Clarice Lispector
Clarice se valeu do monólogo para assim se disfarçar do diálogo que traça em todos os seus textos, invariavelmente.
É certo que o monólogo é a forma com que um personagem se utiliza para exteriorizar seus sentimentos, inquietações e angústias.
Para Clarice esta forma se concretiza nas entrelinhas onde revela um diálogo, muitas vezes transcrito entre o "eu" e o "eu-mesmo".
A autora surpreendeu a crítica com seu romance, quer pela problemática de caráter existencial, completamente inovadora, quer pelo estilo solto elíptico, e fragmentário. "Rompe-se assim a narrativa referencial ligada a fatos e acontecimentos. Em lugar dela, emerge uma narrativa interiorizada, centrada num momento de vivência interior da personagem (ou narrador)"
Clarice não se preocupa em contar uma história. Sua preocupação maior é com as impressões, como ela própria observa: "os meus livros não se preocupam com os fatos em si, porque para mim o importante é a repercussão dos fatos no indivíduo".
Coerente com essa tendência, a obra de Clarice Lispector é povoada de "bichos" - Essa presença revela bem a sua busca do "coração selvagem", irracional, que configura um mundo de harmonia, sem a complicação do mundo dos homens.
Suas metáforas, expressivas e poéticas, primam pela originalidade.