AOS “CIDADÃOS DE BEM, DEFENSORES DOS BONS COSTUMES”.

Nunca escrevo para agradar, escrevo o que sinto, o que penso e o que vejo. Raramente acontece de agradar um ou outro leitor mais astuto. Porém, se fosse para jogar flores, para incensar, para repetir mentiras e falsos sonetos eu jamais escreveria. A falsidade fere os meus setimentos. A idolatria me enoja. Por isso não espero aplausos, que se lasquem os aplausos! Mas não tem como não sentar a borduna verbal no pior tipo de pessoa que existe.

Os famigerados “cidadãos de bem e defensores dos bons costumes”, têm na ponta das suas línguas imundas todos os versículos da bíblia. Tudo decorado, mastigado e corrompido. Porém, como é de se esperar, não passam de sepulcros brancos caiados por fora. Há mais de dois mil anos Jesus já havia desvelado as faces desses hipócritas que continuam extremamente ativos hoje em dia. Apenas um exemplo cuspido, escarrado, regurgitado, defecado dessa gente. Quem não se lembra, no final de 2022, do show histriônico de um pastor, integrante de uma dessas denominações religiosas esquisitas. É difícil esquecer aquele teatro macabro onde, em êxtase, ou melhor, em transe demoníaco, o servo de qualquer coisa, menos de Deus, prometeu e convocou a massa acéfala para matar, isso mesmo, ceifar a vida ainda nos ventres maternos de todas as crianças gestadas por “petistas, esquerdistas, socialistas, comunistas, etc”?Tudo isso sob efusivos aplausos e aleluias repetidas dos ouvintes que a tudo assistiam com os olhos injetados de sangue. Procurem na internet e poderão assistir se tiverem estômago para tanto. Essa gente ainda tem o despudor, a petulância hipócrita de vir falar de Jesus Cristo.

Defendem que “deus” seja exclusividade deles; defendem que a “pátria”, a qual eles atentaram covarde e violentamente visando uma ruptura democrática, seja exclusiva deles, exclusiva para perpetuarem um sistema de corrupção e impunidade jamais visto com total aparelhamento e submissão das instituições de controle e repressão reduzidas a meras serviçais; defendem uma “família” que se baseia na mentira, a propósito, o ícone deles já teve três “casamentos maravilhosos”, famílias fundadas no negacionismo, na escatologia, na insensibilidade, na corrupção, na improbidade escancarada; defendem uma “liberdade” ampla para eles e absolutamente restrita para os outros; alguns, mais sinceros, como o mencionado pastor fardado como um porteiro de hotel de luxo, declaram abertamente o desejo de extermínio de todos aqueles que julgam contrários aos seus interesses, os chamados “esquerdistas”.

Pois bem, essa gentalha, que se autodenomina “cidadãos de bem e defensores dos bons costumes”, uma corja nojenta, uma poça asquerosa de excremento, mesmo sem saber, advoga a esdrúxula tese de Jakobs; para ela o ‘direito penal do inimigo’ deve ser levado até as últimas consequências. Porém, portam-se excessivamente melindrados quando a força da legalidade ameaça os seus tentames criminosos. Alguns se indignam a ponto de defenderem “luta armada”, formação de milícias, tudo para defender um ideário promíscuo que eles escondem por trás de Deus, Pátria, Família e Liberdade, exatamente como faziam e fazem os fascistas italianos, e os fascistas do mundo inteiro.

Por trás disso tudo empregam com maestria o componente religioso. Se tem algo que eles sabem fazer como ninguém é empregar a religião como cabresto para domar as alimárias. Por exemplo, esses boçais entendem que Israel é supostamente, “a pátria do senhor”, que os “judeus são o povo eleito”. Por isso defendem o morticínio de civis palestinos inocentes, principalmente milhares de crianças e mulheres esfacelados diariamente pelo fascismo do Estado judeu. É o “direito de defesa” exercido por Israel, afirmam. Jamais param para pensar que até o alegado direito de defesa possui limites, tanto jurídicos quanto naturais, porém são quebrados, violados e desrespeitados por Israel. Por trás disso tudo há o ódio sionista aos árabes. Simples assim.

