CINEMA E TEATRO, EDUCANDO PARA A VIDA

Há mais de 20 anos, realizo um espetáculo nas escolas por onde passei e onde ainda atuo como professora de Língua Portuguesa. Trata-se de um trabalho em que os alunos transformam palavras em dança. Com essa atividade, enfrentei muitos preconceitos e incompreensões, afinal “estava atrapalhando as outras aulas”, pois os alunos “só pensavam nisso!”. Não obstante, sempre chegamos, com sucesso, à conclusão da referida atividade, sempre! E, melhor, deixando todos, sem exceção, encantados com tamanha habilidade mostrada por eles. “Como conseguiram?!”. Conseguiram porque a linguagem da arte é universal e empírica. Basta que acreditemos e eles fazem acontecer.

Curioso como é difícil entender um procedimento lúdico como forma de aprendizado. Sem dúvida, os jovens entendem mais rapidamente o sentido de uma atividade assim, como forma de crescer para a vida. Falta a nós, “sábios” mestres, mais ousadia para nos reinventarmos diante de um mundo que nos oferece tanto em termos de novidades tecnológicas. Não seria hora, então, de largarmos um pouco a lousa, salas fechadas, microfones, listas intermináveis que “garantem” o “massacre” dos nossos adversários na conquista por uma vaga nas melhores Universidades do Estado e partirmos rumo à vivência?! Fico pensando se não seria mais proveitoso, em termos humanos, aprendermos, antes, a lidar com o outro, interagir para que consigamos construir um mundo menos tenso, menos preconceituoso, mais intenso de emoções, enfim, mais “coletivo.” Precisamos orientar o nosso jovem para que ele entenda, pelo menos, o que o poeta quis dizer com “Verbo eu, pra mim, já morreu”, ou “Se é pra ir, vamos juntos, se não é, já não estou nem aí.”

De nada adianta cobrar uma consciência crítica dos nossos alunos embasando-os apenas com jornais e revistas especializadas em informar. A consciência crítica nasce, acredito eu, primeiramente, da observação, empiricamente. Nasce da vivência.

Observei algo interessante, mas que não representou uma novidade para mim: nas análises de textos feitas em sala de aula sobre a violência, as injustiças sociais, a fome, o medo, consegui muito menos em termos de consciência crítica, do que quando passei os filmes CARANDIRU e CIDADE DE DEUS. Pesou, na sala onde os filmes foram exibidos, um silêncio que gritava, ensurdecedor. Ali, com o filme, eles “viveram” a realidade. Era palpável! Eis a magia do cinema colocando-os como seus reféns. Ela dominou aqueles jovens, que saíram dali ávidos por justiça, mas sentindo-se impotentes para conseguir tanto. Foram dias de discussões e muitas análises. E como foi bom percebê-los travestidos de cidadãos num mundo onde são tão pouco respeitados nessa condição. Havia agora entre eles uma visão crítica, embasada por argumentos palpáveis e objetivos. Nasciam ali alguns cidadãos com idéias próprias e uma posição madura e objetiva sobre o mundo; o mundo onde vivem.

Não tenho a menor dúvida de que, tanto o cinema quanto o teatro ou, ainda, qualquer forma de arte, pode e consegue despertar a consciência crítica de qualquer cidadão, além de desenvolver nele a sensibilidade para ver o subliminar que existe em toda parte. Ninguém assiste a uma peça teatral de qualidade ou a um filme bem produzido, emoldurados por pesquisas e um bom texto, sem interagir com ele e isso é crescimento cultural e, por que não, espiritual.

Levar, portanto, o nosso jovem a vivenciar o seu dia-a-dia, através do cinema ou do teatro, montando peças, criando roteiros, elaborando pareceres, buscando informações, conteúdo, para realizar suas atividades, ou, simplesmente, assistindo a outros filmes é estar formando um cidadão mais ético, mais preparado para a vida e suas armadilhas. É, sem dúvida, prepará-lo, inclusive para um mercado de trabalho mais competitivo e, com certeza, as habilidades por ele desenvolvidas, a sua capacidade de estruturar idéias e conceber teses sobre a vida como um todo, serão a certeza de que esse é o caminho: educar para a consciência crítica e isso fará a diferença.

Obviamente que não sugiro o abandono do ensino tradicional, mas podemos ousar, sim e irmos além dos nossos próprios limites. Vamos enfrentar muitas dificuldades, sei disso, pois vivo isso, mas vamos cumprir o nosso papel sem medos, com mais ousadia, pois não estaremos nos limitando a provas e aulas onde só nós professores damos o “show”, só nós sabemos. Não! Eles deverão ser sempre os protagonistas e nós, simples coadjuvantes, mas fundamentais para que entendam que a educação não se restringe a “decorebas” que em breve serão esquecidos, pois de pouco valem. No entanto, o que se aprende verdadeiramente fica na alma, nas entranhas do espírito e só com prazer pode- se chegar mais rapidamente a isso.

O CINEMA bem como o TEATRO são fortes aliados para formar jovens mais conscientes e preparados para a vida. Por isso, sigo fazendo meu Festival que, além de tudo, é beneficente. E meus garotos aprendem...e como aprendem...

ZanaPires
Enviado por ZanaPires em 28/06/2008
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