Viagens de bike (Sonhando com o Maranhão – Parte V)
Cacau, sapoti, conversa boa, e o que restou de Banco Central...
Como todo brasileiro que se preze nós também só fechamos a porta depois de roubados... Na Terça-Feira, logo pela manhã, saímos para repor o tal farol que havíamos perdido em nossa chegada a Bahia, evitando assim maiores transtornos na viagem que faríamos a Gongogi e também no restante de nossas férias. A boa notícia foi que encontramos um farol com preço bem menor do que aquele que havíamos comprado na Decathlon, fato que nos surpreendeu agradavelmente, principalmente a mim, notório sovina que sou. Aproveitamos o passeio pelo centro comercial de Itabuna e compramos também uma mochila leve para levar e trazer algumas bugigangas em nossas saídas pelas cidades por onde passássemos e umas lembrancinhas que Eliana fez questão de adquirir para minha tia.
Assim que terminei de praticar o meu esporte favorito, (a arte da pechincha, claro!) convidei Eliana para tomar sorvete na mais tradicional sorveteria de Itabuna, a Danúbio Azul. Eliana, sem acreditar muito no que estava ouvindo, colocou a sua mão em minha testa, como se quisesse verificar se eu estava em pleno domínio de minha sanidade, e só após verificar que eu, o seu amado marido, não estava doente, entrou toda serelepe na sorveteria para se empanturrar com uns trinta tipos diferentes de sorvete antes que eu desse prá trás naquela gastança.
A essa altura do campeonato nós já estávamos saturados de Itabuna, e cumpria urgentemente de irmos atrás de outras plagas. Arrumamos cuidadosamente a nossa tralha, tomando o máximo cuidado para não esquecer nada, fizemos as despedidas da parentela e na manhã seguinte, uma Quarta-Feira, tomamos o rumo de Gongogi. Inicialmente nós havíamos planejado fazer o trajeto de Itabuna a Gongogi passando pela cidade de Itajuípe e pegando a estrada de terra que passa por Banco Central, mas, durante a nossa visita ao meu amigo Djalma, este nos alertou para a ocorrência de assaltos na região, e que seria uma loucura empreender tal jornada passando por Banco Central.
Com o aviso aterrorizante de Djalma bem gravado em nossas cabeças nós pegamos a BR-101 e seguimos em direção a Itajuípe, com plano inicial de seguir até Ubaitaba, dali até Ubatã e chegar até Gongogi evitando os perigos de estradas muito desertas. Esse propósito bem ordenado valeu até a nossa chegada ao Posto Santo Antônio, aonde paramos para tomar água de coco, repor as calorias gastas e descansar um pouco. Conversando com o balconista da lanchonete do posto, perguntei quantos quilômetros distava dali até Ubaitaba, dando a entender para quem estivesse ouvindo que iríamos até lá, após o que, pegamos nossas bikes e retomamos a viagem.
Foi só o tempo de chegar na entrada da estrada de terra para Banco Central e eu perguntar para Eliana: “-Vamos por aqui?”
Atravessamos a BR-101 e mergulhamos na fantástica estrada de terra que nos levaria até o sítio Ouro Verde, onde Ilmário, meu velho amigo e irmão de Djalma, estava morando.
Duas horas de pedalada, subidas e descidas prá ciclista babar de inveja, com direito a uma parada para descanso no tapete de folhas de uma plantação de cacau, Eliana pedalando no meio de uma boiada, (e foi o vaqueiro dessa boiada que nos deu informações precisas de onde ficava a propriedade de meus amigos) e nós adentrávamos o sítio Ouro Verde, para espanto de Ilmário e dos demais moradores de lá. Ilmário foi o primeiro a me reconhecer, pois, segundo ele, o único maluco que se aventuraria de bicicleta por aquelas bandas seria o seu amigo João Bosco, que por acaso é este que vos escreve...
Durante o período de pouco mais de duas horas que ficamos no Ouro Verde Eliana foi apresentada a um suco de jenipapo, comeu sapoti e, enquanto os trabalhadores secavam os frutos do cacaueiro na barcaça, ela devorava com sofreguidão dois frutos maduros de cacau, não sem antes eu lhe prevenir para não comer as sementes dos mesmos...
Conversa vai, conversa vem, houve até tempo para reviver histórias de nossa adolescência, com Itamar, (outro dos irmãos de Djalma) entre um e outro gole de licor de jenipapo, cantando velhas canções e rindo muito com as lembranças das versões que ele fazia das mesmas. Precavidamente, nós recusamos o licor, pois pedalar e álcool não combinam muito, mas aceitamos a enorme braçada de sapoti e o fruto do cacau que Eliana trouxe de souvenir para seu neto predileto, (que ninguém leia isso...) o Bruno.
Se a nossa matula já era imensa ficou um pouco maior ao sairmos do sítio Ouro Verde e retomarmos a estradinha de terra que nos levaria até Gongogi.
Dez minutos de pedalada e nós estávamos em Banco Central, hoje uma povoação modorrenta que em nada lembra a esfuziante localidade produtora de milhares de arroubas de cacau nos faustosos e distantes anos sessenta do século passado. O desfile de casinhas vergastadas pelo Tempo foi ficando prá trás e nós seguimos para Gongogi, evitando os muito buracos da estrada, que agora já não apresentava boa conservação.
Passamos pelo povoado da Laje do Banco, tão pequenino que é muito difícil localizá-lo na maioria dos mapas, (mas dono de um por do sol indescritível) já perto das quatro horas da tarde e, oitenta e quatro quilômetros orgulhosamente vencidos, minha mulher e eu, eufóricos pela façanha realizada, paramos nas grades de proteção da ponte para saborear o ar doce e revigorante que subia das águas do rio Gongogi.