Quais valores importam pra você?


 

Em tempos de incerteza, polarização e disputas narrativas, torna-se urgente revisitar uma pergunta essencial: quais são os valores que deveriam guiar uma sociedade justa, humana e civilizada?Liberdade? Segurança? Saúde? Educação? Paz? Poder financeiro? Político?

 

Vivemos como se todos esses princípios pudessem coexistir em equilíbrio. Mas a realidade revela que, na prática, há escolhas — e essas escolhas dizem muito sobre o estágio de consciência coletiva de uma nação.

 

A saúde e a segurança formam o alicerce da existência. Sem elas, a vida se torna vulnerável, marcada pelo medo, pela dor e pela ausência de dignidade. A paz, tanto interior quanto social, é o que permite o florescimento da convivência e da esperança. A educação, por sua vez, é a chave que liberta, que ilumina, que forma o cidadão consciente — aquele capaz de compreender e defender os demais direitos. A liberdade, embora frequentemente exaltada nos discursos políticos, só tem sentido onde há estrutura, equidade e justiça. Já o poder financeiro e o político, quando concentrados, tendem a trair o bem comum — servindo mais à manutenção de privilégios do que à construção de sociedades justas.

 

No Brasil, há uma romantização da liberdade como direito pleno, mas ao mesmo tempo uma negligência gritante quanto ao acesso real à saúde, à segurança e à educação pública de qualidade. A maioria da população não possui um plano de saúde digno e depende integralmente do SUS — que, apesar das falhas estruturais e do descaso histórico, é uma das maiores conquistas do povo brasileiro. Nas filas do SUS, está a esperança dos que não têm alternativa — e, muitas vezes, a salvação de vidas invisibilizadas pelo sistema.

 

Na educação, outra distorção se impõe: filhos da classe média alta frequentam escolas particulares de excelência, mas ocupam, com vantagem competitiva, as vagas nas universidades públicas, criadas originalmente para promover inclusão. Enquanto isso, milhões de jovens oriundos da escola pública enfrentam uma competição injusta, marcada por desigualdades históricas de acesso e qualidade. Fala-se em meritocracia, mas ignora-se o ponto de partida de cada um.

 

Já os Estados Unidos, historicamente tratados como modelo de democracia, hoje vivem uma crise institucional sem precedentes. Nas últimas eleições, viu-se um país dividido, onde práticas autoritárias caminham lado a lado com discursos de liberdade. O governo eleito passou a perseguir universidades, funcionários públicos e até cidadãos comuns, alimentando ideias sobre um possível terceiro mandato presidencial, o que contraria o espírito da própria Constituição americana. Além disso, a saúde por lá é profundamente privatizada, e inexiste um sistema público universal como o SUS brasileiro. A democracia, mesmo em seu “berço”, revela fragilidades profundas quando os valores se distanciam da prática social.

 

Na China, por contraste, o discurso é outro: o coletivo vem antes do indivíduo. O Estado investe em estabilidade, segurança, educação e saúde — ainda que com controle rígido das liberdades. Pode-se criticar a ausência de pluralismo político, mas é inegável o esforço em garantir dignidade material a centenas de milhões de pessoas. Cada modelo possui suas luzes e sombras — mas é preciso reconhecer que liberdade sem base concreta é um conceito frágil, frequentemente manipulado por interesses que nada têm de libertadores.

 

E então, resta a pergunta: de que serve a liberdade num corpo doente? De que adianta o dinheiro sem paz? Como exercer democracia sem educação? E qual o valor real do poder, se não está a serviço da coletividade?

 

Talvez devêssemos reaprender a hierarquizar o essencial. E quem sabe reconhecer que, sem educação, sem saúde, sem segurança e sem compromisso social — nenhum valor se sustenta por muito tempo.

 

 

Texto de opinião por: Júlio César Fernandes

Autor de artigos reflexivos, poemas e crônicas no Recanto das Letras. Observador atento do cenário geopolítico e crítico da desigualdade social.

Julio Cesar Fernandes
Enviado por Julio Cesar Fernandes em 21/04/2025
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