Do alto da montanha nós avistamos Gonçalves...

Depois daquela aventura que nós fizemos, (aquela mesmo, a famosa dos Tombos e Calombos) pegamos de novo a estrada e lá fomos nós para Gonçalves, o charmoso point do Sul de Minas. Arrumamos as nossas tralhas e pusemos pé na estrada, aproveitando o feriado do Dia Internacional do Trabalho. Para tornar melhor o nosso trajeto uma leve garoa nos comboiou por toda estrada velha de Campos do Jordão, tornando ainda mais gostosa a nossa viagem. O início da jornada, já nosso caminho da roça de tantas outras peraltagens, foi-se desenrolando diante de nós como o novelo de Teseu: Buquirinha, Bairro dos Freitas, Costinha, Monteiro Lobato, até que veio a primeira grande barreira – a temida Serra de São Benedito. Ainda bem que antes de enfrenta-la nós nos reabastecemos de água no Bar do Nelson, situado estrategicamente no pé da serra. Caras lavadas e garrafas cheias de água, nos pusemos em marcha, Tiago, Eliana e eu, deixando o Nelson coçando os raros cabelos de sua cabeça, tal a pouca crença que punha no nosso intento. Minha avó, de farta sabedoria matuta, sempre dizia que o Diabo (claro que ela se benzia umas trezentas vezes ao pronunciar o impronunciável...) não é tão feio como o pintam – e assim nos pareceu a famigerada Serra de São Benedito. Subimos a dita cuja (sete estafantes quilômetros de subida) e, no final dela, já ao entardecer, fomos premiados com uma deslumbrante vista da Pedra do Baú, toda ela envolvida na neblina formada pela insistente chuva que nos acompanhava. Maravilhados, começamos a descer vertiginosamente a ladeira que nos levaria até a fronteira de Minas Gerais, já com a noite chegada. Prá nossa sorte, os novos faróis que havíamos comprado para nossas bikes nos conduziram em segurança até o primeiro quiosque que encontramos aberto e que vendesse algo mais que os costumeiros salgadinhos de praxe.

Depois de bem abastecidos com uma enorme jarra de garapa de cana com limão pedalamos mais uns três quilômetros e chegamos a Sapucahy Mirim, aonde bivacamos até a manhã seguinte numa pousada bem simples.

Acordamos logo pela manhã, tomamos nosso desjejum e pegamos a rodovia para São Bento do Sapucahy, nossa próxima parada.

Depois de fotografarmos os belos casarões de São Bento e descansarmos um pouco comendo amendoim salgado e frutas na pracinha continuamos a nossa viagem. Logo chegamos ao entroncamento que leva até a cidade de Gonçalves... e foi ali que resolvi perguntar a Eliana se ela já havia estado na cidade.

A senha para resolvermos empreender a sandice de escalar a montanha que leva até a cidade de Gonçalves foi a linda cabecinha de Eliana balançando de um lado para o outro dizendo "Não".

Bem... ...Claro que mais uma montanha de "Nãos" ela foi dizendo durante a subida: "Não acredito"; "Ainda não terminou?"; "Nãaaooo".

E essa toada se prolongou até que, duas intermináveis horas depois (não antes de vários rebates falsos a cada curva da montanha) nós chegávamos ao portal de Gonçalves. Aí então eu banquei o mestre de cerimônias e anunciei a minha esbaforida troupe: " Do alto dessa montanha eu vos apresento Gonçalves...)

E tratei de despencar ladeira abaixo em busca da protetora cobertura de um bom restaurante antes que Eliana me trucidasse. (faminta como ela estava até um sertanejo juramentado, a la carte, como eu, serviria)

Cidade dos sonhos, manhã da terceira Segunda Feira de Junho, já quase final de Outono de 2012.

João Bosco

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 18/06/2012
Reeditado em 18/06/2012
Código do texto: T3730651
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