veja, pode nos levar a acreditar que uma melhor distribuição de renda, investimentos em saúde, saneamento básico e qualidade de vida da população produzem menos resultados sobre a expectativa de vida que investimentos específicos em educação ou em programas de leitura, o que não corresponde à realidade.
Apesar de não podermos sustentar essa hipótese em sólidas pesquisas científicas, não se podem negar os benefícios que o hábito da leitura traz para a qualidade de vida das pessoas. É possível encontrarmos depoimentos como o da gaúcha MARINA BORTOWSKI, de 101 anos de idade, que participou do I ENCONTRO DE LONGEVIDADE promovido pela UNIVERSIA, São Paulo, e que afirmou, categoricamente: "a mente tem que trabalhar, leio bastante, tenho atenção, gravo poesias e trechos de livros, a leitura é uma maravilha", ressaltando a importância da leitura para garantir-lhe a lucidez.
É óbvio que o hábito da leitura estimula os processos cerebrais e contribui para a permanência da lucidez, quando se chega à senilidade, mas é importante também que, aliado a isso, tenha-se qualidade de vida, o que inclui boa alimentação, descanso noturno sem perturbações, atividades sociais, práticas esportivas, lazer e descontração.
Gostaria, contudo, de ressaltar que, nessa discussão, o foco de nossa atenção deve se orientar para os benefícios que a leitura traz para a nossa vida, no sentido de torná-la mais plena, não mais longa.
É a leitura que nos abre as portas da fantasia e nos permite viajar por lugares inimagináveis, vivendo as maiores aventuras, sem sair de onde estamos. É a leitura que nos liberta da escuridão da ignorância e nos torna cidadãos ativos, capazes de protestar contra tudo aquilo com que não concordamos. É a leitura que nos abre os caminhos para melhorar nossa própria qualidade de vida, permitindo-nos boas colocações profissionais e dando-nos acesso aos bens e serviços que a sociedade moderna pode nos oferecer. É a leitura que descortina os segredos do passado da humanidade, permitindo-nos compreender como viviam os antigos, como eram suas culturas, o que herdamos desses antepassados, pois o conhecimento acumulado pela humanidade ao longo de sua trajetória no planeta Terra foi registrado em inúmeros livros, e só a leitura pode nos levar até ele. É a leitura que nos faz sentir profundamente, por meio da poesia, os sentimentos mais intensos e universais do homem, sentimentos com os quais nos identificamos e temos prazer. É a leitura que nos permite o autoconhecimento, pois à medida que conhecemos o outro, o que o outro pensa e sente, passamos também a nos conhecer melhor, o que pensamos e sentimos. Enfim, como vivemos em um mundo letrado, como as letras estão por toda a parte, como tudo à nossa volta se transfigura em letras, é praticamente impossível viver bem e plenamente se não usufruirmos da leitura.
É claro, alguém que viva 101 anos, como nossa amiga MARINA, terá muito mais oportunidades de se deliciar com os sabores das mais variadas leituras e, obviamente, viverá muito melhor, pois terá lido muito mais.
(Em 31/10/2007, para a III SEMANA DE LEITURA da Escola Municipal Tiradentes)
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