Impressões de um ex-Beduíno: São João dos Mellos (Jardim das Esculturas) e outros da 4ª colônia de Imigração Italiana.
Há muito queria conhecer o enigmático Jardim das Esculturas, que um ex-agricultor criou no interior de Nova Palma, na 4ª colônia de Imigração Italiana, região centro do RS. Então chegou o dia e se fomos, meio a rumo. Experiência bastante nostálgica admito, no caminho vou passando por vários locais já visitados e remoendo lembranças. Pois na infância era levado por minha família, para acampar em Três Barras, que minha mãe e tias, chamavam de “Três Canhas”, isso graças aos porres homéricos protagonizados por eu pai e meu tio. Só depois de homem feito que fui saber que o balneário se chama Ouro Verde. E o lugar é bem simpático, no distrito de Arroio Grande (Santa Maria/RS), lugar bem gramado, com campo de futebol, quadra de vôlei de areia, e agora até piscina tem, além é claro de local para banho, um córrego repleto de pedras, de água geladíssima, que vem dos morros em volta, e cruza o balneário. Tenho muitas lembranças desse lugar, das férias de criança, aos acampamentos com amigos na adolescência, um acampamento hippie pra lá de “trash” na época de faculdade, e por último, um acampamento frustrado com a patroa, onde fizemos um baita “rancho”, pra passar três dias, levamos até o cachorro. A comida acabou em uma tarde, o cachorro latiu a noite inteira, não deixando ninguém dormir, e ainda tranquei o carro com a chave dentro, depois dessa demos um tempo pras “Três Canhas”. Mais a frente o Balneário Baggio, com estrutura bem melhor (ao meu ver), um bom restaurante, também possui local para banho e jogo de futebol, parece que agora se chama Solar do Roio, ou algum nome estranho assim. Seguindo em frente, tem a cascata do Mezzomo, um dos primeiros lugares que lembro ter levado minha mulher, ainda na época de namorados. Lugar bonito, pra quem gosta de cascatas e verde em abundancia, bom lugar para passear no verão, e de quebra se der sorte ainda pode ter o privilégio de conhecer o dono do lugar, o tal Mezzomo, um descendente de Italiano, alto e gordo, que é uma figura rara, até por essas bandas. Ainda pode comer um pastel e uma coca-cola, ou tomar um copo de cachaça com ele, se preferir, certa vez ofereceu, quando eu e um amigo fomos conhecer o local, nos passou um caneco amassado, dizendo que a cachaça era da boa, e mesmo com uma mosca boiando dentro, não recusamos. Seguindo a Subida por Silveira Martins, com uma bela praça, de casas antigas estilo italiano acredito, um bom lugar para se passear, e dizem que tem um restaurante muito bom o Tal Val de Buiua, que ainda não tive o prazer de experimentar. Passando por Silveira Martins da pra ir pra Vale Vêneto, onde lá por julho ocorre a Semana Cultural Italiana e o Festival Internacional de Inverno, com muita gastronomia típica, e o festival de musica, onde corais de vários tipos, se apresentam na bela igreja da localidade, além do que o lugar é muito acolhedor, com suas casinhas coloridas. Visitar Vale Vêneto nessa época é uma experiencia deveras aprazível. Continuamos até Nova Palma, onde também há um balneário, que pra muitos é o melhor da região, com boa infraestrutura, um rio bastante caudaloso, Rio Soturno, com uns 100 metros de largura que desce da encosta, proporcionando um ótimo banho de rio, e de sol na pranchada de concreto para quem gosta. Nova Palma é famosa na região, por seu carnaval, que reúne foliões de varias cidades vizinhas, assim como as outras cidades da 4ª colônia, pois, cada noite do carnaval se passa em uma das cidades. Passando o balneário pegamos a estrada de terra, e começa a trilha, uma trilha mesmo, quase um rally, uns 10 km de subida, em estradas de chão batido, muita brita e poeira, até chegar ao tal São João dos Mellos. Um lugarejo, no meio do nada, e anda mais um tanto, para chegar no Jardim das Esculturas, no caminho vamos passando por algumas grande esculturas de pedra em frente as propriedades vizinhas. Dizem que o artista presenteou seus vizinhos com tais obras, sendo que em frente a uma propriedade existe um gaiteiro, em outra um cavalo, e assim por diante, coisa que realmente encanta no meio de local tão isolado. Enfim chegamos ao tal Jardim, todo murado, com um letreiro grande feito de pedra. Ao longe dá pra ver porque se chamar jardim, pois, esta repleto de esculturas das mais variadas, a grande maioria inspirada no budismo, existe até uma figura enorme, com mais de 10 metros de altura, como se fosse um buda. Outras tantas esculturas são de animais, e outras figuras humanas em posição de yoga, realmente algo de encher os olhos, pela sensibilidade e perfeição do artista. Um lugar para encher a alma. Passamos ali uma tarde, andando pelo gramado, captando aquela atmosfera e tirando um monte de fotos é claro. A entrada no local é R$ 5,00 por pessoa, e fomos muito bem recepcionados pela dona da casa, que disse que seu marido Rogério Bertoldo o grande autor de tudo aquilo, estava no galpão trabalhando, mas não quisemos incomodá-lo. Na descida ainda recomendo dar uma passadinha na entrada de Agudo, no Produtos coloniais da Terra, é tipo uma lancheria, armazém, padaria e café colonial tudo misturado. Com várias iguarias como cucas, copas, salame, bolos, biscoitos, uma infinidade de itens, e para mim o melhor de tudo é comer um farto pedaço de bolo, com suco de morango natural (saborosíssimo), por apenas R$ 5,00 (cinco reais). No inverno diz que tem café colonial,que com certeza deve valer muito a pena conferir. Realmente a 4ª colônia é um lugar muito bonito, cheio de lugares incríveis para se visitar, e um ótimo exemplo do que pessoas simples, com boa vontade e trabalho, são capazes.