MINHA PRIMEIRA VIAGEM

MINHA PRIMEIRA VIAGEM

Parece que foi ontem meus preparativos para viajar a Israel!

Foi nos idos de 1986, portanto, este ano completa trinta anos, minha alegria incontida de conhecer in loco, toda crença do meu credo religioso.

Fui convidado, na condição de Diretor do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo, pelo Governo israelita, através da Histadrut, para um Curso de Dirigentes Sindicais para América Latina e língua lusófica. O curso de duração de dois meses inicia na segunda quinzena de Julho e finda na primeira quinzena de Setembro. Calculando o custo benefício da passagem aérea, fica a passagem de um ano mais vantajosa para circular por vários países da Europa, sem custo adicional.

Assim, planejei viajar depois do curso com minha mulher por lugares auspiciosos, como a Espanha, Itália, França, Alemanha, e Holanda. Adquirimos o passe eurotrem, para nossa viagem programada. Também nos filhamos ao Albergue da Juventude para hospedarmos. Combinamos de vender nosso carro para custear nossa excursão.

Embarquei pela companhia Lan Chile com destino a Madrid, entre vários passageiros jovens que viajaram protestando o governo de Pinochet, pichando o toalete de bordo, cantando e bebendo durante todo o voo de destino. Chegamos pela manha e alguns jovens foram presos pela autoridade espanhola. Permaneci no saguão do aeroporto até a noite para fazer a conexão com a companhia El Al Israel Airlines para o destino final. Por vários policiais a paisana fui investigada por quais motivos me levavam a viajar para Israel. Em que pese ter em mãos a carta convite do Governo de Israel para o curso de dirigentes sindicais, nada os convenciam. Ademais, ainda me fizeram reconhecer minha mala no departamento policial, e, abri-la para averiguação. Liberado daquela investigação, não foi definitivo, pois chegando a Tel Aviv, novas indagações fui submetido, e, liberado tempos depois sob um fuso horário estranho, fui recepcionado pela organização Histadrut que me levou até o alojamento num taxi pelas ruas noturnas daquele velho mundo.

O Curso na verdade era a nossa experiência compartilhada entre os participantes, em castelhano, e a vivida por Israel em suas comunidades Kibutzim, cujo espirito comunitário tem o conteúdo socialista. Pois todos trabalham para o bem em comum e o progresso econômico e social do Kibutz. Assim sendo, não se leva em conta seu grau universitário em face da necessidade e do escalonamento de trabalho, podendo um médico em determinado dia servir na copa ou na portaria do Kibutz. O mercado não circula dinheiro, todos têm credito na medida das suas necessidades, cujas necessidades não são levadas em conta roupas de marca ou qualidades de produtos de higiene e de alimentação. Todo comercio de consumo é produzido Made in Israel. As crianças após determinada idade são alojadas separadamente dos pais, tal como um colégio interno e nos fins de semana podem visitar seus pais.

Foram dois meses de muita excussão por todos os cantos turísticos, em ônibus panorâmico com ar condicionado e guia espanhol. Conhecemos de Norte ao Sul e de Leste a Oeste todo o País. Recebíamos uma mesada para as refeições nos fins de semana e custeio de lavanderia, que nos davam uma folga financeira para os viajantes programarem seus retornos sem ônus aos mais carentes da América do Sul, sobretudo aos Bolivianos, Paraguaios e Uruguaios.

Entre os brasileiros participantes éramos quatro: um baiano, outro carioca e dois Paulistas. Havia português, argentino, chileno, boliviano, uruguaio, paraguaio, mexicano, costarriquenho, equatoriano, panamenho, hondurenho, colombiano, peruano e espanhol.

Por ocasião do encerramento do curso havia os festejos de Rosh Hashaná, ou seja, ano novo judaico. O país em festa, feriado religioso, quando fica inviável o turismo. Despacharam-nos, também para se eximirem da responsabilidade quanto à assistência médica que estávamos cobertos pelo plano de saúde governamental.

Alguns regressaram aos seus países de origem, outros como foi o nosso caso de brasileiros, seguimos para o Egito visitando as pirâmides e o museu do Cairo.

Retornei para Madrid a fim de me encontrar com a esposa que chegaria no dia seguinte. Hospedei-me num Ostal, para casal, pois com a chegada dela teríamos a onde nos hospedarmos. Assim se sucedeu uma péssima anfitriã, que surrupiou uma das valises, alegando que não havíamos confiado àquela reclamada. Deixamos sob protestos aquela hospedagem, com uma merecida reclamação policial, que só não foi feita para não atrasarmos nossa viagem.

