O PASSADO QUE INSISTE EM PERSISTIR: Uma análise das percepções da comunidade Novo Zabelê acerca do Turismo de Base Comunitária-TBC

RESUMO

Este artigo pretende analisar, de forma reflexiva, sobre o Turismo de Base Comunitária- TBC, no semiárido piauiense, especificamente na comunidade Novo Zabelê. Localizada no Território Serra da Capivara, no município de São Raimundo Nonato-PI, a referida comunidade vem paulatinamente implantando o TBC. O Turismo tem contribuído significativamente para o desenvolvimento e a economia mundial, no entanto, com o passar dos anos tem passado por transformações, devido a questionamentos sobre possíveis impactos das práticas turísticas, provenientes do Turismo convencional, especificamente o Turismo de massa. Com isso, surge de forma tímida, principalmente no semiárido nordestino, o Turismo de Base Comunitária-TBC, com a proposta de inclusão social, através do protagonismo da comunidade, valorização de suas culturas, impactando positivamente, tanto o econômico, quanto o social, o cultural e o ambiental. Desse modo, através do trabalho de campo, realização de entrevistas semiestruturadas e de um breve histórico da comunidade Novo Zabelê, além da revisão bibliográfica com teóricos que abordam essa temática e autores e autoras que escreveram sobre Antropologia Aplicada, Organização Social, Teorias da Reciprocidade e Museus Comunitários, foi possível refletir sobre as expectativas da comunidade em relação ao TBC. Além disso, o artigo propõe um roteiro turístico desenvolvido em parceria com a comunidade que pode vir a ser utilizado pela mesma, para aprimorar o turismo ali desenvolvido.

Palavras-chave: Antropologia Aplicada, Projetos Sociais, Semiárido Piauiense, Turismo de Base Comunitária.

1. INTRODUÇÃO

Este artigo visa analisar a concepção dos moradores da comunidade Novo Zabelê acerca do Turismo de Base Comunitária- TBC e seu benefício para a região. A comunidade em questão fica localizada no Território Serra da Capivara , no município de São Raimundo Nonato, a cerca de 525 km da capital do estado, Teresina. É ocupada por pessoas que foram desapropriadas de suas terras para a implantação do Parque Nacional Serra da Capivara. E assim como a maioria das comunidades do entorno do parque são excluídas do roteiro turístico tradicional.

São Raimundo Nonato possui cerca de 34.535 habitantes (conforme estimativas de 2018 do IBGE). Sua economia é baseada nos setores primário (agricultura e pecuária) e terciário (serviços). É conhecida pela sua diversidade cultural e principalmente por ser uma das cidades que sedia o Parque Nacional Serra da Capivara.

O Parque Nacional Serra da Capivara possui muita riqueza ambiental

e é muito rico também em história e cultura, possui sítios arqueológicos

com pinturas e gravuras rupestres que datam de cerca de 43 mil anos. O parque foi inscrito na lista do Patrimônio Mundial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 1991, e tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1993.

O Parque é bastante visitado por turistas nacionais e internacionais, pois já é um destino consolidado, por conta do patrimônio cultural que a região oferece. E isso contribui de forma positiva, para que turistas queiram conhecer também as comunidades do entorno do parque. Hoje o Parque é o atrativo principal de desenvolvimento turístico e econômico na região. Inclusive a partir de sua criação houve a demanda de criar alguns museus na região, como o Museu do Homem Americano e o Museu da Natureza , além de alguns museus comunitários.

Assim, o interesse nessa temática se deu a partir da necessidade, tanto de um novo roteiro para os turistas que visitam a região do Território Serra da Capivara, mas principalmente ao perceber o interesse dos moradores do Novo Zabelê em não “ficar de fora” do que a região tem a oferecer.

O meu primeiro contato com a comunidade Novo Zabelê se deu em 2019, quando realizei juntamente com outros estudantes do Bacharelado em Antropologia da Univasf, que faziam parte do Núcleo Temático- NT , uma pesquisa sobre gênero e memória. Além disso, sou Turismóloga e Guia de Turismo. Assim, aliando a Antropologia e o Turismo desejo de alguma forma contribuir com aquele povo de história impactante e de muita resistência.

A comunidade Novo Zabelê fica a uns 20 minutos de São Raimundo Nonato, são 256 famílias assentadas, possui sete ruas e cada rua possui número e nome, por exemplo: Rua um é rua Carlindo da Silva. As casas são organizadas em fileiras, tem quatro igrejas evangélicas, e uma católica, onde o padroeiro é Santo Expedito, tem postinho de saúde, colégio, quadra de esporte, uma fábrica de doce, o restaurante e um museu, além de outros projetos inativados no momento.

Acredita-se num potencial gigantesco para o TBC nessa região, uma vez que fica próximo de um destino já consolidado, que é o Parque Nacional Serra da Capivara, podendo-se articular e assim fazer parte de um roteiro turístico já existente.

Há possibilidades de se desenvolver um Turismo de experiência na comunidade Novo Zabelê. Para além da memória social da comunidade, o assentamento possui casas de farinha, agricultura familiar, além de um Museu Comunitário com artefatos do Antigo Zabelê que permitem experienciar como viviam antes da demarcação do Parque Nacional da Serra da Capivara.

A comunidade ainda pode retomar as festividades tradicionais, como reisado e quadrilhas Juninas. A primeira é considerada como uma das festas mais emblemáticas do país, conhecida como folia de reis, reisado ou festa de Santos Reis. É uma manifestação folclórica, do catolicismo popular, a indumentária, personagens e músicas variam de região para região, e acontecem normalmente em Dezembro e Janeiro. Já a segunda é um estilo de dança folclórica coletiva, dançada em pares, e com coreografia e músicas específicas baseada em passos tradicionais, é muito popular no Brasil, principalmente na região nordeste, geralmente acontecem nos meses de Junho e Julho.

O Novo Zabelê possui a associação dos assentados e APASPI (Associação dos Produtores Agroecológicos do Semiárido Piauiense). Já foram organizadas cooperativas de produtos de limpeza, como sabão líquido, amaciante, detergente e shampoo, fornecidos para mercadinhos e para os hotéis da região, e outra cooperativa de fabricação de doce com frutas nativas da região, como manga, umbu e maracujá do mato. Isso mostra que é uma comunidade bastante ativa, podendo assim ser bastante participativa para a construção de um Turismo de Base Comunitária.

Acredita-se que a Antropologia pode complementar o Turismo, e que o Turismo pensado, visto e realizado pelo viés da Antropologia é um Turismo, que visa não só o econômico, mas principalmente o cultural, social e o ambiental. Observa-se ainda que essa pesquisa seguiu os moldes de uma antropologia aplicada. Cujo tema, método e parte dos objetivos voltam-se para impactos socioculturais de projetos de desenvolvimento, de cunho pragmático.

Segundo o antropólogo Schröder (1997 p. 85 apud Gow, 1988), a preocupação crescente com os impactos socioculturais de políticas de desenvolvimento, particularmente de cunho assistencialista, e com a dimensão moral subjacente destas políticas, que favorecem objetivos estratégicos e políticos, em vez de humanitários, também levou muitos antropólogos a realizarem estudos críticos dessas políticas ou de medidas singulares delas.

