EXPEDIÇÃO PERU - DE LIMA A MACHU PICCHU DE CARRO

(de Cuzco – Peru) Quando for viajar para um lugar desconhecido, nunca acredite que tudo que você lê na internet é verdade; por mais que faça garimpo de dicas, haverá sempre algum ponto não muito bem explicado e que o fará passar apertado. Este foi o meu caso quando aceitei fazer a Expedição Panamericana pelo Peru!

Alimentei todos os meus apontamentos com pesquisas para que minha chegada em Lima; e missão de chegar a Machu Picchu fosse a menos dolente possível, mas o inacreditável ocorreu e neste caso, tive que administrar a situação com requintes de frieza; e um pouco de minha experiência por muitas estradas e muitos países.

A minha primeira batalha foi harmonizar datas e horários dos voos da TAM. Eu tinha que sair de Belo Horizonte e meu irmão de Salvador; acabamos optando por um voo extra da Bahia a Minas Gerais e saímos os dois de Belo Horizonte para Guarulhos; e de lá um voo miserável de ruim num Airbus A-320 desconfortável e barulhento, por 06 horas até Lima. Chegamos em Lima ao meio dia e do lado de fora do Aeroporto Jorge Chávez, centenas de taxistas disputam a sua paciência. Por 50 Solis, ou algo perto de 45 Reais, eles te levam a qualquer canto da megalópole de cerca de 10 milhões de habitantes.

Cansados e maltratados pelo voo da TAM, fomos direto para o Hotel Bohemia no bairro de Barranco. Um bairro tranquilo, vizinho de Miraflores, que não oferece muito conforto ao turista. O hotel que escolhi através do Booking, fica açulando pequenos erros da reserva para lhe tirar uns Solis a mais. Na reserva errônea foi solicitado um quarto de casal, mas na verdade eram duas camas de solteiro; resultado final: mais uns 20 dolares pela troca. Quando chegar em Lima, atenção: NADA DE HOTEL BOHEMIA EM BARRANCO!

Lima é uma cidade que não chove há décadas. Há uma incrível sensação de que haverá chuva o dia inteiro, mas a água não cai nem por decreto. Do aeroporto ao hotel, passamos pela avenida Costeira, que fica abaixo da cidade; e para minha curiosidade, muitas placas indicam risco de tsunami, mas o taxista me disse que foi uma coisa do Governo para gastar com placas; e que deveríamos mesmo era ter medo de terremotos!

No dia seguinte, lá vamos nós a LOCALIZA RENT A CAR; a mesma do Brasil é a única que aluga carros com Km livre. A loja fica no famoso bairro de Miraflores; e as pessoas que trabalham lá não nos atende muito bem. São calados e insistem em não querer entender o espanhol falado no restante do mundo. Reservei um carro e este não havia disponibilidade; eles providenciaram um Kia Optma 2.0 automático para substituí-lo, mas como sempre, com alguns dólares a mais; depois vem a velha história do bloqueio da garantia; e acredite, a Localiza faz de tudo pra lhe tirar mais dinheiro. Primeiro eles falam que o bloqueio do carro é de U$ 1.700 dólares, mas por mais U$ 5,00 por dia na locação, este bloqueio cai para U$ 700,00. Isso tudo, porque alguns cartões não possuem limite alto, mas não foi o caso do velho Amex.

Nossa viagem começaria no dia seguinte de Lima até Nazca. Tínhamos que chegar às Linhas de Nazca e completar nosso primeiro marco sinalizador. De um ponto ao outro são 487 km por meio de um deserto de areia que é banhado pelo Oceano Pacífico. Até San Vicente de Cañete a pista é dupla e bem sinalizada, mas os ventos fortes e a areia saindo das dunas para a praia impedem que avencemos mais do que 120 km por hora. Logo a seguir chegamos a Chincha Alta, cidade desértica que fora arrasada por um terremoto e que produz uvas de excelente qualidade para fabricação de excelentes vinhos.

Quando chegamos a Chincha Alta começamos a subir em direção ao altiplano do deserto; um maciço de areias e montanhas que nos revela a presença da Cordilheira dos Andes. O sol forte não impede que o ar gelado dos Andes nos obrigue a vestir roupas mais pesadas. Eu apareço em algumas fotos com camiseta, mas estive o tempo inteiro abrigado por uma calça militar e um lenço árabe para proteger meu pescoço do frio. A nossa frente Pisco; uma cidade grande e desorganizada, com trânsito ruim e poucas opções de restaurante.

Deixamos Pisco e continuamos a subir o deserto; desta vez a areia deu lugar as pedras e assim foi até Ica e depois Palpa. Em Palpa iniciamos a subida leve dos Andes e finalmente chegamos às famosas Linhas de Nazca. Para os turistas é bom anotar: ver as linhas da terra não dá. O melhor mesmo é alugar um monomotor que custa U$ 100,00 e um passeio de uma espécie de buggy coletivo que custa U$ 50,00 para conhecer as ruínas de Nazca.

Chegamos a Nazca, cidade, por volta das 6 da tarde e nosso hotel, o La Encantada, foi outro que decepcionou. Na reserva havia café da manhã, mas na verdade não há. Estacionamento também há na reserva do Booking, mas o que eles chama de “cochera”, fica há um quarteirão do hotel. A diária foi de 70 Solis e o apartamento que eles prometerem internet, até hoje eu procuro...!

