O evangelho da liberdade
Os católicos conhecem o padre José Comblin por seu modo original de pensar e expressar a Igreja Católica. Nascido em Bruxelas (Bélgica), e doutor em teologia, o padre Comblin está há quarenta anos na América Latina, onde lecionou teologia e espiritualidade na Argentina, no Equador e no Chile.
A partir de 1978 veio trabalhar no Brasil, especificamente no interior da Paraíba, onde dirige o Seminário Teológico de Serra Redonda, entre a capital e Campina Grande. Padre José, como é conhecido por seus alunos, é autor de mais de vinte livros de teologia, editados não só no Brasil, mas também em vários países da América Latina e da Europa.
Recentemente, para surpresa minha, recebi pelos Correios um pacote. Fui abrir, e era o mais novo livro de Comblin, “Vocação para a liberdade”, editado pela Paulus. Há inclusive referências positivas a respeito do livro, na “Isto é” de outubro, o que é inusitado.
Minha relação com o religioso data desde 1981, em João Pessoa, quando ainda era quase uma heresia os leigos estudarem teologia. Comblin foi nosso professor de teologia dogmática e também de história da Igreja.
No livro mencionado, ele afirma que “Na América Latina a Igreja Católica está passando por uma crise de identidade, ela já não sabe qual o evangelho que deve ser proclamado”. Para o teólogo belga, radicado no agreste paraibano, o evangelho de Jesus Cristo é sinônimo de vocação para a liberdade, e não pode ser usado de forma hierárquica, para dominar ou exercer tiranias. “A vocação para a liberdade, diz o teólogo, é o núcleo central e ponto de partida de uma nova humanidade”.
E vai adiante: “A Igreja latino-americana precisa libertar-se de suas raízes germânicas, onde a liturgia e a pompa despontam em primeiro lugar, e ser mais missionária, como Francisco, Madre Teresa ou o próprio Cristo”. A liberdade cristã, sabemos, reside em conhecer a Verdade como ela é.
Na conclusão do livro ele afirma que “é preciso superar as deformações históricas e colonialistas que o evangelho sofreu nos séculos passados, em toda a América Latina e mostrar que somente um retorno a ele pode fornecer uma base sólida a uma identidade firme no mundo atual”.
E encerra dizendo que “o evangelho cristão autêntico é sinônimo de paradigma de vocação para a liberdade”. O século XXI, que abre o “Milênio do Espírito”, como definiu André Malraux, será de homens livres, capazes de encarar a Verdade como horizonte e não como objeto de posse.