Amor e Ódio nas redes sociais
Muito comum nas postagens das redes sociais aparecer "entendidos" dando opinião sobre o assunto postado, simplesmente por querer opinar, muito embora desconheça a pessoa, além de muitas vezes não ter domínio do conhecimento do tema apresentado. Algumas vezes até agrega coisas positivas ao tema debatido, mas, invariavelmente, do nada aparecem os detratores "desopilando o fígado" e manifestam todo seu ódio ao assunto, atacando quem o postou gratuitamente.
Entre elogios e ódios, qual se destaca mais nas postagens das redes sociais?
Essa é uma pergunta profunda — e talvez mais reveladora sobre a alma do tempo presente do que parece à primeira vista.
Nas redes sociais, tanto o elogio quanto o ódio são abundantes. Mas há uma diferença importante:
O elogio é efêmero, o ódio é retumbante.
Enquanto os elogios são muitas vezes superficiais, repetitivos, e socialmente esperados ("linda!", "arrasou", "top demais!"), o ódio vem carregado de intensidade emocional, raiva represada e desejo de ferir. Ele é performativo — quer ser visto, quer causar, quer ganhar a briga. E por isso, se destaca mais. É como um grito no meio de um coral: mesmo desafinado, chama atenção.
Algumas razões pelas quais o ódio se sobressai nas redes:
1 - O algoritmo amplifica o conflito. Plataformas priorizam engajamento, e nada engaja mais do que polêmica.
2 - O anonimato (ou a distância) empodera os agressores. Muitos dizem o que nunca teriam coragem de dizer cara a cara.
3 - Vivemos uma era de baixa tolerância à diferença. E isso transforma qualquer opinião em campo de batalha.
4 - As redes são palco. E no palco, os que gritam mais ganham mais plateia — ainda que seja para vaiá-los.
É claro que há espaços de troca genuína, de contribuição positiva, de construção coletiva. Mas eles são mais discretos, menos barulhentos. Como em qualquer sociedade, o equilíbrio entre civilidade e barbárie é frágil.
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Um "retrato" de situação similar para caracterizar o tema:
A Mulher da Foto do Café
Ela só queria compartilhar um momento. Um café com leite cremoso, servido numa xícara de porcelana antiga — presente da avó — sobre uma toalha de crochê feita à mão. A legenda dizia apenas: "Começando o dia com gratidão ☕️💛".
Tinha acordado cedo, arrumado a mesa com carinho, ajeitado o ângulo da luz para que o raio do sol pegasse de lado, como vira num vídeo sobre “fotografia espontânea”. Postou. Sorriu. Foi trabalhar.
Voltou no fim da tarde.
A publicação estava em chamas.
— “Gratidão por quê, fia? Pela desigualdade?”
— “Postar café com leite é cringe e cafona.”
— “Essa toalha é um símbolo do conservadorismo colonial.”
— “Gente rica é muito sem noção.”
— “Gente pobre querendo pagar de cult.”
Em poucas horas, ela passou de pessoa comum a representação ambulante de tudo que alguém odiava naquele dia. Seu rosto virou meme. Seus dedos tremiam. Apagou o post. Apagou o app. Passou a tomar café direto da caneca de plástico, escondida da janela.
Nunca mais postou nada.
E ninguém nunca mais soube quem ela era.
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By MAP Insight 16/04/2025