O BELO, O SOFRIMENTO E A SENSIBILIDADE.

A vida nos ensina algumas coisas. Por exemplo, observar a beleza na adversidade. Certa manhã, fria em demasia, precisei me deslocar para Flor da Serra do Sul para efetivar uma palestra empresarial. No caminho, um raro privilégio me encantou, o de ver a geada a cobrir a vegetação de beira de estrada. Uma paisagem européia, só imaginada em postais, pelos mineiros como eu.

Sei que uma realidade fria como esta tem o seu lado sofrido, em especial para as pessoas desprovidas de agasalhos ou cobertores, bem como para a agricultura, quando é excessiva. Mas podemos compensar um pouco olhando à nossa volta e encontrando os mais necessitados, abençoando-os com aquilo que lhes seja necessário, e que, talvez nos sobre.

Tudo que é belo, apreciável, digno de elogio, tem o seu paralelo negativo, ou revela uma carência específica a ser preenchida. Por isto a sensibilidade precisa estar presente em todos nós. Há pessoas perto de nós que gostariam muito de experimentar as vitórias que temos obtido, seja a nível pessoal ou social. Posso dizer também que existem pessoas que por outro lado invejam as nossas conquistas, pensando que não seriam próprias para nós. Como conviver com esta realidade?

Assim como fazemos com a geada. Com a compreensão de que o belo que se faz presente no frio é digno de elogio. Com a sensibilidade de que a divulgação deste belo pode estabelecer naqueles que sofrem um sentimento de indignação e perplexidade. Com a convicção de que não contribuímos para o sofrimento de ninguém, mas que não podemos calar o belo por causa do sofrimento, e sim criar caminhos para que as pessoas deixem de sofrer, ao ponto de vencidas as crises, observar o belo no contexto da adversidade.

Pessoas bem agasalhadas olham para a geada com outro olhar, não é mesmo? Assim as pessoas que conquistam as possibilidades vitoriosas nesta vida passam a olhar para as pessoas vitoriosas e, ao contrario de criticar, admirar os seus feitos. Ajudando a transformar os horizontes das pessoas, assim faremos com que o belo deixe de ser alvo de apedrejamento, ou motivo de orgulho, para tornarem-se degraus nos quais todos possam subir, sem deixar de ajudar aqueles que vêm logo atrás.

Se não me engano Thomas Hobes, filosofando, definiu o homem como essencialmente mau, enquanto Rosseau, usando a mesma abordagem filosófica emitiu parecer contrario, explicitando-o essencialmente bom. Deus, que o fez, no Gênesis, diz: “– Muito bom”.

Que capacidade sobrenatural de ver o belo, mesmo no homem pecador, ao ponto de enviar o Seu Filho para morrer pelo mesmo, a fim de transformar o seu modo de ser. Somos os agentes de Deus nisto, quando estamos em aliança com Ele.

As mais variadas campanhas do agasalho e cobertor estão por ai. Façamos a nossa parte no estabelecimento do belo.