A BARBÁRIE DO BEM

De forma egocêntrica, sempre gostei da visão lírica de que somos uma forma que o Universo encontrou para contemplar sua própria grandeza. Mas e quando, em vez de observar a beleza da existência, olhamos no espelho e vemos nossa capacidade para o mais extremo da barbárie? Será que há lugar para alguma poesia?

Hoje é dia sete de outubro de dois mil e vinte e três, do Calendário Cristão. E como não bastasse a invasão covarde pela Rússia à Ucrânia, tivemos hoje mais um ato humano de barbárie do bem. Um massacre covarde contra mulheres, idosos, crianças e até bebês. Uma ação promovida pelo grupo islâmico Hamas contra a população de Israel.

Num trecho do Estatuto do Hamas, observe comigo como podemos justificar a atrocidade de matar bebês:

“Em nome de Alá, o Misericordioso e Piedoso. Sois (palestinos) a melhor nação surgida na face da terra. Fazei o bem e proibis o mal, e credes em Alá. Se somente os povos do Livro (judeus e cristãos) tivessem crido, teria sido melhor para eles. Alguns deles crêem, mas a maioria deles é iníqua... Humilhação é a sina deles, onde possam se encontrar, exceto se forem salvos por meio de um compromisso com Alá... Recaiu sobre eles a ira de Alá, e a sina deles é a desgraça, porque recusaram as indicações de Alá e erradamente mataram os profetas, e por serem desobedientes e transgressores (Alcorão, 3:110-112). Israel existirá e continuará existindo até que o Islã o faça desaparecer, como fez desaparecer a todos aqueles que existiram anteriormente a ele. (segundo palavras do mártir, Iman Hasan al-Banna, com a graça de Alá)...”*

Para qualquer um mais atento, é fácil perceber uma forte semelhança com as bases que fundamentam o nazismo. Entretanto, no caso do Hamas e outros grupos islâmicos, temos um elemento ainda mais perigoso: A chancela do sagrado.

Nossa História é repleta de passagens capazes de provocar náuseas àqueles com a menor empatia pelo outro. A Escravidão, as Cruzadas, o Nazismo e Holocausto; as passagens bíblicas do Velho Testamento como o Massacre de Jericó que vitimou, assim como hoje em Israel, mulheres, idosos, crianças e até bebês, são alguns exemplos.

Perceba que hoje foram os judeus quem sofreram com o Ódio do Bem. Mas que segundo a bíblia, Judeus também assim fizeram contra Jericó, também massacraram mulheres, idosos e bebês. E também sob a chancela da intolerância de seu deus.

Não se engane, leitor. Este não é um texto antidógmas. Mas sim um chamado à reflexão sobre o que somos capazes quando colocamos sobre uma autoridade, seja terrena ou divina, a responsabilidade dos nossos atos odiosos.

Sempre busquei encontrar a beleza de uma poesia em nós, entre o caos de tiros e bombas que sempre fomos. Começo a perceber que, neste espelho, não há espaço para o belo. Talvez, em vez de consciência do Universo sobre si, sejamos apenas algum tipo de erro de programação.

por Marcos Profanus

*FONTE: https://www.chamada.com.br/mensagens/estatuto_hamas.html