Iniciamos nossa excursão de trem atravessando toda Europa até Amsterdam, onde as dependências do Albergue da Juventude eram unissex. Nosso amplo dormitório recepcionava vários beliches, tendo ao meu vizinho um nigeriano com meia-calça de nylon feminina, onde armazenava vários papelotes de substancias suspeitas. Com seus cabelos Black Power, um verdadeiro ninho de piolhos, me fez dormir de sobre aviso a qualquer comportamento estranho. Despertamos e fomos ao chuveiro, mas os Box não tinham cortina nem porta. Precisei improvisar com minha toalha um biombo para minha mulher poder se banhar. Nosso tour noturno chamou-nos atenção das casas vitrines onde as meretrizes se exibem como propaganda de consumo, com seus exóticos toalhetes de espartilhos, meias pretas com ligas floridas vermelhas. Pintando cigarros com piteiras longas, fazendo seus charmes artísticos. Na ponte de um canal se esticava ao chão um jovem recém-drogado com uma seringa injetado na veia substancia de entorpecente. Mai a frente outros jovem comercializavam suas drogas. Muitas casas de bingo e de roletas com suas luzes de néon piscavam convidando a todos para jogarem. Lojas com desenho da planta de maconha indicavam a venda da droga autorizada. Um templo que fora religioso, agora museu, confundia os turistas menos avisados. Caixa de musica no tamanho gigante tocava atraindo os fotógrafos a registrarem suas imagens, cobrando pelo uso da paisagem altas cifras de euros assustadores. Saindo pouco do centro turísticos, deparamos com as típicas holandesas com suas roupas e tamancos originais, cuidando da vida chacareira para seu próprio sustento e comercio local de verduras e temperos para consumo em geral. Noutros canais, além de casas anfíbias também ha comercio de plantas e flores, inclusive as originais papoulas, que mal utilizadas dão origem ao ópio anestésico.

Continuando nossa inesquecível viagem, curtimos Munchen ou Munique, dependendo do enfoque alemão ou francês. Queria degustar um chucrute, mas não fui compreendido, nem tão pouco a sobremesa torta de maças famosa Apple Pie. Pudera, esse prato é austríaco! Diz à lenda que o cozinheiro pôs ao forno maças fatiado, e, quando se deu conta de que havia se esquecido da massa, colocou-a sobre as maças até ficarem cosidas, ao servir a torta virou ao contrario no prato ficando as maças por cima da massa. Munchen foi arrasada pela II Grande Guerra Mundial, porém, reconstruída sem vestígios exceto as fotos afixadas nas portas das Igrejas bombardeadas.

Chegamos em Paris, ficamos no albergue muito confortável, bem localizado no Père-lachaise, apartamento individual com pia no quarto, porém o banheiro comunitário fica no hall de entrada dos apartamentos. Resolvemos jantar nas proximidades da Torre Eiffel, pois visualizamos muito próximo, assim caminhamos por longas avenidas sem chegar ao local desejado, por fim encontramos um restaurante árabe que embora já estivesse fechado, nos atenderam por gentileza. Voltamos de taxi quase meia-noite com as luzes publicas as escuras, lamentando ver a cidade luz apagada. É bem verdade que a cidade luz se refere ao iluminismo e não a luz elétrica, mas não deixa de ser um trocadilho.

Chegamos à Itália, percorremos toda a bota visitando inclusive Assis, Verona, Vesúvio, mas não chegamos a Napoli, porque estava venceu o nosso europass.

Voltamos a Madrid para o nosso voo de regresso ao Brasil.

Aprendemos nessa viagem que não devemos viajar muitos países em poucos dias, mas muitos dias em poucos ou único pais. Também aprendemos que uma boa viagem requer hospedagem confortável. Considerando nossa experiência, temos feito muitas viagens de curta duração; sempre que possível incrementada com cruzeiros; quer seja por mar ou por rio; pouca bagagem e muito dinheiro. Nada de compras souvenir, free shop, nem uso de cartão de crédito pela atual politica governamental brasileira.

Saudades do Brasil.

Chico Luz

CHICO LUZ
Enviado por CHICO LUZ em 27/04/2016
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