O que é pior: violência ou ignorância?

Importante: Esse Artigo foi publicado originalmente no Periódico PONTO E VÍRGULA, edição nº 7, em dezembro de 2007, pág. 4, Siqueira Campos, Paraná

Há várias semanas, o Brasil vem debatendo a segurança pública e a violência da polícia nas grandes cidades de nosso país. Porém, o motivo que fez com que esse debate surgisse não foi a morte de uma criança arrastada por um cinto de segurança, ou de outra, assassinada covardemente pela polícia. O que fez o Brasil questionar esses problemas sociais foi um filme. Intitulado Tropa de Elite, a película mais explosiva do ano mostra a ação do BOPE, grupo de operações táticas da polícia militar carioca. O que mais salta a vista é a violência a que os policiais são submetidos para entrarem no esquadrão e a forma como agem nas favelas, torturando bandidos e inocentes, como se fossem todos iguais.

Debater a violência, tanto dos bandidos quanto da polícia, o impacto do trafico de drogas na sociedade e o descaso das autoridades sobre a questão, são de enorme relevância. Essas vertentes merecem uma análise cuidadosa, a fim de se obter soluções práticas, e não promessas vazias. Mas, até quando teremos que esperar um filme para começarmos a nos importar com nossos problemas sociais? O que é mais importante, a violência verdadeira dos jornais ou a fictícia dos filmes? Enquanto os atores de Tropa de Elite estão aproveitando ao máximo o cachê recebido pelo filme, as verdadeiras vítimas, ou estão enterradas ou estão chorando pelos enterrados.

Que a arte pode, e deve, servir como meio de informação e incitação a debates úteis à sociedade, disso não se pode ter dúvidas. O estranho é o fato de termos que esperar cinco ou dez anos até que um diretor lance um filme para, só aí, começarmos a dar uma de “cidadãos conscientes”. Outra questão importante é que não se discute a qualidade do filme. Não se vê ninguém elogiando o roteiro, a direção ou a edição de cenas. A não ser, claro, o ator Wagner Moura que, como todo artista global, está se endeusando perante os olhos do povo.

Em um país onde se acredita que arte se resume em televisão, futebol e mulher siliconada, não é de se estranhar que ninguém saiba avaliar um bom filme. Porém, em um país onde políticos roubam para não trabalhar, bandidos posam de celebridades e policiais dão mais medo que bicho papão, não é menos estranho que o povo saiba coisa alguma sobre segurança pública. Até porque, se soubesse, já teria tomado uma atitude faz tempo.

Eder Ferreira
Enviado por Eder Ferreira em 29/05/2008
Reeditado em 29/05/2008
Código do texto: T1011006
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