Sobre essa questão levantada podemos referenciar o cientista social Sérgio Teixeira (1968), ele explica que um dos elementos primordiais da Antropologia Aplicada é a orientação pragmática, assim como também a busca pelo bem-estar tanto dos indivíduos quanto das instituições. O bem-estar aqui mencionado é sobre a diminuição ou total exclusão de tensões em meio ao relacionamento humano. Assim como também o melhoramento da infraestrutura como um todo, saúde, saneamento básico e educação. O autor ainda ressalta que na Antropologia Aplicada existem técnicas e produtos específicos. Ou seja, é a tentativa de resolver problemas de valores, de organização social, de orientação cultural e assim por diante.

No caso desta pesquisa, pretende-se avaliar e propor as possibilidades e a forma de realização de um Turismo de Base Comunitária no Novo Zabelê. Assim, este artigo para além de conter uma descrição analítica, apresenta como produto um mapa da localidade e um roteiro turístico, construído de forma conjunta, e que a comunidade poderá utilizar como meio de divulgação da mesma.

1.1. Metodologia, objetivos e Turismo de Base Comunitária

Conforme afirma a geógrafa CRUZ (2006), a participação coletiva é de suma importância na construção do TBC, a comunidade deve contribuir, principalmente com a análise dos indicadores, haja vista que eles serão os maiores beneficiados. A autora ressalta que o processo de planejamento turístico requer pró atividade por parte dos agentes sociais, e que os mesmos façam parte das tomadas de decisão, ao que diz respeito ao Turismo na sua comunidade. E isto pode ser visto no Novo Zabelê.

O cientista social IGNARRA (2003) define Turismo de acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT) como o deslocamento para fora do local de residência por período superior a 24 horas e inferior a 60 dias, sendo motivado por razões não econômicas. Anos depois, a própria OMT aperfeiçoa esse conceito afirmando que o Turismo se caracteriza por atividades de pessoas que viajam e permanecem em locais fora de seu ambiente usual durante um período menor que um ano, por motivações diversas como lazer, negócios entre outros.

Diante disso, a antropóloga Margarita Barreto afirma que “o turismo é uma atividade realizada pelos homens em sociedade. Não podemos pensar no conceito de Turismo se pensarmos num homem isolado”. (BARRETO, 2003, p.21).

O Turismo de Base Comunitária contrapõe ao Turismo de massa, pois esse visa não somente o econômico, mas principalmente o bem estar dos envolvidos, populações atuais e gerações futuras. Conforme frisa os cientistas da natureza BURGOS e MERTENS(2015), o TBC permite uma maior e melhor convivência entre hóspedes e anfitriões, e tem como principal característica essa aproximação, visto que as experiências de Turismo de Base Comunitária enfatizam o convívio do visitante com a realidade cotidiana das comunidades. Ressalta ainda sobre o novo olhar dos envolvidos com o TBC, sobre os problemas sociais, culturais e ambientais do destino turístico.

Ainda ressalta o cientista social Beni (2012) sobre o fato de o Turismo ser integrado e interdisciplinar, ou seja, ele não anda só, de forma sistêmica se conecta com outros sistemas, realizando assim uma espécie de intercâmbio.

É válido destacar que o objetivo geral dessa pesquisa foi analisar junto com a comunidade a possibilidade de efetivação do Turismo de Base Comunitária no assentamento Novo Zabelê. E os objetivos específicos foram:

I. Descrever etnograficamente, aspectos da história, memória e das atividades que podem vir a ser incluídas como parte de um projeto de Turismo comunitário no Novo Zabelê;

II. Criar junto com a comunidade um mapa da comunidade e um roteiro com visitação nos principais pontos turísticos;

III. Articular e incentivar a comunidade em busca de políticas públicas voltadas para o TBC;

A metodologia utilizada na pesquisa foi o trabalho de campo na comunidade e coleta de narrativas de moradores e de agentes que realizam projetos no Novo Zabelê. A técnica utilizada foi a realização de entrevistas semiestruturadas, realizadas na própria comunidade e de meio remoto, em razão da pandemia Covid-19, pelas plataformas Google Meet e Whatsapp. Foram entrevistadas pessoas com idades que variam entre 19 e 74 anos, de ambos os sexos. Os entrevistados e entrevistadas relataram suas histórias, onde através de suas memórias fizeram relatos que perpassam pelo sofrimento, de ter que abandonar sua terra, e o saudosismo de momentos vividos com muita alegria. Além da gratidão de terem se reerguido e a esperança de dias melhores. Ainda foi feita uma revisão bibliográfica articulando teóricos que abordam temáticas como Turismo, Turismo de Base Comunitária, Organização Social, Teorias da Reciprocidade, Museus Comunitários e Antropologia Aplicada, pois só assim foi possível, abordar esses temas com mais precisão junto à comunidade.

Com relação a organização desse artigo, o mesmo foi dividido em quatro partes. A primeira parte é essa onde trago conceitos de Turismo e Turismo de Base Comunitária, a metodologia realizada na pesquisa e os teóricos abordados. Na segunda parte descrevo uma breve história do Antigo Zabelê e do museu zabelê, destacando como este foi idealizado e todo o processo de estruturação, mostrando através das narrativas o quanto as pessoas da comunidade acreditam no quanto ele irá proporcionar melhorias, em vários âmbitos, assim como no Turismo. A terceira parte tratará sobre relações de reciprocidade da comunidade e a importância delas na construção social do grupo e na implementação de Projetos de Turismo. E por último, na quarta parte, será abordada sobre a questão da localização e possíveis roteiros na comunidade através de um mapa e um roteiro que foi construído junto com a comunidade, e que poderá ser utilizado como guia turístico em um futuro próximo.

2. O ANTIGO ZABELÊ

Para contextualizar o presente da comunidade Novo Zabelê, é necessário adentrar na história da comunidade Zabelê, ou “Antigo Zabelê” como é conhecido hoje em dia, além de abordar a relação da comunidade com a criação do Parque Nacional Serra da Capivara e a desapropriação das terras de seu entorno.

Conforme narra a antropóloga Emília Godói (1993), a comunidade Zabelê teve origem com a chegada de Vitorino Dias Paes Landim na região, durante o século XIX. Ele era um criador de gado e tomou posse das terras da região de Várzea Grande, onde atualmente é a cidade de Coronel José Dias- PI. Vitorino instalou-se com a sua família na fazenda Serra Nova. Seus familiares passaram a formar e ocupar pequenas roças, tornando-se os primeiros camponeses a morar naquelas terras (GODÓI, 1993).

Segundo GODÓI (1993) João Bernardo, Antônio Maroto e Manuel Roberto, netos do Sr. Vitorino, são considerados os responsáveis pela criação da comunidade e pelo nome do local. O nome Zabelê é uma referência a uma ave brasileira, que caiu próximo a eles, enquanto cultivavam a terra. O meio de subsistência da comunidade era basicamente caça, plantações de milho, feijão, mandioca, além da criação de bodes, cabras, vacas, galinhas e da retirada de madeira e mel (GODÓI, 1993).

