A Guerra na Ucrânia: o impacto do armamento ocidental/ War in Ukraine: the impact of Western armament
Versão Portuguesa / Portuguese Version:
A 16 de setembro de 1916, durante a batalha do Some, o exército britânico desvenda a sua nova arma: o tanque. Conceptualizado pelo então Primeiro Lorde do Almirantado Britânico, Winston Churchill, como um instrumento de avanço (breakthrough). Na prática, o tanque acabou por ser uma arma de apoio com a artilharia a grande assassina da Grande Guerra. Atualmente, a artilharia continua a ser o grande fator de avanço nos campos de batalha onde podemos incluir o conflito na Ucrânia. Como na Grande Guerra, as trincheiras dificultam o avanço ucraniano. Como é injusto comparar um conflito centenário com um atual, apenas podemos observar como os papéis dos sistemas de combate permaneceram semelhantes e como foram alterados mediante os tempos.
O tanque moderno tem a grande vantagem de ser bastante móvel com a oportunidade de ser apoiado por outros veículos blindados, alguns com capacidade para transportar infantaria. Como temos visto a observar, desde o início de 2023, a Ucrânia tem recebido tanques britânicos (Challenger 2) e alemães (Leopards 1 e Leopard 2) com cerca de 31 tanques norte-americanos (Abrams) prometidos. Atualmente, como demonstrado na Operação Desert Storm na Primeira Guerra do Golfo, o tanque tem a capacidade de ser uma arma de avanço que pode cercar e destruir as forças opostas de forma mais independente da infantaria, contudo ainda necessita de apoio aéreo (superioridade aérea de preferência) e de artilharia (de igual forma pretende-se superioridade). A desvantagem numérica da Ucrânia neste conflito, as densas redes de trincheiras russas e ainda os densos campos de minas, dificultam o tão esperado avanço relâmpago que os noticiários gostava de referir no início do verão.
Não obstante, o avanço ucraniano tem-se verificado não só durante a ofensiva deste verão, mas também dos últimos meses de 2022 onde se pode destacar a captura de Kerson pelas tropas ucranianas.
Qual é a diferença entre as duas ofensivas sendo que esta última utilizou os tão esperados tanques ocidentais? A diferença reside nas preparações defensivas russas, uma vez que durante o inverno e parte da primavera reforçaram as frentes de batalhas ao construir trincheiras, campos de minas e obstáculos anti-tanque, bem como a adaptação do exército russo face às novas realidades (nem todas as adaptações se traduzem positivamente). E como é que as armas ocidentais influenciam o campo de batalha? A resposta é simples, no entanto pode não ser muito percetível: compensação pela desvantagem numérica ucraniana. Aqui também é de destacar a capacidade adaptativa ucraniana, uma vez que recebe armas com sistemas diferentes do que usavam pré-guerra e ainda existem diferenças nos sistemas ocidentais, bem como a sua adaptabilidade no campo de batalha. O analista militar (marechal aéreo da Royal Air Force reformado) da Sky News, professor Michael Clarke, ainda afirma que o mesmo poderá ser dito dos caças F-16, pois, afirma Clarke, darão a capacidade de disputar o espaço aéreo ucraniano e dessa forma ajudando o avanço no terreno.
Como de costume, apenas podemos tirar elações concretas quando a guerra terminar e existir uma distância histórica de forma a que seja possível a análise dos factos de uma perspetiva o mais imparcial possível. E nunca é demais lembrar esta máxima de Carl von Clausewitz: a guerra é a continuação da política por outros meios.
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Versão Inglesa / English Version:
On September 16, 1916, during Somme, the British Army unveils their new weapon: the tank. Conceptualized by Winston Churchill (then First Lord of the Admirality), as a breakthrough weapon. In reality, the tank ended up being a support weapon with the support of the artillery, the big assassin of the Great War. In the present day, artillery still is an important factor in the battlefield, including in the Ukrainian conflict. As in the Great War, trench warfare makes difficult Ukrainian advance. Because it is unfair to compare a one hundred plus year old war to a modern conflict, we can only observe how the roles of some weapons systems stay more or less the same with the alterations of the evolving times.
The modern tank has the big advantage of being quite mobile and can be supported by other armoured vehicles, some of them capable of carrying troops. As we been observing, since early 2023, Ukraine has received British Challenger 2 tanks, German Leopard 1 and 2, and about 31 north-American Abrams tanks. As demonstrated the Operation Desert Storm, during the First Gulf War, the tank has the capability of being a breakthrough and of surround the opposing force thus destroying them in a more independent operation, although it still needs air and artillery support, preferably superiority in both. The numerical disadvantage of Ukraine in this conflict get more challenging due the dense Russian trench network and minefields prevents the lightening advance of the Ukrainian forces the news reporter liked to referred in the beginning of the Summer.
Notwithstanding, Ukrainian advances have been observed not only during the summer counter-offensive, but also in the last months of 2022 where we can underline the Ukrainian conquest of Kerson.
Which is the difference between these two offensives, since one of them has utilized modern Western equipment? The difference relies on the Russian defensive preparations, due to the fact they had most of the winter and parts of the spring to preper and dig in by building minefields, trench networks and anti-tank obstacles. It is worth to note that the Russian army also was adaptive to the situations at hand to the best of their capabilities (not all adaptations translate into positive outcomes). And how are Western weapons influenced the battlefield? The answer is simple, although not at the surface: compensation for the numerical disadvantage of Ukraine. It is only fair to underline, as well, since they had to adapt to the different weapons used pre-war and during the war and the difference between the different Western systems, as well as their adaptability on the battlefield. Retired Vice-Air-Marchal of the British Royal Air Force, military annalist for Sky News, Professor Michael Clarke, argues that the same can be said regarding the F-16 fighter jets because, according to Clarke, the airplanes will be able to fight for air superiority over Ukrainian skies, thus allowing the ground forces to advance in the field.
As per usual, we can only make conclusions when the war is over and there can be a historic distance between the analyst and the subject to be as impartial as possible. And never is too much remembering this saying of Carl von Clausewitz: war is the continuation of politics by other means.
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Sugestões de leitura e visionamento/ Reading and viewing suggestions:
• Sky News Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=B0iFMQk8aVs&list=PLG8IrydigQfdt7DcwVqs_COZ9RXC6jRUB
• Kings and Generals Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=BB_lO-6ASDU&list=PLaBYW76inbX5XWJ8IJd9MKucLnkAzK28E
• CNN: https://edition.cnn.com/2023/02/25/europe/ukraine-war-three-key-weapons-intl-hnk/index.html
• BBC News: https://www.bbc.com/news/world-europe-62002218
• BBC News: https://www.bbc.com/news/world-europe-64402928
• Reuter: https://www.reuters.com/graphics/UKRAINE-CRISIS/ARMS/lgvdkoygnpo/
• CNBC: https://www.cnbc.com/2023/08/19/can-expensive-american-made-weapons-like-f-16s-turn-the-tide-in-ukraines-war-against-russia.html
• DW News: https://www.dw.com/en/ukraine-russia-weapons/a-66497796