Mas os nossos ultras têm sempre uma saída à direita, como subterfugio ridículo, acusam os regimes comunistas de terem realizados perseguições, assassinados, expurgos, genocídios terríveis. Pelo ao menos isso, eis uma verdade inconteste. Realmente, tanto as ditaduras de esquerda quanto as ditaduras de direita têm as mãos sujas de sangue, principalmente de sangue inocente. E todas existiram, ou ainda existem, porque foram erguidas sobre mentiras, as mesmas que seduzem o gado atual, e sustentadas pelas suas respectivas forças armadas, ou seja, pelos militares. Nesse sentido, não se pode esquecer jamais as figuras malévolas de Stalin, Mao, Pol Pot, Hitler, Mussolini, Pinochet e mais uma réstia de generais animalescos da América Latina, África e Ásia.

O certo é que uma barbárie jamais pode justificar outra. E isso as cavalgaduras ululantes não entendem. “Ah, a China matou mais!”; “Os comunistas mataram mais que os nazistas!”; “Vai para a Venezuela, para Cuba, seu esquerdista!”, “Tudo vai melhorar no Brasil quando os militares tomarem o Poder!” e mais um monte de besteiras de quem é curto de entendimento.

A questão não é saber quem foi mais perverso. Não é um jogo ou uma competição para a escolha do pior regime de governo. A questão é não voltarmos à época da perversidade, do total desprezo pela vida alheia, das atrocidades inomináveis. O que o Hamas fez contra civis inocentes foi perverso, e o que o Estado de Israel pratica contra civis inocentes também é muito perverso. Não tem como contemporizar.

É estranho que os mesmos “cidadãos de bem, defensores dos bons costumes”, não num passado remoto, mas naquele fatídico final de ano, poderiam ter demonstrado algum resquício de cristandade e repudiado veementemente tantos discursos de ódio extremo, tantas promessas de exterminar a petralhada, ou mesmo a famosa conclamação daquele pastor fardado para que a turba assassinasse sem piedade bebês “esquerdistas no ventre ou não pois isso seria a vontade de Deus”. Eu me pergunto: Vontade de Deus? Onde é que os “bons cidadãos, defensores dos bons costumes, que se dizem cristãos” estavam? Não se ouviu desses hipócritas nenhum pio de reprovação, quedaram-se covardemente em silêncio. Por isso a palavra deles é neutra.

Ser cidadão de bem é primar pelo respeito ao direito próprio e alheio, é saber até onde vai os limites do território do seu poder, da sua discricionariedade, do seu arbítrio; é existir e defender o direito do outro existir do modo e da maneira que quiser, desde que não esteja ferindo o direito de ninguém. É desejar e trabalhar para a liberdade de todos indistintamente. É cumprir a lei humana, e para quem acredita, as leis divinas. Ser defensor dos bons costumes é seguir o próprio rumo na vida sem se importar com o caminho do outro. É pautar e corrigir a própria conduta faltosa em vez de fiscalizar o comportamento alheio em busca de falhas.

Contudo, o nosso “cidadão de bem e defensor dos bons costumes”, tem uma necessidade premente e incontrolável de querer dispor a vida alheia ao seu talante. Quer ensinar o que nunca aprendeu. Quer ter o direito de sentar nos primeiros lugares sem convite ou merecimento para tanto, por isso não admite que outro alguém, que julga inferior, possa se destacar. Na verdade, os “cidadãos de bem e defensores dos bons costumes” gostam de apregoar suas virtudes aparentes, mas no fundo não passam de um monturo de lixo que atrai moscas, as mesmas moscas que um dia serão o monturo.

Portanto, se um cão sarnento, sem dono, ladrar no meio de uma viela suja é melhor ouvi-lo do que perder tempo lendo ou escutando o que esses vermes travestidos de seres humanos têm a dizer.

Adolfo Kaleb
Enviado por Adolfo Kaleb em 19/02/2024
Reeditado em 20/02/2024
Código do texto: T8002495
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