Em dois períodos da história essa comunidade teve sua economia e meio de subsistência modificado. Segundo a arqueóloga Joseane Paes Landim (2014) o primeiro foi o “boom da maniçoba” entre 1900 e 1940. Com isso, vieram pessoas de outros estados, aumentando assim o número de famílias que ocupavam aquela região. Muitas famílias ocupavam tocas existentes naquele local. Existiam tocas com inscrições rupestres, ao qual eram chamadas por eles de “lugar de índio ou morada de onça”. As pessoas modificaram as tocas para melhor habitar, construíram dentro das tocas paredes feitas de rocha, separando o espaço em cômodos (LANDIM, 2014).

Já o segundo momento, foi o surgimento do Parque Nacional Serra da Capivara. Conforme narram Joína Freitas Borges e Jaime de Santana Oliveira em um artigo sobre as relações de pertencimento da comunidade Zabelê com a área arqueológica do Parque Nacional Serra da Capivara (2015), na década de 1960, Gaspar Dias Ferreira, o prefeito da cidade de São Raimundo Nonato, enviou algumas fotos de pinturas rupestres da região para uma exposição no Museu Paulista. Ao receber as fotos, Niéde Guidon, arqueóloga que atuava em pesquisas arqueológicas na Universidade de São Paulo (USP), se interessou em conhecer a região, pois achou as pinturas bem diferentes. Mas conseguiu conhecer a região somente em 1970. Veio, fotografou e levou para França e com isso conseguiu trazer a Missão Franco Brasileira para a região. (OLIVEIRA & BORGES, 2015).

De acordo com Rafael José dos Santos (2015), a Missão Franco Brasileira surgiu nos anos de 1920 e 1970, e envolveu estudiosos franceses, brasileiros e americanos. No Brasil, essa missão realizou trabalhos nas regiões de Minas Gerais, Mato Grosso e no Piauí. Niéde Guidon fez parte dessa missão. Iniciou as pesquisas na região do Piauí ainda na década de 1970. Junto com ela, vieram às arqueólogas Silva Maranca e Agda Moraes Vilhema. A prospecção iniciou-se pela comunidade Zabelê. E logo no início, as arqueólogas perceberam características de aldeia em alguns lugares, pois no solo havia pedra lascada e cacos de cerâmica (BORGES, 2007)

Diante disso, surge a necessidade de criar um parque nacional de

proteção integral. Sendo assim, Niède Guidon escreveu uma carta para o Dirceu Arcoverde, governador do estado do Piauí, pedindo a criação do parque. A intenção era preservar os sítios arqueológicos, assim como também proteger o meio ambiente e conscientizar a população acerca do patrimônio ali encontrado.

O processo de criação do parque ocorreu em 5 de junho de 1979, e foi nomeado de Parque Nacional Serra da Capivara. Essa etapa configurou-se por meio do Decreto Federal nº 83.548 de 1979 (OLIVEIRA, 2015). A área do Parque Nacional Serra da Capivara abrange cerca de 130.000 hectares. Sua extensão integrou as seguintes cidades: São Raimundo Nonato, João Costa, Brejo do Piauí e Coronel José Dias (OLIVEIRA & BORGES 2015).

A criação do Parque Nacional Serra da Capivara, trouxe expectativas e riscos para aqueles que ali habitavam. Pois com a demarcação do Parque, comunidades que habitavam no local que seria a área do parque, tiveram que ser retiradas. Pois, de acordo com a legislação, expressa atualmente na Lei Federal nº 9.985/00, são proibidas moradias dentro de uma área de proteção ambiental. Com isso, iniciou as mediações para que os moradores do entorno, fossem removidos do local. Foram anos de negociações e conflitos entre as comunidades e os responsáveis pelo parque, até que a comunidade Zabelê foi deslocada no ano de 1988 (OLIVEIRA E BORGES, 2015).

Através de relatos orais é possível perceber o quão doloroso foi sair de suas terras, eles contam que fizeram uma festa de despedida, inclusive foi o último reisado, festa tradicional local, com o grupo todo reunido. Ao serem desapropriadas, as pessoas que habitavam o Zabelê, não tiveram para onde ir, muitos foram para outros estados, e muitos ficaram morando nas periferias de São Raimundo Nonato. E esse sofrimento durou 10 anos, sem ter uma terra para morar e sem eles poderem trabalhar no que eles sabiam e gostavam que é agricultura.

A cientista social Maria Sueli Rodrigues de Sousa afirma que:

“O processo de indenização foi incompleto, muitos não foram indenizados e quem recebeu não teve a indenização calculada levando em consideração a restituição das condições de trabalhador rural, ou seja, a indenização não forneceu as condições de aquisição de terras e de infraestrutura para agricultura e criação de animais” (SOUSA, 2009, p. 87).

Foram muitas lutas para que o povo do Zabelê conseguisse uma nova terra para morar, somente em 1997, a comunidade Zabelê foi reassentada em um novo local (SOUSA, 2009). E assim na Fazenda Lagoa, ou Fazenda dos Padres, localizada em São Raimundo Nonato, surge a comunidade Novo Zabelê.

2.1. Da “Casinha” ao “Muzab”

Figura 1- Casinha onde funcionou o museu. Fonte: Arquivo pessoal (2019)

Na tentativa de conhecer mais sobre o seu passado, um jovem foi em busca de saber mais sobre as histórias do seu povo, isso através de conversas com as pessoas mais velhas. A estratégia utilizada por ele foi conversar com elas no cemitério do Antigo Zabelê, hoje localizado no território do Parque Nacional da Serra da Capivara, quando iam acender velas no dia dos finados. Conforme relata nessa conversa:

“Cresci ouvindo as histórias e sempre muito apaixonado por todas as histórias que minha mãe me contava, aí fui crescendo fui sabendo da história da Niède Guidon sobre o parque e sempre tive essa vontade de saber cada vez mais sobre a minha história né, sobre a história do meu povo. Então quando me tornei adolescente, eu intuitivamente elaborei um projeto. E comecei ir atrás, fazendo entrevistas com as pessoas mais velhas nos cemitérios, fazia entrevista no dia dos finados, né, que as pessoas vão pra lá, mas, no começo era muito desorganizado assim eu só queria saber da história”. (Entrevista concedida pelo Iderlan de Souza, 36 anos, em 13-12-2021)

Depois de muitos dados coletados e muitas informações, este jovem, Iderlan, não sabia ao certo o que fazer. Cogitou escrever um livro, mas não deu continuidade. Então posteriormente teve a ideia de fazer um museu, reunindo sua trajetória pessoal e familiar na comunidade e seus conhecimentos profissionais e acadêmicos. Iderlan de Souza é arqueólogo, formado em Arqueologia e Preservação Patrimonial pela Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF, mas hoje vive 100% do Turismo. Atua como condutor no Parque Nacional Serra da Capivara, e entende que sua comunidade tem um potencial gigantesco para o Turismo, seja por conta da localização ou por conta do patrimônio vivo existente na mesma.

