Homens de uniforme

O uso do uniforme serve para igualar, nivelar. Na escola usa-se a padronização das vestes com o fito de evitar que as crianças e os jovens não sejam vítimas das distorções sociais e de poder aquisitivo. Em alguns ambientes de trabalho as chefias impõem o uso de uniforme para livrar o ambiente das competições, do desfile de beleza ou concurso de bunda. As vestes talares de ministros religiosos e seus coroinhas, magistrados e formandos servem para identificar seu múnus e, ao mesmo tempo, caracterizar uma atividade momentânea.

A história da humanidade nos revela que os uniformes já estão presentes desde as milícias e as cortes da remota Antiguidade. Os sacerdotes tinham suas roupas especiais; igualmente os nobres, os conselheiros e os empregados dos palácios. Os exércitos tinham suas capas coloridas (os espartanos usavam vermelho, os ateniense e persas preto, os egípcios o branco). Posteriormente, as legiões romanas, copiando os gregos usavam mantos vermelhos, em cima de suas armaduras.

A grande verdade é que o uniforme sempre deu um toque de diferenciação, de imposição e de poder. Nem por isso o uniforme é unanimidade. Platão, em “A República” (século IV a.C.), por exemplo, critica as milícias gregas, afirmando serem “prepotentes buscando se tornarem potentes”. Modernamente, Montesquieu, em “O Espírito das Leis” (século XVIII) criticou os gent d’armes (militares) condenando a truculência da Guarda Nacional Corsa, que daria origem à tropa da elite de Napoleão.

A verdade é que o uniforme, por diferenciar seu usuário dos demais, sempre trouxe consigo uma diferenciação de conduta, beirando, não-raro, a prepotência denunciada por Platão. O fato marcante é que o homem uniformizado, em muitos casos se acha mais-homem que os demais. Pior ainda quando estiver armado e respaldado por um grupo atrás de si.

Vocês já notaram a arrogância, por exemplo, dos tripulantes dos “carros forte” que fazem o serviço bancário? Eles descem das viaturas, de arma na mão, olhando feio para todo mundo, como se todos fossem suspeitos, interessados em tirar-lhe o pão da boca. Para o indivíduo imaturo, o uniforme se transforma numa cobertura para suas fantasias ou frustrações, gerando, em muitos casos, conflitos e situações de constrangimento. Isso gerou no passado, e não é possível esquecer, odiosos chavões do tipo “você sabe com quem está falando”?

A valentia do homem uniformizado tem o tamanho de suas armas ou da escolta que lhe dá suporte. Sozinho, despido da fantasia, ele se revela frágil e, em muitas oportunidades, no divã do analista, no confessionário ou na frente do gerente do banco, chora.

Diz a sabedoria popular que, se alguém quiser medir o caráter de um homem, coloque poder ou riqueza em suas mãos. Considerando o presente assunto, pode-se incluir o uniforme. Coloque um uniforme em alguém e será possível aferir seu grau de maturidade. Isto serve para militar, policial, funcionário, vigilante e até porteiro de boate.

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 16/06/2008
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