A quem convém o esquecimento?

Exatamente, como foi previsto há cerca de 60 anos, hoje tem gente tentando provar que o “holocausto”, o Gueto de Varsóvia e os campos de extermínio não existiram, ou se ocorreram foi algo de proporções modestas, não do tamanho que quiseram pintar.

Por uma questão de fidelidade à História cabe lembrar que, quando o Supremo Comandante das Forças aliadas (Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, etc.), General Dwight Eisenhower encontrou as vítimas dos campos de concentração dos nazistas, em Auschwitz, Dachau, Chelmno, Sobibor, Lublin e outros, ordenou que fosse feito o maior número possível de fotos, e fez com que os alemães e poloneses das cidades vizinhas fossem levados até aqueles campos e ajudassem a enterrar os mortos. Não se tratava tanto de uma ajuda, mas de testemunhar aqueles horrores, cuja maldade não era possível imaginar.

E o motivo, ele assim explanou: “Que se tenha o máximo de documentação - façam filmes - gravem testemunhos - porque, em algum momento ao longo da história, algum idiota vai se erguer e dirá que isto aqui nunca aconteceu”. A esse respeito, reporto-me a uma citação do filósofo político inglês Edmund Burke († 1797), um crítico das atrocidades da Revolução Francesa, disse que “Tudo o que é necessário para o triunfo do mal, é que os homens de bem nada façam”.

Dando curso às profecias mais pessimistas, há poucos meses, a Inglaterra removeu os relatos do Holocausto dos seus currículos escolares porque “ofendia” a população muçulmana, que afirma que o Holocausto nunca aconteceu. Este é um presságio assustador sobre o medo e a intolerância que estão atingindo o mundo, e o quão facilmente cada país se deixar levar pelas pressões de minorias fanáticas.

Estamos há mais de 60 anos do término da Segunda Guerra Mundial. Muitos de nossos jovens ignoram o que aconteceu. As narrativas, através de letras frias, não dão conta da gravidade do que aconteceu. Por incompleta enquanto ciência, a História tem memória culta e é incapaz de reavivar memórias e consciências.

O esquecimento de fatos como os ocorridos nos campos de concentração e nos “gulags” interessa a fascistas e fundamentalistas que querem, talvez, um dia repetir aqueles horrores. Por uma estúpida divergência religiosa e ideológica, querem negar um fato histórico atestado por milhares de documentos, testemunhos e fotografias.

Esta crônica tem a intenção de funcionar como um processo de lembrança dos fatos ocorridos, em memória dos seis milhões de judeus, 20 milhões de russos, 10 milhões de cristãos, que foram assassinados, massacrados, violentados, queimados, mortos por fome e humilhados, enquanto Alemanha, Rússia e outros países olhavam em outras direções.

Agora, mais do que nunca, com o Irã, entre outros fanáticos, sustentando que o “Holocausto é um mito”, torna-se imperativo fazer com que o mundo jamais esqueça da barbárie ocorrida, assim como se envide esforços para que coisas semelhantes jamais ocorram.

o autor é filósofo, ex-professor de Ciência Política