Outras pessoas da comunidade têm essa mesma expectativa sobre o seu potencial turístico, conforme relatos abaixo:

“Esse museu sendo construído e eu acredito que quando o museu tiver todo terminado o turismo aqui dentro da comunidade vai crescer vai abrir portas para muitos, né? Ter sua renda, poder vender seu artesanato, o restaurante funcionar todos os dias eu vejo uma forma muito promissora o turismo dentro da comunidade.” (Entrevista concedida pela Maíra Alves, 39 anos, em 07-01-2022)

“[..]É um projeto muito bonito do museu inclusive com a área pra criar fazer um viveiro ecológico, aquilo ali vai ficar com plantas orgânicas ali, vai ficar ótimo, vai aumentar, quer saber porque? Porque vai ter um ponto de referência melhor, não só para os turistas, mas eu digo para a comunidade e para as pessoas de São Raimundo Nonato e da macro região porque é importante o pessoal conhecer essa história do Antigo Zabelê e do novo, isso é uma história e que dá até um livro[...]” (Entrevista concedida pelo Jean de Oliveira Ferreira, 47 anos, em 07-01-2022)

Em sua busca constante por conhecimento sobre seu povo, até mesmo para que assim, essas histórias não se percam ao longo do tempo, Iderlan, juntamente com outras pessoas da comunidade, inclusive com objetivo de reativar a memória, em 2018 criaram um museu comunitário com artefatos que rememoram o Antigo Zabelê. E com isso pretendem mostrar através de vozes e artefatos suas histórias. Histórias essas de resistência, histórias que comovem quem as escutam.

Segundo os antropólogos Lersh e Ocampo (2004), museu comunitário é um museu que nasce por meio de uma decisão da comunidade enquanto coletivo, sendo fruto de mobilização política com o intuito principal de defender sua história. No caso da comunidade Novo Zabelê, percebe-se que as narrativas orais, evocando a memória, foram cruciais para a criação do museu e consequentemente preservação de suas histórias, como fios condutores ao não esquecimento dessa identidade.

É possível relacionar a memória aqui descrita e o processo de criação do museu, com o que analisa GODOI (1999). Segundo a autora a memória, não é um patrimônio definitivamente constituído; ela é viva porque nunca está acabada. Ao realizar pesquisa precisamente na comunidade Zabelê, num contexto de pressão sobre o território do grupo (período de constituição do Parque Nacional Serra da Capivara), entende a memória como criadora de solidariedades, produtora de identidade e portadora de imaginário, erigindo regras de pertencimento e exclusão, delimitando fronteiras.

Iderlan resolveu colocar seu plano em ação, quando estava para receber uns “amigos” estudantes do estado do Maranhão. Em uma conversa com Dona Alberta, agricultora aposentada e esposa do presidente da Associação dos Assentados da Comunidade, sobre seu desejo de montar um museu lhe perguntou se teria uma casinha disponível para tal feito, se algum morador cederia alguma casa ou lugar para usar como museu.

Dona Alberta é uma liderança da comunidade, pois é presente em vários projetos lá existentes, como o restaurante que ela e mais quatro mulheres administram. Foi ela quem deu a ideia de usar a “casinha” como museu, a casinha foi feita para ser uma casa de farinha, inclusive tinha até a marca do forno, nessa mesma casinha já funcionou uma fábrica de material de limpeza e agora seria a vez de utilizá-la como museu. Um dia antes de receber esses estudantes do Maranhão, a casinha foi transformada para virar museu, conforme conta Dona Alberta:

“Aí eu fui limpar, limpei ajeitei tudo, tirei as coisas de dentro, da gente trabalhar, coloquei num quarto, e aí ajeitei. Aí quando foi no outro dia mais ou menos às doze horas, aí os estudantes chegaram, aí a professora que veio de lá, aí nós se reunimo lá no colégio, aí ele disse agora dona Alberta a senhora vai lá pra o colégio, que eles vão lá pra o colégio, nós vamos ajeitar aqui o museu, aí ajuntou umas quatro mulher, e outras pessoas aí ajeitaram aí como museu, aí quando foi seis horas nós viemos visitar o museu. [risos]” (Entrevista concedida pela Dona Alberta, 74 anos, em 30-12-2021)

A princípio o acervo do museu era feito de fotos em banner, que retratam a vida das pessoas quando moravam no Antigo Zabelê, artefatos e indumentária, que em sua maioria mostram como eram seus modos de vida, já que são peças utilizadas no cotidiano, como panela de ferro, ferro de passar, pote de barro, banca de pote, rádio de caixote antigo, pilão, mão de pilão, ceras da maniçoba, máquina de costura, tamborete e um chinelo de couro. Todo o acervo do museu foi doado por antigos moradores, apesar de não existirem muitos materiais porque muitas coisas se perderam.

A casinha foi muito útil, pois a partir da criação do museu comunitário, eles ficaram mais confortáveis para contar a história do seu passado para quem os visitassem. Até mesmo porque fazendo uma conexão entre os artefatos e as histórias orais, facilita o entendimento e compreensão. Então resolveram dar um nome para o museu, surgiram várias sugestões, como: Museu Comunitário, Museu das Recordações, Museu do Antigo Zabelê e assim por diante.

Tarefa um tanto difícil essa de dar nome, ainda mais quando se tem vários pertencentes, mas a princípio seria Museu do Antigo Zabelê, afinal o intuito era relatar suas histórias e vivências no Antigo Zabelê e todo o processo de desapropriação.

Os idealizadores estavam super felizes com o museu, mas queriam mais, queriam um lugar mais adequado para ser o museu, tinham o sonho de ter um museu próprio, e não um museu adaptado. Então através de doações de visitantes, Lei de incentivo Aldir Blanc , também com ajuda do Projeto Veredas (de que falarei a seguir), a nova estrutura onde será o novo museu está quase finalizada.

A estrutura do novo museu será bastante ampla, e contemplará suas histórias e cultura de todos os âmbitos, seja a parte oral, a escrita, costumes, artesanatos e saberes medicinais, conforme explica Iderlan:

“Bom! Aí a ideia do museu agora, eu posso te mostrar depois, ele vai funcionar com arte e educação, tem a parte da exposição das fotos e da cultura material, tô fazendo aqui uns textos pra ser auto explicativo[...] Aí no espaço do museu além desse tem o anfiteatro, para as apresentações culturais, todas relacionadas a história do povoado, como reisado, bom é muita coisa que a gente vai criar lá nesse espaço. Aí eu pretendo que tenha teatro música, aulas e oficinas de desenho, até de arqueologia experimental também, fazer cerâmica essas coisas. E tem a loja para que o pessoal possa colocar seu artesanato e vender pra o turista. E o projeto do museu ele vai tá inserido um jardim botânico da caatinga com espécies de plantas que também tenha relação com as pessoas, principalmente as plantas que servem pra chás, essas coisas assim ou que salvou o pessoal quando a seca era muito grande o pessoal comia aquele material aquela semente, aquela fruta, é e depois tem mais coisas ainda no projeto [...]” (Entrevista concedida pelo Iderlan Souza, 36 anos, em 13-12-2021)

Iderlan Souza ainda explica que foi alterado o nome do museu, para assim deixar os organizadores, a comunidade como um todo, mais livres em relação ao acervo, pois segundo ele, no museu já havia itens que não eram do Antigo Zabelê, mas que, porém, a comunidade achava de suma importância para suas histórias. Dessa forma o novo museu, receberá o nome de MUZAB, que significa Museu Zabelê.

