CORROMPENDO A RAZÃO
De fato, os eventos mundiais no campo da política e dos diálogos entre as nações nos fazem pensar que não estamos mais no campo da racionalidade. O momento é quase inconsciente, mítico, e de retorno a uma ancestral dualidade entre o bem e o mal. Agimos pelos impulsos das nossas certezas. A ideia da aldeia global não suportou a beleza das diferenças e nos tornamos indiferentes à existência do outro. A nossa força não se destinou a produzir igualdades, mas para aumentar os sofrimentos e as desigualdades no mundo. Gritamos, todos, os nossos próprios interesses e o que deveria ser harmonia tornou-se um eco bizarro dos nossos egoísmos. Somos tolos e tontos a zanzar rodopiando pelo universo, presos nesse frágil ecossistema chamado planeta terra. Cumprimos o destino entranhado na nossa natureza de sermos homo sapiens, espécie que aniquilou a sua própria espécie.
No campo da política e da retórica retrocedemos milênios ou séculos. Hoje o discurso assemelha-se à época romana ou da idade média. Todos os avanços do conhecimento nos campos da ciência, filosofia, sociologia, antropologia, artes e história, estão sendo vilipendiados. Impera a religiosidade cega, a crendice sobre nossas ideologias, a pseudociência sobre o nosso planeta, meio ambiente e o universo. Estamos perdidos na revolução cibernética, as certezas foram se esvaziando e entramos no pântano da pós-verdade. As redes sociais afetam a nossa saúde mental e uma legião de ansiosos, depressivos e afetados pelos mais diversos transtornos do comportamento seguem como zumbis em direção a um futuro incerto. Geme os humanos a dor dos afetos feridos e de uma humanidade insegura.
Nesse exato momento cruzamos a linha da razão, quebramos todos os paradigmas do saber e sorrimos para a insanidade. O homem rasga a sua própria história. Duas grandes guerras em curso, a crise climática e os valores humanitários sendo jogados no lixo dos nossos egos. A natureza humana enraivece e faz do homem contemporâneo um espelho das suas mais duras e mesquinhas ansiedades e desejos.
Em meio à tantas lágrimas, o futuro não somente se tornou mais incerto, mas certamente será cheio de sofrimentos. A esperança de um rumo mais acertado sempre será o último desejo, espero que não a deixemos escapar das nossas próprias mãos. Ainda somos senhores do destino.