PREFERENCIAL ou OBRIGATÓRIO.

PREFERENCIAL ou OBRIGATÓRIO.

De Zeka Netta.

Alguém já parou para analisar que tudo em nosso país chega a redundância de acostumarem-se com a nomenclatura, não temos rampas e acessos a quem usa cadeira de rodas, mas não podemos dizer que são paralíticos e sim que são cadeirantes. O cego não é mais cego é portador de deficiência visual. Outros passaram a associar a sua necessidade como adjetivo do mesmo contexto: Portador de necessidade e mais o adjetivo perdão a necessidade ou classe a que pertencem.

O que mais me irrita é o famoso banco preferencial nos ônibus, pintaram de amarelo ou vermelho, que muitos assentam-se e jogam a cabeça no vidro e roncam, outros olham simplesmente para a paisagem urbana e fingem que estão sós, não há nenhum idoso, ou senhora grávida ou com criança ao colo ou algum portador de alguma coisa, afinal todos somos portadores: dores do trabalho, dores da mente e dores da alma.

No domingo último depois de um ótimo espetáculo que realizamos durante o III FETECO, estávamos toda a família na fila para apanhar o ônibus, algumas pessoas furaram a fila ao abrir a porta, entramos e neste lugar chamado preferencial havia uma senhora que havia furado a fila, já começando deste fato ela não tinha o direito de ocupar aquele lugar.

Amavelmente cheguei a ela e disse:

__Oi, a senhora cederia lugar à minha esposa que está com a neném a dormir ao colo?!

__Eu não! Ta escrito aqui que é meu este lugar.

__Minha senhora a senhora está confundindo preferência com posse e obrigatoriedade, a senhora foi jogar bingo na igreja deve ter passado a tarde toda sentada.

__Eu não, eu fui trabalhar na minha igreja.

__Então tudo bem, a senhora senta, amanhã sei que pegaremos o mesmo ônibus como sempre aí eu como sempre me levantarei e darei o meu lugar a senhora.

__Mas...

__Não vamos discutir, agora não é hora de ensiná-la a diferença. O que realmente aconteceu é que aumentou a má educação das pessoas e o governo para sanar a sua falha desde que julgando ser um assunto militar as aulas de moral e cívica as retirou do currículo escolar, resolveu mudar a nomenclatura de algumas coisas para ficar bonito e tentar fazer as pessoas usarem seu senso moral, exemplão aí e de graça: A senhora tem idade? Eu concordo. Mas a senhora aqui está com um bebê ao colo e em pé, o que eu seu senso moral lhe diz? A senhora me respondeu foda-se, isso quer dizer que amanhã eu posso também lhe dizer na mesma altura e a senhora vai ter que me engolir. Ah, mais aí a senhora vai vir correndo falar do EPI, que vem a ser o que? Um estatuto que foi criado para proteger as pessoas que não souberam educar seus filhos e netos.

__Claro que não.

__A senhora neste momento mesmo não fez isso não cedendo seu lugar? Se a senhora tivesse feito, outra destas pessoas que estão indo a alguma igreja neste momento pedir bênçãos e perdão pela semana e que espero já peça pela atitude de agora pouco, com certeza veriam sua atitude e a teriam levantado e oferecido lugar, mas como a senhora não deu exemplo amanhã não tenho dúvida elas não lhe darão o lugar. E além do mais tenha um resto belo de domingo com muita luz e lembre-se Jesus ama você, mas você tem amar alguém também, ta querida?!

__ Cadê a mulher?!

__De pé ali, mas pode ficar e aproveite bem.

O que começou a irritar todos que estavam naquela superlotação é que a senhora não se sentou, fez a viagem em pé, as pessoas resmungavam, comentários sobre os idosos que jogam bingos todos os dias aí tomam os lugares, por que quem organiza essas atividades para a terceira idade não cede transporte a eles, quem diria que dia 22 de junho plantaríamos a semente filosófica da revolução pela moral e pelo civismo.

A senhora , demonstrou que só não quis ceder seu lugar apenas e simplesmente isso, só voltou a sentar quando descemos no Terminal do Cabral e me olhou com seus lindos olhos negros de contestação.