Figura 2- Construção do novo museu e as ruinas da casinha.. Fonte: Arquivo pessoal (2021)

Figura 3- Estrutura do MUZAB. Fonte: Arquivo pessoal (2021)

Conforme mostram as imagens acima, na figura 2 especificamente, a casinha foi derrubada. Iderlan explica que infelizmente não pode ser preservada, pois já estava muito deteriorada, com sérios riscos de desabamento.

Diante dos relatos nota-se que a comunidade descreve o museu comunitário como principal atrativo para o turismo. E autores mostram que museu comunitário e turismo de base comunitária possuem elementos em comum como a valorização da identidade e das políticas e patrimônios culturais, além do desenvolvimento sustentável.

A museóloga Moana Campos Soto (2014) explica que o conceito clássico de museu, que operava com as noções de edifício, coleção e público, passou a operar através de novas categorias: o território, o patrimônio e a comunidade SOTO (2014, p.128). E a cientista social Susy Santos (2017, p.67) também enfatiza que o museu comunitário é um processo e não um produto. Assim, museus comunitários tornam-se espaços de articulação política e mobilização social, criados para ressignificar e fortalecer a identidade do grupo.

No caso do MUZAB o principal objetivo é preservar a memória social, o principal patrimônio da comunidade. O MUZAB, estimulado pelas possibilidades de implementação de um Turismo de Base Comunitária, contará uma versão da história que não é mostrada nos grandes museus da região.

3. PROJETOS E AS DINÂMICAS DE RECIPROCIDADE

O Turismo Comunitário no Novo Zabelê está em vias de implementação. Normalmente recebem estudantes do Maranhão e de São Paulo. Além de outros turistas, pois a comunidade está localizada numa via de acesso a uma das rotas turísticas tradicionais do Parque Nacional Serra da Capivara. E isso facilita para que os condutores do parque divulguem e façam uma parada estratégica na mesma.

Conforme narrativas nota-se que o grupo é flexível, quando se trata de questões ligadas a sociabilidade, no geral eles são abertos com outros agentes sociais, internos e externos. Inclusive, na questão de receber orientações de como proceder, de como ir em busca de benefícios e projetos que beneficiem a comunidade, conforme relata o Senhor Pedro Alcantara, presidente da associação dos assentados da comunidade, guia mateiro e palestrante:

“Aí graças a Deus, daí pra cá, as coisas foram melhorando, foi quando o Dom Helder chegou aqui também eles nos ajudou, mais do que você pensar, porque eles nos ensinou a viver, fez vários tipos de projeto, adonde foi aprovado ainda 22 projetos aqui dentro do assentamento, adonde teve projeto da casa de beneficiamento de fruta, teve projeto de restaurante, teve projeto de criame de galinha, da roça, de todo tipo de projeto, a gente tinha, a gente executou quase todos os projetos, aí o povo foi se amelhorando aqui dentro.”

(Entrevista concedida pelo Senhor Pedro Alcantara, 74 anos, em 30-12-2021)

Desses projetos mencionados no relato acima alguns estão inativos, sobretudo, em razão dos regimes pluviais do semiárido piauiense que geram impactos na agricultura e na criação, além da falta de matérias-primas contínuas. Mas a comunidade tem a expectativa de que com a implantação do museu, surgirão oportunidades para reativar projetos já existentes, assim como também de aparecer novos projetos.

Ao analisarem uma proposta de Turismo de Base Comunitária na comunidade Anã-Santarém no Pará, a partir da chave analítica da reciprocidade, os cientistas sociais Assis e Peixoto explicam que:

“A dádiva é uma ação humana relacional que cria vínculos sociais tanto amistosos, como de dependência e dominação. O ato de dar é uma ação que não se restringe à troca de bens materiais, pois para além desses bens, também envolve valores espirituais e interesses subjetivos.” (Assis e Peixoto: 2019, p.148)

As atividades de TBC e as dinâmicas de reciprocidade em Anã-Santarém no Pará permitem um paralelo com o Novo Zabelê. Diante do contato com a comunidade, e através das narrativas, nota-se que essa questão da reciprocidade é bem forte, pois em muitos relatos, eles deixam bem claro a satisfação em poder ajudar, assim como também, mostram-se abertos a contribuições.

A comunidade em questão possui vínculos com vários agentes sociais externos, e através disso estão construindo um museu que irá beneficiar a comunidade e a região do Território Serra da Capivara. Isso através de doações e incentivos, que vão desde os turistas, Lei Aldir Blanc, o Projeto Veredas e essas contribuições estão sendo cruciais para tal realização. Há uma dinâmica interna de dar e receber, conforme mostram as narrativas abaixo:

“Eu também agradeço é uma coisa que eu faço, com muito prazer, com muito gosto, porque isso aí como eu já tô na idade que eu tô, a gente deve repassar aquilo que a gente sabe pra os outros, principalmente as pessoas que tão estudando vão se formar e elas tem condições de repassar aquilo pra outras pessoas e dizendo foi o ex fulado que repassou pra nós. Eu faço isso com muito prazer.” (Entrevista concedida pelo Senhor Pedro Alcantara, 74 anos, em 30-12-2021)

“Mas olha, o que fez o museu dar uma alavancada, que talvez as pessoas não saibam foi a professora Vivian [docente do curso de Arqueologia da Univasf]. Se ela não tivesse me ligado... “Iderlan se inscreve, inscreve o museu, registra o museu”. Então assim eu tenho a agradecer a ela, sempre pra mim a professora Vivian ela sempre faz isso, ela dá umas ajudas, faz umas coisas assim bem importantes pra história daquele momento da coisa [...] Então só quero agradecer todo mundo e reforçar que não faço nada sozinho, e é importante que todo mundo possa contribuir, todo mundo possa usufruir também, do espaço, da história.” (Entrevista concedida pelo Iderlan de Souza, 36 anos, em 13-12-2021)

Relaciono a conduta do grupo com a teoria de MAUSS (2003), onde mostra que a dádiva faz parte do princípio da reciprocidade e que isso fundamenta o social. Frisa ainda que é por meio da troca que os grupos se socializam, o ato de dar, receber e retribuir, faz com que as sociedades se conectem e de certa forma busquem uma união. Segundo o autor, a dádiva é inerente à sociabilidade humana, pois a dádiva é o embasamento da sociedade, é através da dádiva que as sociedades vivem em harmonia, pessoas se conectam e grupos se unem.

