Ilha do Amor
Saudades da Ilha do Amor (São Luís)! Nostálgicas lembranças da capital do Maranhão, fundada por franceses, colonizada pelos portugueses e cobiçada pelos holandeses.
“Terra Morena” de Gonçalves Dias, Aluízio de Azevedo, Manoel Beckman, Josué Montello, Ferreira Gullar, João do Valle, Zeca Baleiro, Alcione, Maria Aragão, Ana Jansen, Carlos Nina, Nina Rodrigues... Terra do arroz de cuxá, do tambor de crioula, do Cacuriá de Dona Tetê, do Boizinho Barrica, da jussara com camarão, do guaraná Jesus, das ruas estreitas de nomes curiosos (Rua do Sol, Beco da Bosta, Praça da Alegria...), casarões antigos, cidade dos azulejos, cidade dos bem-te-vis, tão bem retratada na música Ilha encantada de Zé Pereira Godão: “São Luís, minha ilha encantada namorada das noites de luar navegante amor, vem meu beija-flor/mãe guerreira, amante das ondas do mar...”; e de tantas outras personalidades renomadas.
Ah, quem dera estivesse lá agora e encontrasse os poetas no Reviver... Rever o amigo ancião de barbas e cabelos inteiramente alvos, sandálias franciscanas, camisa de mangas compridas, branca, por fora da calça folgada, da mesma cor - o velho poeta Nauro Machado, um amado artista ludovicense. Encontrei-o uma vez apoiado em sua bengala, encostado em uma das pedras de cantaria da Praia Grande, quando o reconheci não me segurei e lhe dei um abraço.
A primeira vez que estive em São Luís, esta bela e afável cidade, foi em meados do ano de 1999. Recordo-me de como meu coração de 16 anos se sentiu quando atravessei a ponte São Francisco e avistei, com os olhos atentos, o Centro Histórico. Foi algo difícil de descrever e que só tempos depois entendi na letra do Hino da cidade, intitulado “Louvação de São Luís”, de autoria de Bandeira Tribuzi: “Quero ler nas ruas: fontes, cantarias, torres e mirantes, igrejas, sobrados nas lentas ladeiras que sobem angústias sonhos do futuro glórias do passado”.
Intitulada de Atenas Brasileira, São Luís despertou em mim uma irresistível inveja. Olhar aqueles prédios conservados, suas fachadas multicoloridas, o cheiro boêmio da vida, a luz dourada do crepúsculo nas calçadas e paralelepípedos das ladeiras... era uma mistura de exaltação e angústia. Ao mesmo tempo em que me encantava com os seus laços de fita estendidos como um tapete por onde eu passava, doía-me lembrar de Parnaíba, talvez a mesma dor de Carlos Drummond de Andrade em sua “Confidência de Itabirano”: Itabira é apenas uma fotografia na parede.Mas como dói!
São Luís é uma resposta convincente pra quem diz que ninguém se interessa por prédios históricos! É uma prova viva de que conservar cada azulejo vale à pena. De que zelar cuidadosamente de sua cultura é uma questão de sobrevivência. Andar pelo Reviver é como atravessar um portal do tempo... lendo “Os Tambores de São Luís” (autor: Josué Montello) a gente consegue ouvir até os ruídos dos cascos dos cavalos sobre as pedras da Rua da Estrela.
Depois de apreciar o pôr-do-sol na escadaria do João do Vale, recuperei o fôlego na lanchonete do francês (experimentando o croissant... e o brioche...). Para alimentar o espírito, visitei o Poeme-se – um sebo onde funciona um ciber e uma livraria -, e a Casa do Maranhão, onde os artistas moram e criam suas obras.
Na parte nova da cidade, não deixei de ir à Litorânea. Aproveitei tudo o que tem lá, especialmente a comida. O caranguejo ainda é maranhense, ao contrário do Ceará, que há muito só consome o do Delta...
De qualquer forma, sei que fui encantado (sou ludovicense de coração) por uma terra que seduziu inúmeros piauienses, como César Nascimento que em versos resume bem o que o sinto: “Eu jamais te esquecerei São Luís do Maranhão” (trecho da música Ilha Magnética, de César Nascimento).