Pernambuco precisa colocar a literatura entre seus produtos turísticos
Pernambuco precisa colocar a literatura entre seus produtos turísticos
Alexandre Santos*
Pernambuco é um Estado de grandes riquezas turísticas. Tem sol, tem mar, fortes, casario, edificações que, na linguagem da arquitetura e da engenharia, contam a história de um povo heroico. Em cada nervura do mapa do Estado há alguma coisa da rebeldia do pernambucano frente ao invasor e da vida e da obra de personagens heroicos, como Matias de Albuquerque, Frei Caneca, Cruz Cabugá e Nelcy Campos. O clima é firme, com temperatura constante e amena. A culinária é deliciosa, fazendo salivar paladares ávidos pelos sabores sem igual de quitutes como os bolos de Rolo e de Souza Leão, das Cartolas, das Tapiocas, dos Pés de Moleque, dos sarapatéis, peixadas e buchadas. A música, os ritmos, as danças, a literatura, os repentes, o vale do Catimbau, as cachoeiras de Bonito, a Serra Negra, os Guararapes, as colinas de Garanhuns, a história viva que se respira em Olinda e em Igarassu, o arquipélago de Fernando de Noronha, o serpentear e o delta do Capibaribe, as praias, a ilha de Itamaracá, os novos enclaves industriais. Em Pernambuco tudo é grande, tudo tem beleza marcante. E, para além daquilo que todos se habituaram a chamar de multiculturalidade pernambucana, o povo é adorável. Pernambuco tem tudo e muito mais daquilo que, de modo geral, os turistas esperam encontrar ao visitar o Nordeste e o Brasil. Não é sem propósito o entusiasmo dos visitantes quando relatam aventuras turísticas aos amigos, os quais, de pronto, vestem o imaginário com viagens que, também, sonham fazer à terra de Capiba, de Pinto Ferreira, de Marcus Accioly, de Jorge de Albuquerque Coelho, de Joaquim Nabuco, de Gilvan Lemos.
O sucesso do turismo em Pernambuco se deve ao belo baú das delícias nele existentes ou criadas pelo seu povo para o desfrute de todos. Para que esse tesouro se revele e produza bons frutos, no entanto, há necessidade de tratá-lo e apresentá-lo adequadamente, garantindo bons acessos, cuidando da limpeza e da sinalização, ofertando hotelaria simpática, praticando preços convidativos, caprichando na acolhida aos visitantes e, claro, divulgando a existência das joias e preciosidades que podem fazer a festa dos turistas. E, aí, neste último quesito - sempre lembrando que disputa a preferência dos visitantes com outros destinos -, cabe ampliar o portfólio dos produtos turísticos disponíveis, incluindo tudo de bom que há no Estado, desde a história, passando pela geografia, pela economia, pelos negócios e pela ciência até cada uma das manifestações culturais.
Há pouco tempo, em seminário sobre o turismo em Pernambuco, defendi a inclusão da literatura pernambucana no rol dos produtos turísticos que o Estado pode oferecer, especialmente aos interessados em desfrutar a cultura da terra. À guisa de exemplo, citei, então, o fervilhar poético do sertão do Pajeú, a memória da Prosopopéia, de Manuel Bandeira, de Ariano Suassuna, a presença contemporânea de ícones como Raimundo Carrero, Lúcio Ferreira e Frederico Pernambucano de Melo, imóveis significantes como o Solar do Barão Rodrigues Mendes, a Casa Rosada da Rua Santana, a sede da Fundação Gilberto Freyre e a casa de Diana Rodrigues, em Triunfo. Naquela ocasião, sempre defendendo a literatura como produto turístico, citei eventos literários capazes reforçar a imagem de Pernambuco como 'Terra de Escritores' e de atrair pontualmente quantidades expressivas de turistas, como a Bienal do Livro de Pernambuco e a FLIPO.
Em um Estado multicultural como Pernambuco, o esforço para ampliar o número de visitantes não pode abrir mão da contribuição ao alcance da literatura. Nesta perspectiva, as campanhas para divulgar o Estado devem incluir as coisas do livro e da leitura entre seus produtos turísticos, despertando a atenção e atraindo a visita de pessoas interessadas em conhecer a arte literária aqui praticada desde sempre. Aliás, ao tempo que contribui para fortalecer o Turismo, uma campanha de divulgação da literatura pernambucana cumpre o objetivo subjacente de colocar Pernambuco entre os principais berços, estufas e cenários daquilo que de melhor se faz na arte literária brasileira, criando um círculo virtuoso capaz de espargir benefícios em todas as direções. A literatura pernambucana merece ser divulgada por Pernambuco, que merece ser divulgado pela literatura que sempre praticou.
(*) Alexandre Santos é ex-presidente da União Brasileira de Escritores e coordenador nacional da Câmara Brasileira de Desenvolvimento Cultural