Projetar uma Evasão
Respeitando as leis da natureza e o ciclo da vida construiu sua morada.
Si abres a janela: uma olhada sobre o vale.
Pode fechar a porta de entrada, nunca o coração. Isso é que merece sentir, sentar-se, a um próprio se convidar a abanar a alma: Há uma estrada longa, sobe desde o inicio da montanha, se debruça como se cada balcão tivesse sido harmonizado pela mão poderosa de um ser superior: tu que quando sobes o desces com o intuito mudas a paisagem. Que importa então se ao chegar estivesse vazio... Afinal a gente só ocupa um espaço a maior, a pesares de possuir a armadinha das importâncias.
Porem sempre ficam os que nunca partiram.
Eles não falam de deus. Directamente falam aos Deuses.
Supõem que o caminho de hoje vem precedido pelo de ontem, fica ainda a espera do da amanha. E como coisas de esta forma dão-se por efeito, sabem com certeza que hoje é o presente. Dele desfrutam. Com sentimento tão natural como a saudade dentro da chuva.
Respeitando a lei e o ciclo da vida, vivem.
Nós gostaríamos também cobrir as necessidades de esse jeito, mas ficamos atrapalhados nos cumes de cimento interior, nos ciúmes de chegar à custa de outros esforços. Nas pontes que dividem o sorriso da sobrevivência. No cristalino ocular como arame farpado, e não querendo valer-se dum tópico: com cutelo no coração, caminhamos desconfiados.
E ficamos a sonhar como forma de isolação, de forma a isolar-nos acreditando ao outro lado nas grades de ferro existe uma simples ilusão, um filme imaginado, nos convidando para decorar um diferente conceito dos marginalizados. Ao fim focagens: A tua certa, a deles errada.
Pois olhar para a pobreza pode mesmo ser um exercício para se comprazer, das dívidas que ainda nos permitem suster um alto rasgo de genialidade.
Acreditamos que é um mural animado porque sempre esteve aí, movendo-se ao nosso gozo. Na nossa frente a centos e centos de quilômetros de distancia. E como a visão tem aumentos, quanto mais quiser mais podemos alongar esse objeto da nossa mente; para algo nos especializamos na arte da composição.
Então os pobres passam a serem figuras de barro tipicamente pintado, a miséria uma forma mesquinha de o café nos deleitar, quando no extremo delírio sucumbe à indignidade.
Acostumados a olhar pra cima, não somos capazes já de considerar que mais abaixo... Aquele, por sinalar um beco claro, aquele esta deliciadamente esta a contemplar uma sombra de luzes afagadas, enquanto à penumbra dele um homem tenta engraxar seus sujos sapatos, que ele a seguir vai enfeitar como novos, por uma moeda bem gasta, no bolso de tentear decênios de moedas como mesmo dedo anulante. Pois aquele; aquele que esta ai sumido num pensamento, ficou para sempre tão longe do seu igual, que mesmo parecem serem de duas indistintas espécies, tendo-se ao primeiro por um pouco mais animal.
Vereis então que é tão aprazível chegar à serra no mesmo pulmão do ar. Comer as nuvens, saber que foram também de algodão, que seguir o curso dum rio, desde a nascente ao repenicar de rochas com suas gotículas saltitantes, é como descrever o sabor do fresco: a verdura, agora incolor e porém tão cristalina.
De aí que não apeteça sair do trabalho, saudar tanta gente que nunca em anos traz anos ao menos de perto conheceu, conheci, e tirar os sapatos, deitar o alento nas molas sujeitas dum pano olor a jasmim, como trocar a toalha, pois algo se deve ao igual que cada dia mudar. Por não ser capazes mudar nossa angustia, desligamos o comando do salão. Acendemos o comando do televisor. O livro das contas fechado com chave não olha... e por isso nos sabemos a salvo dentro da nossa própria inclinação ao flagelo.
Como quem aprecia sobre tudo: o vazio completo, moral, ético, sórdido e solidário... De tanta solidão.