Brasil na terceira idade: preconceito ainda é grande
 
Por: Valdeck Almeida de Jesus
 
O brasileiro vive mais devido ao avanço da medicina e políticas sociais pontuais, mas ainda enfrenta preconceito na terceira idade. De acordo com o IBGE (2000) Salvador possui 165 mil pessoas acima do 60 anos. Dessas, 100 mil são mulheres e 65 mil são homens. Boa parte delas reside em bairros populosos, onde não há praças ou locais suficientes para diversão. Por falta de diálogo na família ou de bate-papo saudável, várias pessoas se encontram nas praças centrais da cidade, para rever amigos, contemplar a natureza, observar o movimento ou simplesmente passar o tempo.
 
A maioria das pessoas na terceira idade está aposentada, ganhando um salário mínimo, ajuda em casa e gasta a maior parte da renda com remédios. O perfil dos visitantes das praças da Piedade e Campo Grande é semelhante: senhores que moram nos bairros mais afastados do centro. As mulheres são minoria. Até no momento de lazer a discriminação deixa a mulher em casa, cuidando dos afazeres domésticos. Entre os homens também há divisão: eles se reúnem em grupos por afinidade de profissão. Há espaços separados nas praças para quem é aposentado da Petrobrás, Banco do Brasil, Prefeitura Municipal etc.
 
Carmelita Pereira dos Santos, de Fazenda Grande do Retiro, é uma das poucas que freqüenta o Campo Grande. Auxiliar de Enfermagem aposentada, 67 anos, mãe de 13 filhos biológicos e 6 adotados, ela diz que sempre vai à praça para conversar com as amigas: "se a gente não tem amigos, faz aqui na praça", "pois em casa não tenho espaço para diversão", confessa. Para Gildete Alves de Jesus, 68 anos, doméstica aposentada, de São Gonçalo do Retiro, a praça é lugar de tranqüilidade: "gosto de admirar a paisagem, aproveitar momentos de paz que só encontro aqui". Em casa ela não tem tempo para descanso: "volto pra casa com as energias renovadas".
 
Mais que diversão, o professor de matemática aposentado, Eraldo Pereira Pinheiro, 68, revela que na Piedade busca cultura e reciclar seus conhecimentos. "Gosto de trocar informações, debater. Aqui já tenho amigos com quem converso sobre filosofia, religião, política, e em casa não tenho espaço". Rever amigos é o motivo principal de Mário Viana da Silva, 63 anos, médico neurologista, que faz questão de frisar que é primo do ex-deputado Luiz Viana Filho e foi amigo de Antônio Carlos Magalhães. É o que faz, também, Ostrelino Joaquim da Costa, 74 anos, ajudante de pedreiro aposentado, morador de Águas Claras. "Venho todos os dias encontrar com os amigos, pois onde moro não tem opção de lazer", afirma.
 

Fotos: Praça da Piedade
 
Valdeck Almeida de Jesus
Enviado por Valdeck Almeida de Jesus em 11/06/2008
Reeditado em 11/06/2008
Código do texto: T1028951
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