De Enfezado a Encabulado
Em São Luís, hospedamo-nos no centro histórico, bem próximo ao palácio do governo. Logo na manhã seguinte, fizemos um tour, a pé, com um guia local que, para cada ponto turística, fazia seu relato, naquele habitual blá-blá-blá, que nem todos lhe prestam atenção. Como sempre me interesso sobre assuntos do nosso idioma, fiquei curioso quando ele apontou o lugar que deu origem ao termo enfezado. Disse que ali os escravos conduziam tambores de fezes para serem jogados logo abaixo, no rio. Era o saneamento da época. Forçados pelos seus senhores para levarem o máximo possível, com os tambores transbordando pela tampa, os escravos voltavam cheios de fezes por todo o corpo, ou seja, enfezados. E, consequentemente, irritados e coléricos pela sujeição àquele serviço.
Mesmo com o foco principal no passeio aos lençóis maranhenses, antes fomos convencidos a conhecer também as fronhas maranhenses, pela sua semelhança, mas de menor área, com poucas dunas. Assim, a ida aos lençóis ficou para um domingo de carnaval. O ônibus que nos levaria até Barreirinhas teve um problema mecânico logo na saída, não conseguindo chegar nem à velocidade de 20 km/h. A troca por outro ônibus demorou tanto que já estava nos tornando “enfezados”. Entretanto, pelo aprendizado do dia anterior, preferimos dizer que estávamos “encabulados”. Já ameaçávamos desistir daquele transporte e fretarmos vans para dois ou três grupos, com pedido de ressarcimento pela agência turística responsável pela programação. Diante de tal ameaça, eis que chega um ônibus ainda mais confortável do que aquele que apresentou a pane. Apesar do atraso, já bem acomodados no novo ônibus, nós mesmos, numa espécie de conformismo, e, para amenizar o enfezamento, dizíamos: “não há mal que não traga um bem.” Desconforto mesmo só a partir da cidade de Barreirinhas, de onde se vai de Toyota até os famosos lençóis, num verdadeiro pula pula, numa trilha arenosa, que só cabe um carro. Não deixa der ser um turismo de aventura. Mas vale a pena deparar-se com uma maravilha da natureza. De tão lindo que é já apontam como favorito para concorrer a uma das sete maravilhas do mundo. Mais uma conquista para o nosso Brasil de tantas belezas naturais. Portanto, não precisamos ficar “enfezados” com os percalços do roteiro turístico. Quem não quiser enfrentar o pula pula das Toyotas pode também ir de helicóptero, desde que não fique encabulado com o peso no bolso.