Crise de ética?

Quando escrevi, no final de 1998 o livro “Crise da ética”, Editora Vozes, hoje na 4ª. edição, eu afirmei que se nosso sistema sociopolítico não abrisse o olho, em breve, em questão de dez anos, teríamos uma sociedade imersa na impunidade, na ilicitude e na desfaçatez. Não deu outra!

O Rio Grande do Sul está imerso em uma das maiores crises políticas e morais da sua história. A CPI do Detran está jogando “aquilo” no ventilador do Piratini. Muitos fatos surgiram e talvez outros mais escabrosos estejam por aparecer, o que já leva alguns segmentos da sociedade a alimentar a idéia de um impeachment da senhora Governadora, a quem, ainda na campanha política, eu classifiquei de “teórica” e despreparada para o exercício.

Em entrevista à TVCOM , na noite de 9 de junho, Yeda se confessou injustiçada, pois a opinião pública não enxergava as “coisas boas” de seu governo. Quais? A segurança, as estradas, a educação, a máquina pública? Quando um governo não vai bem, até algumas coisas boas que possam ter ocorrido não têm a capacidade de encobrir os descaminhos verificados. Em sua defesa, para descaracterizar a tempestade, gerada a partir do Executivo, a Governadora afirmou que tudo revela uma crise de ética.

Ora, como jogo de palavras até que esse argumento pode confundir alguém. Mas quem está ligado nos fatos, nas notícias, nas atitudes e nos demais desdobramentos, não pode aceitar esse tipo de retórica política, oca e inócua. Embora a mídia gaúcha esteja tentando estabelecer uma blindagem em torno da Governadora, sua base aliada e de sustentação política está prestes a tirar o time de campo, tal o volume da crise.

O que é uma crise de ética? Basicamente – já que éthos é bom comportamento – uma crise dessa envergadura aponta para o ato de alguém fazer coisas erradas, praticar possíveis ilicitudes. Que não se busque estabelecer uma crítica ética a quem tenta denunciar irregularidades.

O DEM (nova pele do PFL) quer a expulsão do vice-governador Paulo Feijó. Essa pretensão é escandalosa. Não se voltam contra quem praticou algum suposto ilícito, ou a tentativa de cooptação, mas chamam de “mau caráter” quem denunciou as irregularidades. É como aquele cara que chegou em casa e pegou a mulher fazendo sexo com o amante no sofá da sala. Indignado, ele vendeu o sofá. Não é bem assim?

Crise de ética começa na impunidade. No Rio Grande, como de resto em todo o Brasil, a Polícia Federal, qual a Geheine Staatspolizei (Gestapo) de Hitler invade casas e entidades, faz um estardalhaço, prende, algema, expõe à execração pública, e logo depois o indivíduo sai livre, leve e solto.

O Ministério Público com suas investigações também tem participado desses atos de mínima eficácia. Eu citaria dois: Jader Barbalho e Paulo Maluf. Os indiciados no escândalo do Detran também foram algemados e conduzidos no camburão. Aposto como daqui a seis meses eles estão posando de injustiçados e beneméritos?

O autor é filósofo e escritor

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 10/06/2008
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