VIAGEM À TURQUIA
Para mim, a Turquia era um país que passava relativamente despercebido. Localizada na Anatólia (a região peninsular onde a Turquia se encontra), nunca reparei no grande número de civilizações que ali se cruzaram. Coração de três Impérios: o Hitita (há 3000 anos), do Império de Bizâncio (entre o século V e 1453), e o Império Otomano (desde 1453 até 1918).
Até que em Outubro 2010 aconselhada por meu companheiro fui conhecer este País tão repleto de histórias, segredos e belezas.
O ponto de partida foi Istambul, a antiga Constantinopla, que foi muito tempo capital dos impérios Otomano, Bizantino e Romano. São 14 milhões de pessoas e milhares de anos de História onde se cruzam o Bósforo, a Europa e a Ásia.
A Turquia é um país muçulmano, mas sem exageros. O grande fundador da Republica, Mustafa Kemal Ataturk (observa-se por todo o país uma veneração por este homem que nasceu em 1881) e ocidentalizou o país, mudando os costumes e hábitos culturais e religiosos: as mulheres vestem-se à ocidental, as mesquitas não são paragem obrigatória cinco vezes por dia, e a bebida nacional, o Raki é uma bebida à base de anis.
Istambul, a única cidade entre dois continentes, é uma grande encruzilhada de culturas, e se vê isto claramente através da visita à igreja/mesquita mais conhecida do Mundo, Santa Sofia; a igreja original é do Século IV, mas foi reconstruída pelo Imperador Romano Justiniano, em 530 d.C. A dimensão da construção é monumental e tendo em consideração a sua idade, ainda é uma das maiores do mundo!
Na frente da Igreja de Santa Sofia, encontra-se a Mesquita Azul, construída pelo sultão Ahmet em 1606 para ser maior e mais bonita que a primeira, num claro simbolismo das tensões entre as duas Religiões que havia tanto se defrontavam e bem à frente encontra-se a frase: "Alá é o único Deus e Maomé o seu Profeta".
Dentro da Mesquita Azul podem rezar mais de 10.000 pessoas ao mesmo tempo! Esta mesquita é a única no Mundo com seis minaretes (o minarete é - ou era, porque agora existem altofalantes - o local de onde o sacerdote chama os crentes para rezar). Ao que parece, o Sultão queria construir minaretes de Ouro (!), mas o arquiteto resolveu a questão construindo seis minaretes (porque a palavra seis é semelhante à palavra Ouro, em Árabe). Curiosamente, entre a Mesquita Azul e Santa Sofia, há um local ainda hoje conhecido como Hipódromo (antigo hipódromo romano, onde foi colocado um fragmento - 20 metros dos 60 metros originais! - de o que foi um enorme obelisco Egípcio, vindo de Karnak, nos típicos assaltos históricos de antigamente. Visitamos também os bairros do Corno de Ouro, bairro Eyup (famoso pela mesquita e mausoléu de Eyup e Museu Kariye (Igreja São Salvador de Chora).
Também outro ponto turístico que não se pode deixar de visitar é o Palácio de Topkapi, antigo centro do Império Otomano por quase 400 anos,
Mas se os Monumentos representam o Passado, o Presente está cheio de vida nas avenidas, ruas e ruelas de Istambul, onde regatear é quase uma exigência, os mercados de especiarias, tapetes, chás e afins estão repletos de turcos e turistas! O Mercado Egípcio e o Grande Bazar ao que parece um dos maiores do mundo, com mais de 3000 lojas, um labirinto onde é bastante fácil se perder.
O segundo ponto de visita foi Ankara. A capital da Republica é uma cidade menor que Istambul, mesmo assim é cerca do dobro de Lisboa. Sem grandes atrações, a cidade orbita à volta do túmulo de Ataturk (fundador da república turca em 1923).
Ataturk foi responsável por muitos feitos: separar o Estado da Religião; adotar o alfabeto latino; o uso do calendário Gregoriano (antes era usado o calendário Árabe, que se baseia na Lua e tem menos onze dias que o nosso); deu direito de voto e de eleição às mulheres e introduziu a monogamia.
De fato, estas alterações permitiram à Turquia tornar-se num país moderno, sem o peso medieval das tradições passadas, que ainda se verificam em muitos dos países Árabes. Outro legado deixado por este homem foi a transformação de um império Otomano agressivo para uma nação razoavelmente pacífica.
Destacamos nesta cidade o Museu das Civilizações Anatólicas, que expõe com grande rigor histórico vestígios das civilizações da Antiguidade: Hititas, Assírios e Frigios.
Nos caminhos menos civilizados da Turquia, encontra-se um misto de História e Natureza que torna esta região bastante aliciante para se conhecer.
Conhecemos o quarto maior lago salgado do Mundo (que se encontra no centro da Turquia); no Verão é praticamente 100% sal! É uma experiência invulgar caminhar por cima deste lago.
Chegamos à Capadócia, uma região fantástica e com paisagem quase sobrenatural, cuja origem deve-se a dois vulcões, que ao expelirem a sua lava e cinzas formaram o “tufo”; e à erosão causada pelos ventos e chuvas, que ao longo de milhares de anos, esculpiram “formações misteriosas”, onde os antigos habitantes construíram cidades subterrâneas que pudemos apreciar através de um belo e inesquecível “Passeio de Balão” a 1.000 metros de altitude. Destaque também para o Vale do Göreme, com suas igrejas dos séc. X e XI e aldeia troglodita de Uchisar.
Partimos adiante para conhecermos Konya, capital do império Seldjucida – onde visitamos o Museu de Mevlana- islâmico fundador da Ordem Mevlevi e chegamos à Pammukale, (traduzido quer dizer “Castelo de Algodão”), uma obra da natureza, onde se pode ver que as nascentes de águas quentes e calcárias criaram piscinas naturais, que serviam de termas (lá podemos andar descalços e desfrutar de suas águas quentes), uma paisagem inesquecível.
Próximo à Pammukale visitamos as ruínas da necrópole de Hierápolis (famosa por sua riqueza artística dos túmulos e sarcófagos), no entanto os vestígios arqueológicos mais espetaculares encontram-se em Éfeso, um importante porto da Antiguidade que chegou a albergar 200.000 pessoas, cidade dedicada à Deusa Artemisa. Hoje em dia, o mar encontra-se a mais de 8 km de distância. Seus principais destaques são: O Teatro e Templo de Adriano com capacidade para 24.000 pessoas e a Biblioteca de Celso (em suas pétreas paredes vemos esculpidas em alto relevo as quatro qualidades: a sabedoria, a virtude, a inteligência e o conhecimento).
E não poderíamos deixar de conhecer Izmir, para visitar a Casa da Virgem Maria, convertida numa pequena capela, hoje lugar de peregrinação para os cristãos e sagrado para os turcos, pois acredita-se que ali viveu Nossa senhora os seus últimos anos de vida.
Em Pérgamo visitamos a Acrópole e Esculápio, primeiro santuário da Medicina Mental, passamos também em Tróia visitando suas ruínas e uma réplica de madeira do célebre cavalo.
Terminada a viagem, começou a minha fase das memórias. Estas foram algumas das impressões e imagens que recolhi nesta viagem. Aconselho vivamente a fazerem uma excursão planejada à Turquia e não a se aventurarem sozinhos pelo país. O país é bastante grande e se nas cidades é fácil encontrar quem fale uma língua ocidental, o mesmo não se passa no interior.