Álter do Chão V - Festa do Sairé

INTRODUÇÃO

Encerra-se com este quinto artigo, que tem como objeto a Festa do Sairé, o conteúdo considerado como de interesse, pelos que pretendem visitar Álter do Chão.

Os quatro anteriores versaram sobre: o primeiro apenas apresentou Álter do Chão e a identificou geograficamente, bem como na estrutura político-administrativa do estado do Pará; o segundo narrou sobre: localização; acesso; um pouco de história; melhor época para turismo; e serviços básicos oferecidos por Álter do Chão; o terceiro restringiu-se a enumeração e pequena descrição dos principais passeios para conhecer melhor os encantos daquele pedacinho da Amazônia; o quarto tentou descrever o passeio à Flona Jamaraquá.

ORIGEM DO SAIRÉ

As raízes do Sairé encontram-se na tradição indígena. O evento era realizado pelos índios em vários lugares da Amazônia, para homenagear os colonizadores portugueses.

O processo de modificação do ritual de origem tem como causa a catequese dos jesuítas na região

O nome Sairé refere-se ao instrumento criado pelos catequistas, para perpetuar e firmar mais as religiões entre os índios e tem significação bíblica: santíssima trindade reunida num só Deus.

O símbolo do Sairé é um semicírculo, ou arco de cipó torcido, envolvido por algodão, significando a Arca de Noé, flores e fitas coloridas. No centro do semicírculo estão três cruzes, que representam o mistério da Santíssima Trindade, reunidas num só um Deus, representado por outra cruz, no topo do semicírculo. A imagem da pomba, que representa o Espírito Santo, também faz parte do adorno.

A partir da criação do Sairé pelos catequistas, em meados do século XVIII, o ritual de origem indígena passou a ter significado puramente cristão e católico. Passou a ser expresso no formato de procissão.

PROCISSÃO DO SAIRÉ

A procissão do Sairé tinha como centro os personagens que a constituem e o percurso por algumas ruas, até chegar à praça, à beira da praia de rio. Ali depositavam o arco e a imagem de São Tomé, pintada nas bandeiras.

Na frente, menino portando e agitando bandeira branca com grande cruz vermelha ao centro, onde a imagem de São Tomé se sobrepunha em pintura, ou bordado. Em seguida, vinham os músicos basicamente percussão e sopro. Depois, vinha carregado sobre ombros masculinos o mastro do Sairé, vendo-se na parte de cima a Imagem de São Tomé. Ao lado do grupo que carrega o mastro, caminham o Juiz e a Juíza da festa. Outros participantes e enfim, encerrando com destaque, vêm três mulheres trazendo o Arco do Sairé.

As três mulheres cantavam espécie de ladainha. Os acompanhantes respondiam o recitativo feito pelas três mulheres.

Cantavam as mulheres: Bonita mulher é Santa Maria/ e Jesus Menino é lindo como ela!

Respondiam os acompanhantes: “Oh! Santa Maria, Santa Maria/ nos céus e na terra, bendita seja”!

A procissão entra na praça onde será colocado o mastro.

A celebração se encerrava praticamente 10 dias após o início com a derrubada do mastro e com a cecuiara - lauto almoço com comidas típicas. Nesses tempos, a procissão do Sairé era ligada à celebração de N S. da Saúde, iniciada em 28 de dezembro e encerrada dia 6 de janeiro. O Sairé era encerrado no dia seguinte.

Por volta de 1943, os padres norte-americanos que atuavam na região, por considerarem o Sairé como espécie de idolatria, agiram e terminaram com a festividade, que somente voltou trinta anos depois.

DE PROCISSÃO À FESTA DO SAIRÉ

Até meados do século passado, o Sairé tinha significado puramente religioso. Hoje, a comemoração reúne sagrado e profano.

O folclore de caráter religioso sofreu alterações com o tempo, com a finalidade de transformá-lo num gigantesco evento. As gestões do município entenderam que o turismo seria excelente alternativa de receita. Além disso, parte do que era considerado profano na procissão, antes do meado do século passado, hoje é considerado religioso.

O ano que marca o ápice dessa transformação é 1997, quando foi introduzido o Festival dos Botos, disputa entre as associações folclóricas Tucuxi e Cor de Rosa, na qual encenam a lenda do golfinho de água doce que se transforma num homem bonito, seduz e engravida as mulheres.

A FSESTA DO SAIRÉ – SÉCULO XXI

Além da seca já ser mais acentuada e para quem gosta de mais agito, no mês de setembro, ocorre uma das mais antigas manifestações cultural popular da Amazônia, a festa do Sairé.

Festeja-se o Sairé no mês de setembro com ritual religioso, durante o dia, culminando com a cerimônia da noite, quando são feitas ladainhas e rezas. Depois, vem a parte profana da festa, com shows artísticos e apresentações de danças típicas e pelo confronto dos botos Tucuxi e Cor de Rosa, ponto alto da comemoração.

