Do balacobaco

Podem ver a galeria de fotos acessando meu site no link abaixo deste texto (legendas ao passarem com o mouse por cima das imagens).
Publiquei no meu site uma música da cantora, com sua autorização.  Link abaixo também.

Resumirei aqui a minha fase repórter nos dias 30 e 31 de maio. De vez em quando eu saio da rotina pra curtir aquilo que muito me agrada: arte e amizades. Tive nestes dias um banho das duas.

Sabe, gente, parece fácil ter amigos verdadeiros, mas hoje em dia e no mundo em que vivemos isso é quase impossível. Vejo que todos estão enlouquecendo de tanta frieza, pois não acham nada em volta além de ingratidão, pensamentos negativos e interesses escusos. A ponto de acharem que bondade e carinho são sinônimos de falsidade. Mas não é não... E eu, graças ao bom Pai, tenho exemplos genuínos disso na minha vida.

Simpatia que vem do nada, momentos de simplicidade, mas que muitos pagariam para participarem deles e não podem, pois amizade não se compra nem se vende, só se troca por mais amizade: foi isso que aproveitei neste fim de semana.

- Começando que fui ver Leila Maria, que se tornou uma amiga, além de eu ser sua tiete (talvez a fã número... dez mil, pois antes de mim chegaram a mãe, a tia, a produção, os fãs de muitos anos, os gatinhos, cãezinhos e tudo que faz esta menina ser o que é hoje. Tenho admiração pela pessoa que é Leila Maria, com sua educação, atitudes, cultura e sua maravilhosa voz.

Mais uma coincidência entre nós: jazz. Tá que eu não entendo muito, até porque a única coisa que conheço é o que eu, criança, ouvia em minha casa na Telefunken, nos discos das grandes orquestras, com os intérpretes que fizeram nosso passado e que sobrevivem até hoje na memória musical. O resto eu apenas apreciei esporadicamente ao longo de uma vida atribulada.

Leila disse no show que ela aprendeu a cantar e começou a gostar de jazz (e, acredito, bossa nova) ouvindo na infância os antigos vinis, e que o que mais a atraiu foram primeiramente as letras, que ela tentava traduzir, depois os cantores, a música em si. Mais ou menos o que acontecia comigo, com um detalhe: eu chorava ao ouvir estas músicas. Chorava muuuuito!

Lembro ter uns seis aninhos e estar deitada num sofá, chorando ao ouvir Unchained Melody. Era uma vida difícil; eu era muito tímida e triste por vários motivos. Aquelas músicas me emocionavam e através delas eu traduzia minhas reações ao mundo.

Um outro fenômeno que acontecia era fechar os olhos e me imaginar tocando um piano, cantando com a voz de determinada artista, dançando como nos filmes aos quais eu assistia - até a música acabar. Eu tinha seis anos e isso aconteceu até os meus 15, quando, então, vieram Pink Floyd e Rick Wakeman para bagunçarem minhas idéias - mas nem tanto, porque continuei a viajar na música.

Ano passado conheci Leila no mesmo show que vi na última sexta e sábado (Billie, Ella e eu). E não pensem que só havia jazz: ouve-se MPB atual, Bossa Nova e Samba Canção, tudo com sua marca própria de interpretação e arranjo musical composto por Rodrigo Braga, seu leal pianista, que, aliás, diga-se mais do que de passagem, é hors concours.

Eu brincava de pique bandeira e amarelinha ouvindo Sarah Vaughan, Dione Warwick, Billie, Ella Fitzgerald, Lena Horne (até mesmo Doris Day e Eydie Gourmet) e, posteriormente, sonhei demais acordada ao som de Etta James, Diana Schuur, Dinah Washington, Diana Ross, Carmen Lundy, Julie Andrews...

“Epa!” - vão dizer - “O que tem a ver a Noviça Rebelde com Jazz?!”. Bem, ela cantando Henry Mancini é jazz puro! Se não, deveria ter cantado... Porque eu deixo aos entendidos em música e aos cultos a explicação do seja Blue, Jazz e otras cositas. Eu curto o som, a letra, a interpretação e pronto. Afinal, a mãe matricula sua filhinha numa academia de "jazz", que tem de tudo, menos jazz, e ninguém diz nada...

- Terminando que levei comigo na sexta-feira três amigos queridos, que são irmãos, para conhecerem minha xará. Chegamos atrasados devido ao trânsito e lembro de ter ouvido atrás de mim um gritinho sufocado de uma amiga dizendo: “Que voz!”. Ficaram hipnotizados até o final da apresentação, quase que desconcertados por não levarem muita fé no que iam ouvir.