O processo que levou a desapropriação e a reapropriação da Comunidade Novo Zabelê, fez com que determinadas alianças fossem criadas, fazendo parte da organização social da mesma. E contribuindo para a sua luta e resistência. Diante desse cenário nota-se que é presente alianças de hospitalidade entre as pessoas da comunidade e outros grupos externos, como turistas, pesquisadores, universidades e coordenadores de projetos externos. E essa aliança de hospitalidade é um indicador positivo para o Turismo de Base Comunitária, conforme nos explica Assis e Peixoto (2019):

As alianças de hospitalidade são especialmente observadas no turismo, uma vez que o ato de receber alguém em sua casa, sua cidade, sua comunidade, envolve muito além de questões materiais. Ser hospitaleiro é oferecer o melhor de si; é doar-se para a harmonia da interação social; é praticar a alteridade e criar todas as condições favoráveis para o bem-estar do outro. (p.149)

Essas questões abordadas sobre dádiva e hospitalidade, podem ser constatadas nas interações sociais entre diversos grupos externos citados anteriormente e a comunidade Novo Zabelê. E essas relações pode ser ambivalentes, conforme explicam Assis e Peixoto (2019, p.149). Afirmam que embora no turismo comercial a hospitalidade seja paga, e por isso a dádiva se torna interessada economicamente, essa relação comercial também cria possibilidades de dádivas desinteressadas ou com ganho de capital simbólico.

E é sobre a relação entre alianças, reciprocidades e projetos externos na comunidade Novo Zabelê, que falarei a seguir.

3.1. Projeto Veredas

O Projeto Veredas é uma das iniciativas que vem contribuindo para alavancar o Turismo de Base Comunitária na comunidade Novo Zabelê, com foco na preservação das culturas e tradições. O Projeto Veredas é uma iniciativa que partiu dos alunos do Colégio Santa Cruz, instituição de ensino privada de São Paulo, que após um passeio escolar de estudantes do 9° ano ao Parque Nacional Serra da Capivara, tomaram iniciativas para colaborar junto com as comunidades do entorno na valorização da memória local.

O Turismo na comunidade Novo Zabelê surgiu, em boa medida, com os alunos do Colégio Santa Cruz de São Paulo que visitam a comunidade anualmente no mês de Maio. Geralmente 200 alunos da escola vêm a região de São Raimundo Nonato, permanecendo durante uma semana e almoçando todos os dias no restaurante da comunidade, gerando assim uma renda significativa para o grupo de senhoras que administram o restaurante. E a partir daí outras pessoas passaram a visitar a comunidade, conforme me contou Maíra Alves, moradora do Novo Zabelê.

O Projeto Veredas é um projeto social que nasceu em 2017, abrange algumas comunidades do Território Serra da Capivara, como Lagoa das Emas no Quilombo Lagoas e a Comunidade Novo Zabelê. Conforme nos contou Helena Werneck coordenadora do projeto:

“É um projeto que foi fundado há 4, quase 5 anos, por estudantes de São Paulo, do colégio Santa Cruz que visitam anualmente... Uma viagem de todo ano é a Serra da Capivara e as comunidades do entorno, e a ideia surgiu quando eu estava no nono ano, a gente visitou as comunidades e quando a gente voltou pra São Paulo, com uma sensação de que a gente tinha ferramentas e recursos pra ajudar, e que não fazia menor sentido a nossa relação com as comunidades visitarmos, visitarmos, visitarmos e a partir disso adquirir conhecimento só pra gente. A gente tinha muito pra colaborar com as comunidades e a construir de forma conjunta. E a partir desse desejo nasce o Projeto Veredas, nasceu de uma forma super orgânica, e depois foi se estruturando ao longo dos anos.” (Entrevista concedida pela Helena Werneck, 19 anos, em 10-01-2022)

O Projeto Veredas tem parceria com o Instituto Olho d'Água , ONG local que atua com crianças em situação de vulnerabilidade social através de aulas e oficinas socioeducativas. Destaco que parte dos integrantes do Projeto Veredas fizeram parte também do “Somos Todos Capivara”, uma iniciativa realizada em 2015 para arrecadar recursos para o Parque Nacional Serra da Capivara.

Qualquer pessoa pode contribuir com doações. Ao entrar no site do Projeto Veredas (www.projetoveredas.org) há uma aba “doar”. Clicando lá, aparecem as opções para doações que podem ser via pix, paypal ou picpay. E pode ser doado qualquer valor em dinheiro.

Um dos meios do Projeto Veredas arrecadar recursos, é através do festival de música Piauífest, que nesse período de pandemia, está sendo em formato de live através do canal do YouTube do Projeto Veredas. Durante o evento acontecem diversas apresentações, de artistas famosos ou não, as arrecadações acontecem através de um código QR. Já se apresentaram no Piauífest artistas como Zeca Baleiro, Marisa Monte, dentre outros. A Helena Werneck nos explica melhor sobre o festival e as formas de doação:

“Inicialmente a gente fez bazar, festival de música na escola, com bandas. O Piauífest depois foi crescendo até se tornar um festival que hoje é relativamente grande, e assim a gente foi, primeiro a gente trabalhou numa comunidade quilombola, Lagoa das Emas, e segundo a gente começou a trabalhar com o Novo Zabelê, eram comunidades que a gente tinha vínculo, a gente conhecia as lideranças, que a gente conhecia mais ou menos os problemas, e aí fomos conversando com as comunidades pra tentar entender, o que nós poderíamos construir de forma conjunta.” (Entrevista concedida pela Veredas Helena Werneck, 19 anos, em 10-01-2022)

É importante destacar a contribuição do Projeto Veredas, para as comunidades na pandemia de Covid-19, conforme relata Helena Werneck:

“[...] Durante a pandemia que a gente percebeu necessidade urgente das comunidades, então, por mais que seja importante, a gente percebeu que no dia-a-dia as pessoas estavam passando por muitas dificuldades e que a gente tinha que fazer alguma coisa à respeito. Então a partir disso a gente primeiro fez uma campanha de arrecadação, e distribuiu cestas básicas, para as comunidades, depois a gente conseguiu elaborar ainda melhor esse projeto quando a gente recebeu apoio da embaixada da França no Brasil, e nos deu um recurso bastante significativo, perto do orçamento do projeto, e nos permitiu a gente apoiar 400 famílias na região, inclusive famílias do Zabelê, com um cartão pré-pago da Sodexo, que as famílias podiam ir no mercado, numa realidade muito mais do que as cestas básicas, porque cada um podia optar por comprar o produto que quiser, quando quiser, dentro do orçamento que o cartão possibilita.” (Entrevista concedida pela Helena Werneck, 19 anos, em 10-01-2022)

Uma outra maneira do Projeto Veredas arrecadar recursos para contribuir com as comunidades do entorno do Parque Nacional Serra da Capivara, é através de uma loja online, com vendas de produtos variados, vão desde camisetas, bolsas, bonés e moletons, com estampas que representam a região aqui descrita.

