Caminhando Sobre As Águas
Caminhando Sobre As Águas
Igor Shiklomanov nasceu na Rússia em 1939. Não é o pai da hidrogeologia mas, quando ele se graduou na matéria, em 1961, abraçou-a de tal forma que hoje ele diz “é a minha ciência, dediquei 45 anos da minha vida por ela”. A ciência de Igor estuda as águas na crosta terrestre, e, recentemente, chegou na estimativa acerca do montante de água disponível no planeta, incluindo nesse cálculo até a quantidade de urina e suor expelidos por cada ser humano, e por aí tem-se uma idéia do tamanho da empreitada por ele formulada.
• Quantidade de água disponível no planeta: 1,4 bilhão de km3
(detalhe: os números de duas décadas atrás estão próximos disso)
• Esse volume de água significa não só os estoques de gelo nos pólos e cumes de montanha como obviamente se estende aos oceanos, mares, lagos, rios e o volume retido nos solos das florestas.
• Ciclo Hidrológico é o nome que se dá ao mecanismo natural para a oferta de água potável e a mesma só é possível devido a distância entre a Terra e o Sol.
• Fotodissociação é o nome do processo e/ou outro mecanismo, que faz com que moléculas de água em elevadas altitudes sejam rompidas pela radiação ultra violeta. (Fato que a “destruição” da camada de ozônio termina por amplificar)
• A contrapartida na balança da Fotodissociação é uma inusitada fonte de abastecimento que o planeta recebe dos céus – literalmente, através da entrada na atmosfera de blocos de gelo liberados por cometas.
• A cada ano 505 mil km3 são evaporados dos oceanos. 458 mil retornam aos oceanos. A diferença cai em continentes e ilhas. Mesmo assim não é uma conta exata.
Nesse trecho, e em se tratando do tema proposto, não há como fugir do próximo tópico.
• A maioria das “províncias produtivas do mar” - as águas costeiras - são afetadas pelas águas de origem telúrica (os rios).
• As artérias de água doce desempenham papel crucial na saúde do mar.
Os rios, antes fertilizantes marítimos, transformaram-se em rins, envenenando o mar com material tóxico. Ocorre, então, que ao se falar de rios, temos de falar do maior rio do mundo. Mas não se trata apenas do maior rio do mundo. O Amazonas equivale a um quinto de toda a água de rio do planeta. “Mar de Água Doce” é um dos seus apelidos dados pela comunidade cientifica, que atesta que essa massa em movimento, com 6.400 km de extensão “só pode ser compreendida por uma sucessão de comparações espantosas”. Sábias palavras. O fluxo do Amazonas é quase 12 vezes maior do que o do Mississipi e 16 maior que o do Nilo. Também é o mais largo: na foz são 320 km de largura. Pois, toda essa grandeza chamada Amazonas despeja no mar 190.000 m3 por segundo. Um dado que não deve ter fugido ao cálculo do russo.
Jacques Cousteau, inegavelmente um dos responsáveis pela quantidade e qualidade de dados disponíveis dessa região do globo, diz em seu diário de bordo “compreendo que agora estamos entrando em 2 rios – o Amazonas, pelo qual o Calypso vai navegar, e o rio vertical das chuvas intensas da Amazônia”.
Numa mesma frase, duas referências sobre fontes de água.
Então, vários elementos foram inseridos nesse contexto, e se o sr. Igor chegou `a estimativa X, vale inserir no contexto a informação de que uma única bétula, num dia quente de verão, chega a consumir 400 litros de água.
A superfície foliar do planeta, em 1970, data aproximada, era de 65 milhões de km quadrados. A superfície foliar consome água. Essa superfície com certeza foi reduzida desde então. Sabe-se que as ditas florestas artificiais são quase desertos perante “matas nativas”, já que essas últimas tem uma produção extraordinária de frutos, principalmente se comparar com um mar de eucaliptos, onde nem passarinho se ouve.
Uma floresta como a do Amazonas, contando com sua malha de artérias, mais a floresta submersa, atinge proporções continentais que mal caberia no território contíguo dos EUA, lembrando sempre ao leitor que a Amazônia não é só nossa, já que a região total se estende por 9 países.
Esse artigo chega ao final pretendendo unicamente sugerir um minuto de reflexão, juntar esse poucos dados aqui inseridos, considerar a água também como um reagente vivo das emoções e pensamentos humanos (não só vitima das suas ações físicas), e pensar sobre a validade de simplesmente rotular de pensamento esotérico, o fundamento de Gaia. Fundamento este que, em última análise, atesta que a Terra é um ser vivo, e assim como nós, um organismo.