Ao longo dos anos, o Sairé foi ganhando novos contornos, com outros valores folclóricos sendo acrescentados pelos moradores de Álter do Chão, descendentes dos índios Borari: carimbó, puxirum, lundu, desfeiteira, camelu, valsa da ponta do lenço, marambiré, quadrilha, cruzador tupi, macucauá, cecuiara e outras que marcaram a riqueza de ritmos e a cultura da festa. Depois o folclore foi perdendo espaço para shows com artista midiáticos.

Para a historiadora Terezinha Amorim, “a introdução do Festival dos Botos foi a maior de todas as inovações ocorridas ao longo de mais de 300 anos de existência do Sairé, sendo a encenação de uma das mais belas e mais tradicionais lendas da Amazônia”.

O evento passou a realizar-se no Sairódromo, entre a segunda e a terceira semana de setembro A programação da festa, que tem duração, quase sempre de quatro dias, de quinta a domingo, tem basicamente a seguinte disposição: tem a parte religiosa de dia, ou nos finais de tarde e início de noite; depois vem a parte profana com apresentações musicais; e, na noite de sábado, a apresentação das duas agremiações Tucuxi e Cor de Rosa.

FESTIVAL DOS BOTOS

Essa inovação introduzida no final do século XX consiste na encenação de lenda amazônica, lenda do Boto, realizada por duas agremiações, Tucuxi e Cor de Rosa, que disputam o troféu de melhor encenação.

O enredo tem ideologia ecológica, pois ressalta a natureza, em especial o Lago Verde, palco da trama. A encenação gira em torno da sedução, morte e ressurreição do boto. São personagens a Cunhantã-iborari, a Principaleza do Lago Verde, a Rainha do Sairé, o Tuxaua, o Pajé e os pescadores. O boto é morto por ordem do pai (tuxaua) da moça (Cunhã-borari) seduzida e engravidada pelo boto. A fúria dos maus espíritos da região recai sobre Tuxaua que pede ao Pajé que ressuscite o boto. Momento apoteótico da encenação.

ILUSTRAÇÃO DE PROGRAMAÇÃO DA FESTA DO SAIRÉ

Na festa do Sairé, os elementos religiosos e profanos caminham lado a lado. Ela começa no hasteamento de dois mastros enfeitados, seguido de ritual religioso e danças folclóricas desempenhadas pelos moradores da vila. No último dia, sempre uma segunda-feira, ocorrem a “varrição da festa”, a derrubada dos mastros, o marabaixo, a quebra-macaxeira e a “cecuiara”, espécie de almoço de confraternização. A programação termina à noite, com a festa dos barraqueiros.

No sábado anterior:

Abertura da Festa do Saíré: Alvorada; Procissão Fluvial – Busca dos Mastros na parte da manhã e a noite Festa dos Mastros, inclusive com atração musical;

Quinta-feira –

Manhã: Alvorada com fogos; Benção do símbolo do Sairé; Abertura Oficial; Hasteamento bandeira do Brasil; Levantamento dos Mastros; evento artístico;

Noite: 18 horas rito religioso; evento artístico normalmente apresentação de danças tradicionais;

Sexta-feira – Como as atividades se estendem até o meio da madrugada de quinta, não existe programação pra as manhãs;

Noite: 18 horas – ritual religioso, em torno de 23 horas show musical;

Sábado – Manhã sem programação

Noite- 18 horas – ritual religioso; apresentação de das duas agremiações, Tucuxi e Cor de Rosa;

Domingo - Manhã sem programação

Tarde- 18 horas – ritual religioso; show musical

Segunda-feira –

Tarde – Apuração e divulgação do vencedor;

Noite - encerramento com a festa dos Barraqueiros.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Festa do Sairé realimenta a autoestima dos membros da comunidade e mobiliza sua união em torno de expressão de crença e beleza.

A Festa do Sairé reúne em torno de si a série de outras manifestações artísticas que participam da festividade.

Todos da comunidade, ou turista que participam da Festa do Sairé sempre mencionará o Sairé ao se referir à Álter do Chão.

FONTES:

Livro -“Cultura Amazônica. Uma Poética do Imaginário” - João de Jesus Paes Loureiro

Sites:

g1.globo.com

pt.wikipedia.org

santaremtur.com.br

viagem.uol.com.br

Endereço relacionado

LENDA DO BOTO

http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/1534646

Endereços pertinentes:

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/6916574 (Álter do Chão -I)

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/6951711 (Álter do Chão -II)

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/6965297 (Álter Chão-III)

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/6958543(Álter do Chão -IV)

J Coelho
Enviado por J Coelho em 09/06/2020
Reeditado em 09/06/2020
Código do texto: T6972109
Classificação de conteúdo: seguro