De acordo com a visão de moradores, o Projeto Veredas com suas iniciativas tem contribuído de forma positiva para a comunidade, conforme nos mostram, relatos abaixo:

“Ah sim, bem importante na verdade, é uma peça fundamental também, pra gente ter essa força, eles ajudam o Território Serra da Capivara, né? Eles tem loja virtual que vende produtos da Serra da Capivara, com o tema, né, da Sera da Capivara, fazem festa, o Piauifest, foram eles que fizeram pra arrecadar dinheiro, e fazem muitos eventos pra arrecadar dinheiro pra ajudar o pessoal, eles ajudaram a comunidade quilombola, com um espaço que eu não conheço pessoalmente, um espaço que eles fizeram lá também que a própria comunidade vem fazendo, desenvolvendo, eles vem financiando. Eles trazem arquiteto, trazem tudo, apesar de que o museu foi eu que desenhei, mas a arquiteta tinha vindo antes na fase que não deu certo, né?”. (Entrevista concedida pelo Iderlan de Souza, 36 anos, em 13-12-2021)

Maíra Alves empresária na área de emplacamentos de veículos e Jean Ferreira, vereador, ambos moradores do Novo Zabelê, também veem com bons olhos as atividades do Projeto Veredas na comunidade:

“Os alunos do colégio Santa Cruz é numa sensibilidade enorme de um grupo de estudantes que formaram o Projeto Veredas. Através disso, também dessa preocupação, eles tiveram a ideia de criar o Projeto Veredas para ajudar as comunidades locais aqui do entorno do parque e com isso presenteou a comunidade Novo Zabelê com o museu que está sendo construído. Que é pra contar essa história em forma de fotos, de coisas antigas que relembre alguma coisa, que tenha um valor emocional, um valor imaterial pra eles, né?”(Entrevista concedida pela Maíra Alves, 39 anos, em 07-01-2022)

“[...] Eles tão sempre dentro da comunidade, é quando vem o grupo dos estudantes, se eu não me engano, não sei se é Vera Cruz ou Santa Cruz, eles vem, eles tão sempre lá dentro. E agora mesmo nesse momento de pandemia, o Projeto Veredas contribuiu bastante com cestas básicas, lá para a comunidade distribuiu, os estudante mandando de lá junto com o projeto daqui, e eles distribuindo. [...] Então assim, o Projeto Veredas é um parceiro muito grande e muito importante ali da nossa comunidade [..] Mas eles tem contribuído. Da minha parte eu pelo menos vejo a contribuição deles, né? E sempre coloco à disposição, e eu acredito que eles sempre puxam ali a comunidade pra ver se a comunidade, todos se acordam pra trabalhar em prol da coletividade. [...]”(Entrevista concedida pelo Jean de Oliveira Ferreira, 47 anos, em 07-01-2022).

É interessante perceber a relação da comunidade com o Projeto Veredas, uma iniciativa de estudantes paulistas de um colégio de elite com múltiplos capitais - especialmente simbólicos- que ao mobilizar relações com agentes sociais externos ao Novo Zabelê, conseguem trazer recursos que a comunidade, isoladamente, talvez não conseguiria. Segundo Bourdieu (2007) capital simbólico são os valores compartilhados e valorizados por um determinado grupo. Esses valores são inseridos através do habitus e preservados pelo princípio de diferenciação, e assim reconhecem suas diferenças e valorizam-nas.

A comunidade Novo Zabelê vê a iniciativa destes estudantes como muito bons olhos. Foram eles, por exemplo, que vêm financiando parte das obras do Muzab. Nas dinâmicas de dar e receber da comunidade, entendem o Projeto Veredas, criado por visitantes que deram início as atividades turísticas da localidade, como fundamental para o incremento e melhoria dos projetos ali desenvolvidos. Como um capital, financeiro, mas sobretudo simbólico, que valoriza e reforça as potencialidades da comunidade.

4. DESTINOS, ROTEIROS E PERCURSOS

Esta parte do artigo volta-se para uma antropologia aplicada. Com vistas a contribuir com projetos de TBC na comunidade propõe duas opções de roteiros turísticos na mesma. De forma complementar, trará a descrição da localização exata da região da pesquisa, através de dois mapas, sendo o primeiro a localização do Parque Nacional Serra da Capivara, no mundo, no Brasil e no Piauí, e um mapa da comunidade Novo Zabelê. Os roteiros criados, vinculam visitas no Novo Zabelê associadas a dois outros pontos turísticos da região: A Serra Vermelha e a Serra Branca.

Figura 4- Representação da localização do Parque Nacional Serra da Capivara no Globo, no mapa do Brasil e no mapa do Piauí.. Fonte: Fumdham apud Oliveira

A imagem acima, figura 4, mostra a localização do Parque Nacional Serra da Capivara no mundo, no Brasil e o no Piauí. Para assim ter uma noção mais precisa da localização da região dessa pesquisa.

Na imagem abaixo, figura 5, está o mapa criado de forma conjunta com a comunidade, na primeira parte é o mapa do Parque, mostrando as cidades do entorno, dando destaque para as rodovias de acesso e enfatizando a comunidade Novo Zabelê, Circuito Serra Branca e o Circuito Serra Vermelha. Na segunda parte, é o mapa do Novo Zabelê, onde é possível identificar as 7 ruas, a rodovia de acesso e destaca os principais pontos turísticos.

Figura 5- Localização da área da pesquisa. Fonte: Ariclenes Santos (2022)

Descrevendo esses pontos turísticos, o MUZAB é identificado pela seta verde, seguido da casa do doce com um pontinho rosa, posteriormente a casa do mel com um quadrado amarelo, e por último o restaurante que fica bem na entrada da comunidade, próximo a PI-140, identificado por um quadrado verde.

Esses pontos fazem parte do roteiro turístico da comunidade, fazem parte do roteiro normalmente visitados pelos turistas. Mas existem outros pontos não destacados no mapa que podem vir a ser inseridos em futuros roteiros conforme proponho a seguir: a casa do algodão e a sede, além de visitas a casas de artesãos locais, valorizando assim a história e memória da comunidade.

Como já dito, a localização da Comunidade Novo Zabelê é um facilitador para que o Turismo comunitário aconteça e para que a mesma faça parte do roteiro tradicional já existente na região. Pois a comunidade fica no acesso a Serra Branca e a Serra Vermelha, dois circuitos turísticos do Parque Nacional Serra da Capivara. Conforme mostra o mapa e relata o nosso interlocutor:

“Aí eu me toquei, poxa eles têm restaurante, eles têm casa de doce, casa de mel, de algodão, tem tudo, eu disse: Poxa! Tem dois circuitos turísticos próximos que é a Serra Vermelha e a Serra Branca. Eu disse é perfeito para o turismo, a comunidade tá envolvida com o turismo, então se criarmos o museu vai preservar a memória e ainda vou atrair o turismo para melhorar a economia do local.” (Entrevista concedida pelo Iderlan de Souza, 36 anos, em 13-12-2021)

O mapa em questão foi desenvolvido de forma conjunta com a comunidade, conforme já mencionado. Havia uma inquietação em relação a não existência de um mapa da região, um mapa que mostrasse a proximidade da comunidades com outros pontos turísticos. Dessa forma, conjuntamente, desenvolvemos esse mapa, que será aprimorado para ser utilizado como guia turístico, como forma de divulgação da comunidade, conforme relato abaixo:

“Mas eu quero fazer assim que o turista que venha aqui pra São Raimundo, ele venha sabendo que tem esse roteiro, aí quero fazer os mapas, que tenha o restaurante, casa do doce, casa do mel, do algodão tudo no mapinha, o mapa do parque e a parte da comunidade, então eles já vão receber nos hotéis, o folderzinho, já sendo convidado, pra visitar e conhecer a comunidade, pra conhecer o material deles. Então eu pretendo investir bastante em divulgação daqui pra frente. [...] Então esse mapa a gente pode fazer juntos. [...] Mas aí a gente tem que pensar no mapa que todo mundo quer ter, não só um mapa informativo, um mapa bacana com designer bacana, então a gente pode ir elaborando umas partes e ir trocando as figurinhas.” (Entrevista concedida pelo Iderlan de Souza, 36 anos, em 13-12-2021)

Conforme relato acima, o objetivo da pesquisa, coincidiu com o atual desejo da comunidade. E o desejo era fazer um mapa diferenciado, interativo conforme menciona o interlocutor, mas devido a alguns contratempos, resolvemos dar um ponta pé inicial com um mapa apenas da localização- mapa informativo.