Eu já tinha presenciado os agudos de Leila, mas naquele dia ela arrasou em Summertime, como também incorporou alguma coisa ao cantar You’ve changed e The man I love.

Foi legal a apresentação dos meus amigos à Leila Maria: Keila, que é jornalista, é amiga de Zezé Motta, que é amiga de Leila, que é amiga da famosa harpista Cristina Braga, que é minha amiga e que é a curadora do espaço onde Leila estava cantando, o lindo Centro Municipal de Referência da Música Carioca.

Depois do show nós fomos comer pizza. A noite se findou com Áurea, Derson bebendo vinho suave comigo e Keila lendo as linhas de nossas mãos (ela só chegou até a linha do amor porque não achava a linha da vida - e era a única que não bebeu...). 

No sábado levei mais dois amigos, porém, com uma finalidade: filmar. Foram comigo meu fiel escudeiro cinegrafista Flávio Bueno, que levou Bruno, seu assistente, o qual Deus me deu a honra de fazer seu parto.

A certa hora Bruno sentou ao meu lado e disse: “Ela canta pra .......”. Vindo de um adolescente quase adulto, nesta geração de hoje, isso é um triunfo. Triunfo para a cantora, por atrair jovens com sua arte, como para pai de Bruno, pois este menino disse que somente há alguns meses tem curtido tais músicas. Eu me orgulho duplamente: por ter os dois ao meu lado naquela noite e por ter mostrado a Bruno uma coisa nova para ele. Peninha que a mãe, Rosângela, não foi, pois está às voltas com os salgadinhos da grande festa de aniversário da mais nova, Flávia.

Recadinho particular nesta crônica-artigo: Pode deixar, Flavinha, que seu momento de fama chegará em grande estilo.

Eu fui dormir com os ecos da voz de Leila cantando Velha infância (Os Tribalistas) e a arrepiante cappella com a música “Valsinha” de Chico Buarque. Usando as expressões de Sargentelli, eu diria que o fim de semana foi realmente, do balacobaco, com ziriguidum, muito borogodó e telecoteco...

Agora Leilinha vai viajar por aí (estará indo pra Brasília ainda esta semana) e depois vai se preparar para outro show, trazendo novidades. Espero que todos a conheçam um dia.

Discos de Leila Maria à venda nas melhores lojas: Off Key (com músicas de bossa nova em inglês) e canções do amor de iguais (MPB e Jazz)

Leila Marinho Lage
Rio, 2 de junho de 20008
http://www.clubedadonameno.com

Link para a galeria de fotos:
http://www.clubedadonameno.com/leilamaria/

Link para a música de Leila Maria
http://www.clubedadonameno.com/slides/mostra_slides.asp?id=144

Algumas Imagens da Paixão
(Música, letra e voz de Leila Maria)

Como se ela fosse um rio
que se pudesse cruzar
Fosse um mar, um desafio
prá quem quisesse arriscar
um mergulho no mais fundo
do seu ser,
de natureza arredia,
onde a surpresa se escondia...
E na minha fantasia, era flor
e era brisa
Mas é espinho, é furacão...
E se fosse a minha sina,
morrer de paixão?
Como se ela fosse *parente
das estrelas cadentes,
Cruzou meu céu de repente,
me deixando somente
Solidão...

Comentário da autora:

A música nasceu, literalmente, a partir da frase em negrito, retirada de um poema sem título do poeta russo Nicolai Assiéiev, na tradução de Haroldo de Campos e Boris Schneiderman. Infelizmente, não tenho o nome e nem o ano de publicação da coletânea de poesia russa onde ele está, pois, de tão manuseado, o livro perdeu a capa...

Eis o poema todo:
 
Quando a preguiça dobra o que é terreno,
exsurge, biombo de sombra, o gamo,
o lusardo desliza, alvo, do ramo,
e na onda o cordame como um remo.
 
Um temor faz tremer, um vulto, alguém -
talvez um rei, talvez uma raiz...
Algo de alga, azul delíquio, anis.
mas o dia no dique se detém.
 
Tua trança de outono - sombra, alfombra.
És parente das estrelas cadentes.
 
1916
 
 
Leila Marinho Lage
Enviado por Leila Marinho Lage em 02/06/2008
Reeditado em 24/08/2008
Código do texto: T1016977
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