Agora estávamos diante de outro desafio. Subir mais alto nos Andes para atravessá-lo num dos pontos mais altos da região. De Nazca a Puquio (Ayacucho), nosso próximo destino, são mais 168 km; distância pouca, mas desafio grande. Começamos a subir os Andes e a nossa frente, às maiores e mais admiráveis curvas do mundo. Disputamos espaço com alguns caminhões carregados e raramente vimos carros de pequeno porte; éramos nós os únicos ingênuos aventureiros que arriscamos nossas vidas para chegar naquele lugar.

No meio do caminho havia uma reserva chamada Pampa Galeras; e foi nesta reserva a 5.720 metros de altura que fomos surpreendidos por uma nevasca. A estrada estava começando a ficar boa. Havíamos subido por mais de 3 horas a montanha por curvas e despenhadeiros magníficos, quando de repente o tempo fechou e a neve começou a cair forte. Para nossa sorte, alguns caminhões passaram a nossa frente e limparam a estrada do gelo. Conseguimos passar pela trilha dos caminhões e depois de mais de uma hora na neve, deixamos o gelo pra trás.

Iniciamos a descida até Puquio pela face verde dos Andes. O deserto havia ficado pra trás e agora víamos só verde e baixadas abissais. Saímos de Nazca às 8 da manhã e só conseguimos chegar, esfomeados a Puquio, por volta do meio dia. Quem se arriscar a visitar Puquio deve saber: não há hotéis e os restaurantes só servem Truta frita com batatas cozidas e arroz de segunda, sem qualquer tempero!

Puquio foi nosso segundo Marco Sinalizador. Foram quase dois dias para percorrer menos de 700 km de estradas lindas e mortais. O terceiro Marco Sinalizador deveria ser posto em Abancay; e quando eu vi no mapa que eram 277 km, fiquei satisfeito; mas era cedo para comemorar. Um senhor nos disse que Abancay estava a 7 horas de Puquio. Confesso ter crido que fosse um engano daquele senhor, mas o pior é que ele estava certo! Mais uma vez as dificuldades foram às montanhas íngremes e as estradas sinuosas. Muita chuva neste trecho e alguns caminhões pesados dificultaram nosso avanço. Chegamos a Abancay por volta das 8 da noite e nosso quarto Marco Sinalizador estava sobre nossas cabeças: Cuzco!

Abancay é uma cidade peruana, capital do departamento de Apurímac e da província de mesmo nome. Tem cerca de 55 mil habitantes. Está situada no centro-sul do Peru, às margens do rio Mariño, afluente do Pachachaca, a 2.378 m de altura. As fontes de recursos da cidade estão nos serviços e na agricultura que em geral cultiva cana-de-açúcar, frutas, cereais, hortaliças, alfafa, anis e batatas. A carne mais procurada nesta cidade é a de lhamas e alpacas.

Rumo a Cuzco, outra vez a surpresa: 192 km montanha acima pra finalmente chegarmos a metade de nossa missão. Eu presumi 3 horas de trajeto, mas os mais experientes me disseram 5 horas e não deu outra. Em alguns trechos com mais de 500 metros de altura e estrada estreita, não passamos de 30 km/h e quando o GPS nos informou que estávamos em Cuzco, notamos que gastamos 5 horas de subida; e oficialmente estávamos a 3.400 metros de altura; havíamos chegado a capital dos Incas; uma cidade magnífica que foi totalmente destruída e reconstruída pelos espanhóis que a conquistaram há cerca de 500 anos.

Seu nome significa "umbigo", no idioma quíchua. Era o mais importante centro administrativo e cultural do Tahuantinsuyu, ou Império Inca. Lendas atribuem a fundação de Cusco ao Inca Manco Capac no século XI ou XII. As paredes de granito do palácio inca ainda estão lá, bem como monumentos como o Korikancha, ou Templo do Sol.

Depois do fim do império, em 1532, o conquistador espanhol Francisco Pizarro, invadiu e saqueou a cidade. A maioria dos edifícios incas foi arrasada pelos clérigos católicos com o duplo objetivo de destruir a civilização inca e construir com suas pedras e tijolos as novas igrejas cristãs e demais edifícios administrativos dos dominadores, desta forma impondo sua pretensa superioridade europeia.

A maioria dos edifícios construídos depois da conquista é de influência espanhola com uma mistura de arquitetura inca, inclusive a igreja de Santa Clara e San Blas. Frequentemente, são justapostos edifícios espanhóis sobre as volumosas paredes de pedra construídas pelos incas. De forma interessante, o grande terremoto de 1950, destruindo uma construção de padres dominicanos, expôs que esta fora erigida em cima do Templo do Sol, que curiosamente resistiu firmemente ao terremoto.

Nosso quarto Marco Sinalizador da expedição foi posto na Plaza de Armas antes da primeira hora da manhã e depois disso um dia inteiro livre para deliciarmos dos prazeres desta cidade magnífica. Ficamos hospedados no Hostal Casa de Campo num dos quartos mais altos; e a falta de ar começou a nos pregar outras peças, como por exemplo, sentirmos cansados após subir 4 ou 5 degraus de uma escada. O jeito foi beber muito chá de coca para nos adaptar a altitude e esperar mais um dia até chegarmos ao quinto Marco Sinalizador: Machu Picchu, a cidade perdida dos Incas!

No próximo texto todas as dicas, informações e notícias de Machu Picchu e do retorno até Lima. As alegrias, as decepções e um roteiro completo para quem deseja ir; e para aqueles que curtem ler as aventuras feitas por brasileiros em terras estranhas.

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

CHaMP Brasil
Enviado por CHaMP Brasil em 05/11/2012
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