A fim de destacar os principais pontos turísticos do Novo Zabelê, apresento a seguir duas opções de roteiros desenvolvidos junto com a comunidade e aprimorado a partir de um roteiro já existente. Roteiros esses sem precificação, apenas enfatizando a possibilidade de comercialização dos mesmos.

Para uma melhor operacionalização, a primeira opção é um roteiro de dois dias para um grupo maior de até quinze pessoas. Para que esse roteiro seja realizado, será necessário um custo maior, mas consequentemente um retorno financeiro maior para a comunidade, por exemplo: Seriam necessários dois guias de turismo, mobilizaria as senhoras do restaurante por dois dias. Já a segunda opção é um roteiro de apenas um dia e é para um grupo menor, casal ou família de até cinco pessoas. Nessa opção envolveria menos pessoas na operacionalização deste. O roteiro dentro da comunidade é possível realizar a pé, a utilização de transporte seria destinada apenas para ir até a sede e para visitação aos circuitos Serra Branca e Serra Vermelha. Em relação a coordenação, operacionalização e comercialização desses roteiros, acredita-se que seria viável verificar a possibilidade de realizar uma parceria entre comunidade, guias de turismo e hotéis da região.

Roteiro 1- Turismo de experiência na Comunidade Novo Zabelê

1º Dia

07H30- Saída do hotel após o café da manhã com destino a Serra Branca;

08h30- Visita a Serra Branca- Sítio histórico dos maniçobeiros casa do João Sabino com a travessia para a toca do caboclo e depois visitação do sítio pré-histórico Toca do Vento;

12h00- Almoço comidas típicas da região no restaurante comunitário que é administrado por mulheres na comunidade Novo Zabelê;

14h00- Visitação e degustação na fábrica de doces.

14h30- Visitação a casa de artesãos locais, onde será possível acompanhar ele fazendo suas artes

15h30- Visitação ao MUZAB- lá os moradores apresentam os artefatos e narram suas histórias.

16h30- Assistir uma apresentação de folia de reis no anfiteatro do MUZAB;

18h00- Chegada ao hotel

2º dia

07H30- Saída do hotel após o café da manhã com destino a comunidade Novo Zabelê;

08h00- Visitação a sede- onde ouvirão as histórias das pessoas da comunidade desde a sua chegada naquele local e irão experienciar os cuidados com os animais, como tirar leite da vaca, assim como andar a cavalo.

10h00- Visitação a casa de farinha irão conhecer e ter a experiência de saber como é produzido a farinha, a tapioca e seus derivados.

12h00- Almoço comidas típicas da região no restaurante comunitário que é administrado por mulheres;

14h00- Tour panorâmico passando pelos outros pontos turísticos da comunidade (Casa do mel, casa do algodão, Igrejas), com destino a Serra vermelha;

15h00- Visita a Vermelha- Baixão das andorinhas, Toca da Roça do João Daniel, visitação também a Reserva Sítio João Pimenta;

19h00- Chegada ao hotel;

Roteiro 2- Turismo de experiência na Comunidade Novo Zabelê

07H30- Saída do hotel após o café da manhã com destino a comunidade Novo Zabelê;

08h00- Visitação a sede- onde ouvirão as histórias das pessoas da comunidade desde a sua chegada naquele local e irão experienciar os cuidados com os animais, como tirar leite da vaca, assim como andar a cavalo;

09h30- Visitação a casa de artesãos locais, onde será possível acompanhar eles fazendo suas artes;

10h30- Visitação a casa de farinha irão conhecer e ter a experiência de saber como é produzido a farinha, a tapioca e seus derivados.

12h00- Almoço comidas típicas da região no restaurante comunitário que é administrado por mulheres;

13h30- Visitação e degustação na fábrica de doces.

14h00- Visitação ao MUZAB- lá os moradores apresentam os artefatos e narram suas histórias.

15h00- Visita a Vermelha- Baixão das andorinhas, Toca da Roça do João Daniel, visitação também a Reserva Sítio João Pimenta;

19h00- Chegada ao hotel;

É válido ressaltar que o Turismo segundo BANDUCCI JR e BARRETO (2001) pode contribuir como uma forma do grupo se apropriar da sua identidade cultural e que a mesma é uma construção. Entendo os roteiros turísticos propostos como parte da construção da identidade cultural do Novo Zabelê, como um meio de incrementar o Turismo e, igualmente, valorizar as memórias, histórias e patrimônios da comunidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A trajetória feita nessa pesquisa, proporcionou analisar, através dos relatos das pessoas da comunidade e do Projeto Veredas, que esse grupo tem sido pouco valorizado, tendo suas contribuições silenciadas e historicamente excluídas. Suas memórias são o que eles possuem de mais valioso, pois é através da memória que eles reavivam sua identidade e cultura. E consequentemente é através da memória que eles resistem.

Para execução dessa pesquisa, foi feito um trabalho de campo e entrevistas em dois momentos, Dezembro de 2021 e Janeiro de 2022. Diante das narrativas coletadas, é possível perceber a expectativa da comunidade em relação ao Turismo de Base Comunitária. E como resultado, podemos dizer que a comunidade possui vários elementos que caracterizam o TBC como, por exemplo, uma liderança descentralizada, além de ser uma comunidade, de certa forma, engajada.

A base teórica apresentada no decorrer desse artigo, são de autores que já realizaram estudos na região do Território Serra da Capivara, assim como teóricos que trazem contribuições sobre Turismo, Turismo de Base Comunitária, Organização Social, Teorias da Reciprocidade, Museus Comunitários e Antropologia Aplicada. Pois dessa forma foi possível contextualizar a região da pesquisa, e posteriormente adentrar no tema mais especificamente.

Em relação às contribuições acadêmicas, essa pesquisa, poderá contribuir com os estudos na área de Turismo de Base Comunitária, divulgação da região, além de discussões sobre Antropologia Aplicada. Ademais, existem muitas pesquisas relacionadas a essa comunidade, mas sobre TBC, essa pesquisa é pioneira. À respeito das limitações, acredita-se que o fato de realizar a pesquisa durante uma pandemia, impactou, pois, a aproximação com a comunidade em muitos momentos foi apenas virtualmente, porém o objetivo central da pesquisa foi alcançado.

A construção do mapa e dos roteiros turísticos de forma conjunta, mesmo sem poder “estar juntos”, foi uma experiência enriquecedora. acredito que para ambas as partes. Pois, permitiu que conhecêssemos mais a comunidade e a região e fez com que a comunidade colocasse em prática um projeto que antes tinha só em mente.

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