PREFEITO REPENTISTA

Recebi e repasso a vocês.

Antônio Gomes de Sousa (conhecido como Jurdan), radialista e poeta popular de Belém do Piauí (PI), localizada no semi-árido nordestino, foi também prefeito de sua cidade.

Encrencado com o Tribunal de Contas do Estado, resolveu usar seus dotes poéticos para tentar se safar das exigências.

Em maio de 2004, depois de requerida a intervenção no seu município, por atraso na entrega do balanço do ano anterior, o então prefeito encaminhou a documentação atrasada, juntamente com um ofício do seguinte teor:

Entrego as contas atrasadas

Sou muito despercebido

Claro que não sou corrupto

Pois corrupto é precavido

Quem é corrupto e ladrão

Faz tudo na prevenção

Pra não cair no cacete

Camufla patifarias

No Tribunal tá em dia

Não atrasa balancetes.

Sem perder o tom, o auditor Jaylson Fabiano Lopes Campelo respondeu:

Estou muito satisfeito

Pela sua atenção

De parabéns o prefeito

Que cumpriu a obrigação

Ao Tribunal prestou contas

E ficou livre da bronca

Não tem mais intervenção

O senhor sofreu um pouco

Seu prefeito de Belém

Sei que passou por sufoco

E isso não lhe convém

Pois traga as contas em dia

Pra não ter mais correria

Digo isso “pro” seu bem.

Encerrado o mandato, Jurdan foi notificado em janeiro de 2006 para devolver cerca de dois milhões de reais que teriam sido desviados de suas finalidades. Em resposta, enviou um ofício lamurioso ao então presidente do Tribunal de Contas, Luciano Nunes Santos:

Entrego as contas atrasadas

Mas vou contar minha história

É que assessor de prefeito

Parece não ter memória

Quando o sujeito é prefeito

Tem babão de todo jeito

Mas quando o mandato acaba

Eles vão pra outro caminho

E você fica sozinho

Igual um louro na taba

Pra fechar um balancete

Você enfrenta loucura

Quem devia lhe ajudar

É quem fica com frescura

Muitos não tão nem aí

Você igual a sagüi

Pula aqui, pula acolá

Começa a viver sem trégua

E esses fios dumas égua

Nem dão bolas pra o azar

Ainda vem o Tribunal

Falando em devolução

Devolvo se eu receber

O que foi pra população

Tem que ter ressarcimento

De todo o melhoramento

Que engrandeceu Belém

Como isso não tem mais jeito

Eu não tenho nenhum direito

De devolver um vintém

O dinheiro foi empregado

Em saúde e educação

Abrangeu o social

Onde a maior ação

Construção e calçamento

Enorme melhoramento

Quando falo me comovo

Fato que me faz crescer

Como é que eu vou devolver

Se tudo estar com o povo

Sei que sou bem descansado

Lesado e muito tungão

Mais garanto com firmeza

Eu não sou corrupto, não

Posso ser desprecavido

Bastante despercebido

No fato não ter razão

Foi uma infelicidade

Quem faz erros sem maldade

Não merece punição

RONALDO JOSÉ DE ALMEIDA
Enviado por RONALDO JOSÉ DE ALMEIDA em 15/06/2008
Código do texto: T1035843
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